Deputada dos EUA confronta Paulo Figueiredo: 'É contra a ditadura militar?'

O economista e blogueiro Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho se negou a responder pergunta sobre a ditadura brasileira feita por deputada norte-americana durante audiência realizada no Congresso dos Estados Unidos. Eles discutiam a liberdade de expressão no Brasil.

O que aconteceu

Democrata questionou posicionamento de blogueiro. Sydney Kamlager-Dove, que representa o estado de Illinois, fez perguntas a Figueiredo sobre o seu envolvimento em uma suposta tentativa de golpe no dia 8 de janeiro de 2023 e, no fim, perguntou sobre a sua ligação com o período militar.

Figueiredo Filho é neto de João Figueiredo, último ditador do Brasil. Ele foi responsável por que governar o País entre 1979 e 1985. Morreu no Rio de Janeiro, em 24 de dezembro de 1999 com insuficiências renal e cardíaca.

É verdade que o senhor está atualmente sob investigação da Polícia Federal do Brasil por seu papel na tentativa de golpe de 8 de janeiro? É verdade que o relatório oficial da Polícia Federal fornece evidências de sua participação em um grupo criado para desacreditar o processo eleitoral e planejar a execução de um golpe de estado e abolir o Estado de Direito democrático. Sydney Kamlager-Dove em perguntas feitas a Paulo Figueiredo

O blogueiro se esquivou da resposta para as duas perguntas: "Não sei".

A congressista então fez uma terceira pergunta. "Você é contra a ditadura militar que governo o Brasil de 1978 a 1985?". Ele demonstrou nervosismo, e disse: "Isso não tem nada a ver". Sydney Kamlager-Dove o rebateu: "É minha audiência. Eu posso perguntar isso. Sim ou não?".

Blogueiro foi um dos alvos da Operação Tempus Veritatis da PF (Polícia Federal). A operação —deflagrada em fevereiro— investiga o planejamento de um golpe de Estado pela cúpula do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) após as eleições de 2022.

Figueiredo Filho teria atuado em suposta operação de "propagação de desinformação golpista e antidemocrática". É suspeito de integrar o núcleo responsável por incitar militares a aderir ao golpe de Estado, de acordo com relatório do STF (Supremo Tribunal Federal).

O governo do avô

O governo de Figueiredo foi marcado pela abertura política, iniciada pelo seu antecessor, Ernesto Geisel. Foi na gestão do ex-presidente, que era general do Exército, que foi extinto o bipartidarismo e promulgada a Lei da Anistia, que beneficiou perseguidos pelo regime e autoridades acusadas de torturas.

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João Baptista Figueiredo, último presidente do regime militar no Brasil
João Baptista Figueiredo, último presidente do regime militar no Brasil Imagem: Agência Nacional

A gestão de Figueiredo também foi marcada por atentados terroristas — como o do Riocentro, que ocorreu em abril de 1981. Militares insatisfeitos com a abertura política planejaram um ataque à bomba em um show no Rio, porém, o plano falhou e os explosivos mataram um sargento.

A repercussão e as tentativas dos militares de abafar o caso acabaram selando o fim da Ditadura, que terminou na eleição indireta do ex-presidente Tancredo Neves em 1985. Após deixar a Presidência, Figueiredo se retirou da vida pública e militar, morrendo em 1999, aos 81 anos.

Democrata critica audiência nos EUA

A congressista dos Estados Unidos Susan Wild, do partido Democrata, também fez críticas a audiência realizada para discutir um Brasil que ela não acredita ser.

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Com todo o respeito a todos os envolvidos nesta audiência, gostaria de afirmar desde já que está não é sobre a audiência do Brasil que eu acredito que deveríamos estar tendo hoje. A audiência que deveríamos estar tendo é aquela focada no bicentenário da relação bilateral entre os Estados Unidos e o Brasil, as duas maiores democracias no Hemisfério Ocidental. Susan Wild

Ditadura fake in Brazil

Comitiva de bolsonaristas viajou até os EUA no início de março. Eles passaram cerca de uma semana em Washington na tentativa de angariar apoio político. Queriam também convencer os políticos locais de que o Brasil não seria mais uma democracia. Essa audiência de hoje é o resultado da viagem dois meses atrás.

Eles defendem aprovação de lei americana para penalizar autoridades brasileiras. A justificativa seria o de violação dos direitos de conservadores. Outro pedido seria a imposição de sanções ao país sul-americano para que a suposta "ditadura de esquerda" seja derrotada.

Em nota à Agência Pública, em março, o deputado democrata James P. McGovern afirmou que os republicanos estariam "usando o Congresso dos Estados Unidos para apoiar os negacionistas eleitorais da extrema direita que tentaram dar um golpe no Brasil".

*Com informações do Estadão Conteúdo

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