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Em Chernobyl, funcionários 'reféns' da guerra temem o pior após Rússia tomar a usina

Imagem de satélite mostra uma visão mais próxima do sarcófago em Chernobyl, em meio à invasão russa da Ucrânia, Ucrânia, 10 de março de 2022 - Maxar Technologies/via Reuters
Imagem de satélite mostra uma visão mais próxima do sarcófago em Chernobyl, em meio à invasão russa da Ucrânia, Ucrânia, 10 de março de 2022 Imagem: Maxar Technologies/via Reuters

Da AFP

16/03/2022 11h25Atualizada em 16/03/2022 11h25

"Salvem nossos entes queridos!", "A Ucrânia não precisa de um segundo Chernobyl". Quase 50 pessoas protestaram no domingo em Slavutych, uma pequena cidade perto da famosa usina nuclear, onde seus parentes estão detidos desde o início da invasão russa.

Desde 24 de fevereiro, 100 técnicos do turno da noite não podem deixar a usina depois que o exército russo tomou o lugar. A equipe do dia também não foi autorizada a entrar para reversar no trabalho, explicaram à AFP seus familiares, que pediram anonimato.

Desde então, a equipe vem tentando garantir a manutenção do local, hoje inativo e onde em 26 de abril de 1986 ocorreu o pior acidente nuclear da história. Soldados russos o cercam, explicam os parentes.

"Nossos homens não são apenas reféns, mas também prisioneiros de um campo de concentração russo", denuncia uma mulher durante a manifestação de Slavutych, gravada pela televisão local.

Seus familiares relatam o dia a dia árduo, bem como os riscos que a situação representa para uma usina, cuja segurança, em sua opinião, está amplamente comprometida.

"Fisicamente e moralmente, estão exaustos", explica a esposa de um técnico que consegue se comunicar com o exterior por telefone fixo. "Eles acreditam que ninguém pensa neles, nem o governo russo nem o ucraniano", acrescenta.

Os trabalhadores recebem duas refeições por dia compostas por "porções pequenas e mal preparadas". "Eles podem tomar banho, mas sem sabonete ou xampu", não têm acesso a medicamentos e dormem "no chão, em mesas ou cadeiras", lamenta.

"Uma loucura"

Em comunicado, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, ressaltou na terça-feira o "enorme estresse" e a falta de "descanso necessário" destes técnicos.

Na opinião do argentino, isso "compromete" um dos "pilares" da segurança nuclear: o pessoal deve ser capaz de tomar decisões "sem pressões indevidas".

Os funcionários realmente se sentem "na linha de frente se ocorrer um acidente", especialmente quando as linhas de energia que abastecem Chernobyl ficaram sem serviço por vários dias na semana passada, disse um engenheiro da usina à AFP.

A piscina onde o combustível nuclear usado é armazenado tem "uma capacidade excedente de 40%" e todas as piscinas de reforço estão cheias, o que viola as "regras de segurança nuclear", alerta o especialista, que atribui a situação à liderança ucraniana de Chernobyl.

Contatada pela AFP, a agência atômica ucraniana não pôde responder a essas acusações.

"Não há risco de explosão no local", disse à AFP Karine Herviou, vice-diretora-geral do Instituto Francês de Radioproteção e Segurança Nuclear (IRSN).

Embora Chernobyl tenha tido que recorrer a geradores para manter os sistemas de segurança funcionando por vários dias, "a perda de energia a longo prazo no local não causaria um acidente", ao contrário das usinas "em funcionamento", acrescenta Herviou.

Mas ainda há riscos ligados à guerra, especialmente quando o exército russo instalou "uma base militar" no complexo de Chernobyl, diz um amigo próximo de um técnico detido, que também trabalhava na usina.

"A estratégia é brilhante do ponto de vista militar (...) Ninguém vai lançar um míssil contra Chernobyl" para atacar o exército russo, explica. "Mas em nome da humanidade, é uma loucura".

O principal risco para Chernobyl é o "erro humano", afirma o homem, para quem a situação atual já representa uma "catástrofe" para a central, com a presença de soldados russos que "não conhecem" a natureza do local.