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Toque de recolher entra em vigor em todo o Sri Lanka; 5 morrem em protestos

Na imagem: homens em uma moto passam perto de ônibus queimados nas proximidades da residência oficial do hoje ex-primeiro-ministro - Ishara S. Kodikara/AFP
Na imagem: homens em uma moto passam perto de ônibus queimados nas proximidades da residência oficial do hoje ex-primeiro-ministro Imagem: Ishara S. Kodikara/AFP

Em Colombo (Sri Lanka)

10/05/2022 08h01Atualizada em 10/05/2022 08h04

As autoridades do Sri Lanka mobilizaram milhares de soldados e policiais hoje para aplicar um toque de recolher em todo o país, depois da morte de cinco pessoas em novos protestos pela crise econômica do país.

Os incidentes, que também deixaram quase 200 feridos, provocaram a renúncia do primeiro-ministro Mahinda Rajapaksa, mas isto não foi suficiente para conter a indignação dos manifestantes, que tentaram invadir a residência oficial do ex-chefe de Governo.

Tropas armadas seguiram para o local depois que os manifestantes conseguiram passar pelo acesso principal da residência em Colombo e tentaram entrar no edifício em que Rajapaksa e família estavam refugiados,

"Após uma operação durante a madrugada, o ex-primeiro-ministro e sua família foram levados pelo exército a um local seguro", afirmou uma fonte das forças de segurança à AFP. "Ao menos 10 coquetéis molotov foram lançados no complexo", acrescentou.

O poder do clã Rajapaksa estremece depois de meses de apagões e escassez de produtos nesta ilha de 22 milhões de habitantes, que enfrenta a crise econômica mais grave desde a independência do país, em 1948.

O ex-chefe de Governo não vai fugir do país, afirmou o filho mais velho do agora ex-primeiro-ministro, Namal.

"Meu pai está a salvo, está em um local seguro e se comunica com a família", declarou à AFP. "Há muitos boatos que vamos sair do país, mas vamos", acrescentou.

Mahinda Rajapaksa, de 76 anos, é o líder do clã que domina a vida política do Sri Lanka há quase duas décadas e foi presidente entre 2005 e 2015, depois de exercer o cargo de primeiro-ministro em 2004.

Apesar dos muitos pedidos de renúncia, o irmão mais novo dele, o presidente Gotabaya Rajapaksa, permanece no cargo e controla as forças de segurança. Na última sexta-feira (6), ele decretou estado de emergência para reforçar os próprios poderes.

Depois de semanas de protestos contra o governo, na maioria das vezes pacíficos, a violência tomou as ruas de Colombo ontem, quando simpatizantes de Mahinda Rajapaksa atacaram os manifestantes opositores.

"Eles nos atacaram, atacaram a imprensa, agrediram mulheres e crianças", disse uma testemunha à AFP, que pediu para não ser identificada por medo de represálias.

A polícia usou gás lacrimogêneo e jatos d'água para dispersar a multidão e declarou toque de recolher imediato na capital, que pouco depois foi ampliado para todo o país.

As autoridades anunciaram que a medida prosseguirá até a manhã de amanhã, com prédios públicos e privados, estabelecimentos comerciais e centros de ensino fechados.

Casas e veículos incendiados

A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, condenou a violência no Sri Lanka e pediu às autoridades que evitem mais incidentes.

"Estou profundamente preocupada com a escalada da violência no Sri Lanka depois que os partidários do primeiro-ministro atacaram manifestantes pacíficos em Colombo", afirmou a ex-presidente do Chile em um comunicado.

Os manifestantes desafiaram o toque de recolher e tentaram se vingar dos militantes pró-governo. Dezenas de casas de apoiadores de Rajapaksa foram incendiadas, além de carros, ônibus e caminhões, em Colombo e nos arredores.

Mahinda Rajapaksa disse que renunciaria para abrir o caminho a um governo de unidade. Mas não está claro se a oposição aceitaria integrar um novo Executivo, pois já se recusou a estabelecer aliança com qualquer membro do clã familiar.

Com o sistema político do Sri Lanka, mesmo em um governo de unidade o presidente mantém o poder de nomear e demitir ministros e juízes, além de gozar de imunidade judicial.

O colapso econômico da ilha do sul da Ásia começou a ser percebido depois que a pandemia de covid-19 afetou consideravelmente as receitas do turismo e as remessas, o que levou o governo a proibir várias importações, para evitar a fuga de divisas estrangeiras.

A dívida externa, calculada em US$ 51 bilhões (quase R$ 300 bilhões), forçou o governo a decretar em 12 de abril uma moratório da pagamentos.