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Honduras elege novo presidente em meio a temores de violência

28/11/2021 21h51

Tegucigalpa, 29 Nov 2021 (AFP) - Os hondurenhos foram às urnas neste domingo (28) em meio a temores de violência e apelos à calma pelos candidatos, em uma eleição com final incerto para suceder Juan Orlando Hernández, de direita, que termina seu mandato suspeito de envolvimento com o narcotráfico nos Estados Unidos.

Os temores de fraudes, algo que a oposição já denunciava nas eleições anteriores de 2017, e a morte de pelo menos 31 pessoas ligadas às eleições durante a campanha alimentam as tensões.

O dia começou com um apelo do presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Kelvin Aguirre, por eleições "em paz, tranquilidade, sem medo e sem violência".

Mais de cinco milhões de cidadãos foram chamados a votar. Aguirre garantiu que a participação foi "massiva" e sem inconvenientes, fato também destacado por observadores internacionais.

As urnas fecharam às 17h locais (20h de Brasília), com exceção de algumas seções que foram estendidas por mais uma hora para atender aos que estavam na fila. Os resultados começarão a ser divulgados cerca de três horas depois.

A candidata de esquerda Xiomara Castro, do partido de oposição Libre, é uma das favoritas, assim como Nasry Asfura, do governista Partido Nacional (PN, direita), atual prefeito de Tegucigalpa que se beneficiou de oportunas campanhas do governo de entrega de auxílios a famílias vulneráveis.

- "Nem uma gota de sangue" -"Desejamos que seja uma festa cívica, em paz, em tranquilidade", disse Castro, de 62 anos, após votar. "Vão tentar provocar o povo, entendemos que há desespero, especialmente daqueles que estiveram governando nesses 12 anos, mas o povo deve ter confiança", afirmou.

Antes de votar, o governista Asfura, de 63 anos, conhecido como "Papi a la Orden", prometeu respeitar os resultados.

"Devemos, como cavalheiros e como homens, aceitar as coisas, mas até que o último voto seja contado", declarou. "A paz e a tranquilidade não têm preço e ouçam-me bem: nem uma gota de sangue tem preço."

Depois de votar, o presidente Hernández manifestou seu apoio a Asfura, pediu calma e recomendou que quem o suceder mantenha "uma macroeconomia sólida" e não negligencie a segurança.

- Histórico de revoltas -"Se o PN ganhar as eleições, mesmo que legitimamente, haverá um nível de violência preocupante", disse à AFP o analista Raúl Pineda, advogado e ex-legislador do PN.

"Esperemos que não haja violência. Somos todos hondurenhos, irmãos independentemente de quem ganhe, somos todos hondurenhos e temos que nos respeitar. Infelizmente não entendemos isso", disse Leonel Peña, um carpinteiro de 57 anos após dar seu voto no bairro de Nueva Suyapa, periferia da capital.

Há quatro anos, Hernández conseguiu se reeleger em meio a acusações de fraude por parte da oposição e de observadores internacionais. Isso desencadeou uma onda de protestos e repressão estatal que deixou quase trinta mortos.

"Foi desenvolvida uma espécie de paranoia, as pessoas estão se preparando para a guerra", com cidadãos que nos últimos dias se abasteceram com comida e água devido ao medo de não poderem sair para comprar, explicou Pineda.

Tudo isso em um país já atingido pela violência das gangues, pelo tráfico de drogas e por dois violentos furacões em 2020, onde 59% dos seus 10 milhões de habitantes vivem na pobreza. O desemprego passou de 5,7% em 2019 para 10,9% em 2020, em grande parte devido à pandemia do coronavírus.

- Washington de olho -Washington está extremamente atento ao que acontece em Honduras, segundo Pineda. Não quer que uma nova crise incentive ainda mais as ondas migratórias que constantemente vão da América Central para os Estados Unidos.

Castro, que afirma promover um "socialismo democrático" com uma agenda progressista, foi rotulada como comunista por seus rivais, e esse discurso pegou.

"Querem trazer muitas características da Venezuela aqui para Honduras e nós não aceitamos", afirmou Rosa Díaz, uma dona de casa de 26 anos que vota em "Papi" porque acredita que ele "é diferente".

"Que tipo de comunismo, se aqui em Honduras quem não trabalha não come? Nunca vivi por um partido", disse, por sua vez, Guadalupe Rodríguez, uma vendedora de rua de 54 anos.

Os hondurenhos também elegerão 128 deputados, 298 prefeitos e 20 representantes do parlamento centro-americano.

- "Narcogovernos" -O PN governa desde a destituição do ex-presidente Manuel Zelaya, marido de Castro, em 2009, em um golpe de Estado apoiado pela direita, por sua proximidade com o chavismo.

Mas escândalos de corrupção e narcotráfico afetaram Hernández. Tony, seu irmão, está cumprindo prisão perpétua nos Estados Unidos por tráfico de drogas. Os "narcos" que o presidente ajudou a extraditar para esse país - e os promotores que processaram seu irmão - o acusaram de envolvimento com o tráfico.

Asfura, por sua vez, foi acusado em 2020 de desvio de fundos públicos, mencionados nos Pandora Papers e vinculado ao tráfico de influências na Costa Rica.

O terceiro candidato nas preferências entre os 13 na disputa, Yani Rosenthal (Partido Liberal), passou três anos em uma prisão nos Estados Unidos por lavagem de dinheiro do tráfico de drogas.

"Honduras é conhecido internacionalmente como um narcoestado, mas não há narcoestados, apenas narcogovernos", disse Pineda.

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