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Morre Frederik de Klerk, ex-presidente da África do Sul e ganhador do Nobel

Frederik De Klerk, ex-presidente da África do Sul e vencedor do Prêmio Nobel da Paz com Mandela - AFP
Frederik De Klerk, ex-presidente da África do Sul e vencedor do Prêmio Nobel da Paz com Mandela Imagem: AFP

Johannesburgo, África do Sul

11/11/2021 13h23

O último presidente branco da África do Sul, Frederik de Klerk, que libertou o ícone da luta contra o apartheid Nelson Mandela e compartilhou com ele o Prêmio Nobel da paz, morreu nesta quinta-feira (11) aos 85 anos, anunciou sua fundação.

"É com grande tristeza que a Fundação FW de Klerk anuncia a morte do ex-presidente FW de Klerk de forma tranquila em sua residência de Fresnaye esta manhã, depois de uma lutar contra o câncer", anunciou a organização em um comunicado.

"Deixa a esposa Elita, os filhos Jan e Susan, e os netos", completa o texto.

Em uma mensagem de vídeo póstuma, Frederick de Klerk, muitas vezes criticado por sua falta de remorso pelo apartheid, oferece um pedido de desculpas de "todo o coração".

"Peço desculpas, sem reservas, pela dor, sofrimento, indignidade e danos que o apartheid infligiu aos negros, mulatos e índios na África do Sul", declara no vídeo divulgado por sua fundação.

Afirma ainda que teria muitos comentários a fazer sobre o estado do país, mas que optou deliberadamente por uma mensagem curta. "Mesmo assim, sou frequentemente acusado por meus críticos de ter continuado de uma forma ou de outra a justificar o apartheid", diz, reconhecendo ter defendido essa forma de segregação durante sua juventude, então como parlamentar e até mesmo como ministro.

Frederik Willem (FW) de Klerk anunciou em março, no dia em que completou 85 anos, que sofria um câncer que afetava os tecidos ao redor dos pulmões.

FW de Klerk tinha uma reputação de conservador quando sucedeu, em 1989, o presidente PW Botha, debilitado por um infarto. Em 2 de fevereiro de 1990 ele anunciou o iminente final do domínio branco na África do Sul.

"Chegou a hora das negociações", declarou na abertura de uma sessão no Parlamento, quando anunciou a libertação incondicional de Nelson Mandela, que estava preso há 27 anos, e o fim da proibição dos partidos anti-apartheid.

Esta decisão iniciou o processo de transição que, quatro anos mais tarde, resultou na organização das primeiras eleições multirraciais na história do país, vencidas por Mandela.

- Evitar uma "catástrofe" -Os dois homens receberam de maneira conjunta o Prêmio Nobel em 1993 por "seus esforços para o fim pacífico do regime do apartheid e o estabelecimento de uma nova África do Sul democrática".

Vinte anos mais tarde, FW De Klerk afirmou que sua decisão permitiu evitar "uma catástrofe", tirou os brancos de seu "isolamento e sua culpa" e permitiu que os negros tivessem acesso à "dignidade e igualdade".

FW De Klerk acompanhou durante dois anos a jovem democracia e foi vice-presidente do primeiro chefe de Estado negro do país. Mas ele renunciou em 1996, ao criticar o fato de que a nova Constituição não garantia que os brancos pudessem continuar compartilhando o poder.

No ano seguinte, ele abandonou a presidência do Partido Nacional e se aposentou da vida política.

Nascido em 18 de março de 1936, De Klerk sempre atuou nos círculos nacionalistas afrikaners, descendentes dos primeiros colonos europeus que falavam uma língua derivada do holandês.

"Parecia a quintessência do homem do aparato (político branco) ... Nada em seu passado parecia indicar um espírito de reforma", escreveu Nelson Mandela em sua autobiografia.

Em 2020, De Klerk provocou grande polêmica ao negar que o apartheid foi um crime contra a humanidade, antes de pedir desculpas.