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Situação de Djokovic lança luz sobre centro de detenção para migrantes

Na imagem: ativistas protestam do lado de fora do Park Hotel, em Melbourne, na Austrália - Diego Fedele/Getty Images
Na imagem: ativistas protestam do lado de fora do Park Hotel, em Melbourne, na Austrália Imagem: Diego Fedele/Getty Images

Em Melbourne (Austrália)

11/01/2022 13h45Atualizada em 11/01/2022 14h11

Durante quatro noites, o centro de retenção para migrantes Park Hotel, em Melbourne, foi a morada do número um do tênis mundial, Novak Djokovic.

No local, 32 pessoas permanecem detidas em virtude das rígidas leis migratórias da Austrália, algumas delas há vários anos.

A cada dia, dezenas de jornalistas, admiradores do tenista, manifestantes antivacina e ativistas dos direitos dos migrantes se reuniram do lado de fora do edifício.

No entanto, quando o superastro do tênis saiu do centro de detenção, com seguidores cantando e dançando, depois que a Justiça lhe devolveu o visto que havia sido cancelado, a atenção da mídia foi embora junto com o sérvio.

Na manhã de hoje, não havia mais que dois jornalistas da televisão em frente ao edifício, e nenhum manifestante.

Um cartaz solitário dizia: "Libertem Novak e todos os refugiados". E, na fachada do hotel, alguém escreveu com giz: "#fimdejogo" e "libertem os refugiados".

Dias antes, uma multidão havia pichado as paredes, com manifestações em favor dos refugiados, cantando e dançando. Entre eles, havia pelo menos 20 ativistas tentando atrair a atenção da opinião pública para a situação dos migrantes no país.

Comida podre

Durante o primeiro dia de detenção de Djokovic, a ativista Kim Matousek comentou o interesse gerado pela breve permanência do astro do tênis.

"Bom, me parece interessante que estejam protestando por Djokovic, quando ele está detido há menos de um dia. Enquanto isso, nossos amigos estão detidos já há 3.099 dias", assinalou.

Acima de Matousek, vários homens internados no centro exibiam cartazes pela janela, nos quais era possível ler: "nove anos é tempo demais" e "não somos seres humanos como vocês?".

Segundo a ativista, a comida servida no centro é de baixa qualidade. "A couve cheira a álcool porque está podre, não se pode comer", disse.

O centro ganhou notoriedade em dezembro, ao ser atingido por um incêndio. Uma pessoa teve que ser hospitalizada por inalar fumaça, mas não houve mortes.

Uma semana depois, os solicitantes de asilo publicaram imagens nas redes sociais da comida que era servida, que tinha vermes e pão mofado.

"Tememos que, depois que Djokovic retorne ao lucrativo circuito de tênis mundial, estes homens sigam detidos, muitos deles pelo nono ano", declarou no fim de semana passado o porta-voz da organização Refugee Action Collective, David Glanz.

Na última quinta-feira (6), Mehdi Ali, um dos migrantes retidos no antigo hotel, disse à AFP que Djokovic é seu tenista favorito e lamentou que o atleta estivesse detido ali.

"Os meios vão falar mais sobre nós, talvez todo o mundo o faça, e isso é triste, tão somente porque Djokovic esteve aqui por alguns dias", explicou Ali.

'Apoio'

Devido às políticas restritivas de imigração australianas, os migrantes que tentam chegar ao país-continente por barco são enviados para centros de detenção na ilha de Manus, em Papua-Nova Guiné, e para Nauru, uma minúscula ilha do Pacífico.

No ano passado, Austrália e Papua-Nova Guiné anunciaram que o acordo para que os australianos enviassem migrantes deixaria de vigorar em 31 de dezembro de 2021.

Não obstante, Nauru se comprometeu a seguir aceitando os solicitantes de asilo que chegarem à Austrália.

Por outro lado, a Austrália concedeu asilo aos afegãos que fugiram do regime talibã. Alguns deles estão alojados em um centro temporário, na mesma rua do Park Hotel.

O governo australiano tem oferecido "bastante apoio", explicou Qamaria Sharani, uma migrante afegã, na semana passada. "Estamos muito felizes", frisou.

Sobre as pessoas mantidas no antigo hotel, ela mostrou solidadriedade. "São tempos muito difíceis. Não deveriam seguir ali. Assim que, se for possível, deveriam sair", disse.