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Moradores de Xangai dormem no escritório e racionam comida para sobreviver ao confinamento

Profissionais de saúde usam equipamento de segurança na rua durante lockdown para conter covid-19 em Xangai, na China - Hector Retamal/AFP
Profissionais de saúde usam equipamento de segurança na rua durante lockdown para conter covid-19 em Xangai, na China Imagem: Hector Retamal/AFP

12/04/2022 13h58

Durante o dia é o local de trabalho de Romeu, durante a noite, sua casa. Como muitos outros trabalhadores do setor financeiro em Xangai, ele se mudou para seu escritório enquanto o confinamento segue ativo na metrópole chinesa.

A capital econômica da China enfrenta seu maior surto de covid-19 desde o início da pandemia. Para fazer frente, as autoridades confinaram quase a totalidade dos 25 milhões de habitantes em suas casas há mais de duas semanas.

O confinamento de Xangai deveria durar inicialmente cerca de quatro dias em duas etapas: primeiro a parte leste da cidade -que conta com o principal aeroporto internacional e o gigante bairro comercial- e em seguida, a parte oeste, com sua famosa região histórica de Bund, às margens do rio Huangpu.

Para limitar o impacto econômico, alguns habitantes escolheram permanecer em seu local de trabalho desde as primeiras horas de confinamento. Foi o caso de Romeo, um chinês que prefere utilizar um pseudônimo.

Em sua empresa, "a gente dorme no 1º e 2º segundo piso, e o resto do tempo todos estão em seu local de trabalho", explica à AFP este trabalhador do setor financeiro.

As interações entre colegas continuam depois das horas de trabalho, sem, no entanto, qualquer invasão de privacidade, garante ele.

"Cada um impõe sua distância e respeita a dos demais. Nos obrigamos a isso", explica Romeo.

Um luxo que está longe de ser a regra. Nas redes sociais, circulam vídeos de empregados que dormem em colchões improvisados em fábricas, enquanto seus colegas continuam a produção.

Sem reabastecimento

O confinamento, inicialmente anunciado como uma medida progressiva e localizada, parece eternizar-se e penalizar gravemente o abastecimento da cidade.

"Nunca pensei tanto em minha alimentação nem controlei meu consumo", comenta à AFP Frank Tsai, que só armazenou alimentos para quatro dias, o tempo de confinamento inicialmente anunciado pelas autoridades.

Sete dias mais tarde, as porções são "cada vez menores" enquanto as reservas diminuem, conta o empresário que organiza conferências em tempos de normalidade.

Nas últimas semanas, os preços dos produtos alimentícios dispararam enquanto milhares de caminhões ficaram bloqueados na entrada da cidade.

Ma, que prefere não revelar seu nome completo, afirma que pagou 400 yuanes (300 reais) por um suco e macarrão instantâneo, já que em Xangai não há reposição.

Além disso, o serviços de entregas por aplicativos enfrentam dificuldades diante da escassez de distribuidores.

A agitada metrópole em tempos de normalidade experimenta uma tranquilidade incomum nas últimas semanas, interrompida apenas por pedidos das autoridades para que seus habitantes permaneçam em casa. Este avisos são divulgados por drones ou robôs.

As saídas estão estritamente proibidas inclusive para as necessidades caninas. "Ensinei meu cachorro a fazer dentro de casa. Para manter a sanidade, tiro ele (mesmo que às escondidas) às 3 da manhã", explica à AFP um morador que pede para não ser identificado.