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Irmãos separados por conflito na Índia se reencontram 75 anos depois

O indiano Sika Khan e seu irmão paquistanês Sadi se viram pela primeira vez desde a Partição de 1947 - AFP/Cortesia da família Mumtaz Bibi
O indiano Sika Khan e seu irmão paquistanês Sadi se viram pela primeira vez desde a Partição de 1947 Imagem: AFP/Cortesia da família Mumtaz Bibi

12/08/2022 10h20Atualizada em 12/08/2022 16h35

Lágrimas de alegria escorriam por seu rosto enrugado quando o indiano Sika Khan reencontrou seu irmão paquistanês mais velho Sadi pela primeira vez desde a trágica Partição de 1947.

Sika tinha apenas seis meses quando ele e seu irmão de dez anos foram separados pela divisão britânica do subcontinente no fim de seu poder colonial.

Este ano marca o 75º aniversário da Partição, durante a qual provavelmente mais de um milhão de pessoas morreram pela violência sectária e famílias inteiras foram dilaceradas pelo surgimento de duas novas nações: Índia e Paquistão.

O pai e a irmã de Sika morreram em massacres, mas Sadiq conseguiu fugir para o Paquistão.

"Minha mãe não suportou o trauma, ela pulou em um rio e cometeu suicídio", explica Sika, em sua humilde casa de tijolos em Bhatinda, distrito no estado indiano de Punjab que foi o epicentro da violência.

"Fiquei à mercê dos aldeões e de alguns parentes que me criaram", diz o homem sikh, que trabalha como pedreiro.

Desde criança, Sika desejava saber algo sobre seu irmão, o único membro de sua família que sobreviveu. Mas não conseguiu encontrar nenhuma pista, até que um médico da vizinhança ofereceu ajuda há três anos.

Após inúmeras ligações e a ajuda do youtuber paquistanês Nasir Dhillon, Sika conseguiu encontrar Sadiq.

Os irmãos finalmente se reencontraram em janeiro no corredor de Kartarpur, uma rara travessia sem visto que permite que peregrinos sikhs da Índia visitem um templo no Paquistão.

O corredor, inaugurado em 2019, tornou-se um símbolo de unidade e reconciliação para as famílias separadas pela Partição, apesar da persistente hostilidade entre as duas nações.

"Eu sou da Índia e ele do Paquistão, mas temos muito amor um pelo outro", disse Sika, segurando uma foto desbotada e emoldurada da família separada.

"Nós nos abraçamos e choramos muito quando nos encontramos pela primeira vez. Os países podem continuar lutando. Não estamos preocupados com a política entre Índia e Paquistão", acrescenta.

O agricultor e agente imobiliário paquistanês Dhillon, muçulmano de 38 anos, afirma ter ajudado a reunir cerca de 300 famílias com seu canal do YouTube junto com seu amigo Bhupinder Singh, um paquistanês sikh.

"Essa não é a minha fonte de renda. Isso é o meu amor interno e minha paixão", disse Dhillon à AFP. "Sinto que essas histórias são minhas próprias histórias ou as histórias dos meus avós, então ajudar essas pessoas mais velhas faz com que eu sinta que estou cumprindo os desejos dos meus próprios avós".

Estima-se que milhões de hindus, sikhs e muçulmanos abandonaram suas casas quando os colonizadores britânicos começaram a desmantelar seu império em 1947.

A estimativa de vítimas mortais chega a um milhão de pessoas, embora alguns acreditem que o número real é o dobro.

Hindus e sikhs fugiram para a Índia, enquanto os muçulmanos fugiram para o Paquistão. Dezenas de milhares de mulheres e meninas foram estupradas e trens que transportavam refugiados entre as duas nações chegavam cheios de cadáveres.

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© Agence France-Presse