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Habitantes de Fukushima processam central nuclear por casos de câncer

Jovens apresentaram uma ação coletiva contra a central nuclear de Fukushima, alegando um vínculo entre o câncer de tireoide que sofrem e sua exposição à radiação, após a catástrofe de 2011 - Mandy Cheng/AFP
Jovens apresentaram uma ação coletiva contra a central nuclear de Fukushima, alegando um vínculo entre o câncer de tireoide que sofrem e sua exposição à radiação, após a catástrofe de 2011 Imagem: Mandy Cheng/AFP

27/01/2022 09h18Atualizada em 27/01/2022 10h39

Seis jovens japoneses apresentaram nesta quinta-feira (27) uma ação coletiva contra a central nuclear de Fukushima, alegando um vínculo entre o câncer de tireoide que sofrem e sua exposição à radiação, após a catástrofe de março de 2011.

Hoje com idades entre 17 e 27 anos, os demandantes eram menores à época e moravam na região de Fukushima, quando um forte terremoto no nordeste do Japão provocou um gigantesco tsunami que resultou no desastre nuclear.

Os advogados do grupo compareceram nesta quinta-feira a um tribunal de Tóquio para apresentar a ação coletiva, a primeira do tipo iniciada pelos habitantes da região. Dezenas de simpatizantes da causa se reuniram na frente da corte para manifestar seu apoio.

No total, eles pedem à empresa Tokyo Electric Power Company (TEPCO), operadora da central, uma indenização de 616 milhões de ienes (5,4 milhões de dólares), afirmou Kenichi Ido, um dos advogados.

As autoridades não reconhecem a existência de um vínculo entre a exposição à radiação de Fukushima e o câncer de tireoide.

Um relatório da ONU publicado no ano passado afirma que, uma década depois do desastre nuclear, "não foi documentado qualquer efeito nefasto para a saúde dos habitantes".

O aumento dos casos de câncer de tireiode entre crianças expostas à radiação pode ser resultado de melhores diagnósticos, destacou o Comitê Científico da ONU sobre os Efeitos da Radiação Atômica.

Os advogados dos jovens alegam, contudo, que nenhum caso de câncer entre o grupo é hereditário e que é muito provável que a doença tenha sido causada pela exposição à radiação.

"Alguns demandantes têm dificuldades de avançar no ensino superior e de encontrar empregos e até desistiram dos sonhos para o futuro", disse Ido.

Medo

"Demoramos dez anos para apresentar a ação, porque tínhamos medo de discriminação", caso levantássemos nossa voz, disse uma das demandantes.

"Era uma criança quando me disseram que tinha câncer e não tinha dinheiro para os gastos judiciais", acrescentou.

Sem conter as lágrimas, a jovem recordou o dia em que recebeu o diagnóstico: "Disseram claramente que não havia qualquer vínculo com o acidente".

Os demandantes tinham entre seis e 16 anos no momento do acidente nuclear e foram diagnosticados com câncer de tireoide entre 2012 e 2018.

Quatro foram submetidos a uma ablação total desta glândula e devem seguir um tratamento de reposição hormonal por toda vida, informou o advogado Ido. Os outros dois passaram por uma ablação parcial da tireoide.

Em 11 de março de 2011, um potente terremoto desencadeou um gigantesco tsunami que provocou a fusão dos núcleos dos três reatores da central Fukushima Daiichi, liberando importantes quantidades de radiação no ar que depois vazaram para o solo e para a água.

A tragédia deixou 18.500 mortos, ou desaparecidos, a maioria por causa do tsunami. Foi o pior desastre nuclear desde Chernobyl em 1986, depois do qual foram detectados muitos casos de câncer de tireoide.

Até junho de 2021, o departamento de Fukushima registrou 266 casos, ou suspeitos, de câncer de tireoide infantil.

"Quando o documento do processo chegar, vamos examinar com sinceridade depois de ler com atenção os detalhes", declarou à AFP o porta-voz da empresa TEPCO, Takahiro Yamato.

"Seguimos expressando nossas sinceras desculpas pelos problemas causados à população pelo acidente", completou.