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Chuvas deixam um terço do Paquistão submerso e mais de mil mortos

30/08/2022 06h02

Os trabalhos de emergência se intensificaram nesta terça-feira (30) no Paquistão para tentar ajudar dezenas de milhões de pessoas afetadas pelas chuvas de monção mais intensas em três décadas, que inundaram um terço do país, provocaram as mortes de pelo menos 1.136 pessoas e causaram danos bilionários.

As inundações, provocadas pelas fortes chuvas iniciadas em junho, são "as piores da história do Paquistão", afirmou o primeiro-ministro, Shehbaz Sharif.

"Os danos causados a nossas infraestruturas são importantes e se estendem a todo o país", acrescentou.

O ministro do Planejamento, Ahsan Iqbal, afirmou à AFP que o país precisa de mais de US$ 10 bilhões para reconstruir as infraestruturas afetadas.

"Houve grandes danos às infraestruturas, em particular nas áreas de telecomunicações, estradas, agricultura e meios de subsistência", disse.

As autoridades e organizações humanitárias tentam acelerar a entrega de ajuda às mais de 33 milhões de pessoas afetadas, um em cada sete paquistaneses, mas a tarefa é complexa devido aos danos nas rodovias e pontes.

No sul e oeste do país, as pessoas desabrigadas procuram refúgio nas estradas e ferrovias elevadas para escapar das inundações.

"Pelo amor de Deus, precisamos de ajuda!", afirmou Qadir, 35 anos, que acampava com a família perto de Sukkur (sul), depois de três dias de caminhada.

"Não temos mais nada, só conseguimos salvar nossas vidas", disse.

- Mudança climática -

A temporada de monção, que vai de junho a setembro, é essencial para irrigar as plantações e para reabastecer os recursos hídricos do subcontinente indiano.

Mas também inclui uma grande parcela de destruição e tragédias a cada ano, embora o país não registrasse chuvas tão intensas há três décadas.

O governo paquistanês atribui os fenômenos extremos à mudança climática e afirma que o país sofre as consequências das práticas irresponsáveis com o meio ambiente de outras regiões do mundo.

Um terço do Paquistão está atualmente "debaixo d'água", declarou em entrevista à AFP a ministra de Mudança Climática, Sherry Rehman, que citou uma "crise de proporções inimagináveis".

"Tudo é um grande oceano, não há um lugar seco por onde bombear a água", afirmou a ministra Rehman, antes de citar um custo econômico "devastador".

O número de vítimas pode ser ainda maior, porque as autoridades não conseguem chegar a vilarejos isolados nas zonas montanhosas do norte do país. E no sul, o rio Indo, o mais importante do país, pode transbordar.

- Crise prévia -

De acordo com o serviço meteorológico, o Paquistão registrou o dobro de chuvas do que era esperado.

Nas províncias de Baluchistão e Sindh, as mais afetadas no sul do país, as chuvas foram quatro vezes superiores à média dos 30 anos anteriores.

As inundações acontecem em um momento de grave crise econômica do Paquistão.

A ONU e o governo paquistanês, que decretou estado de emergência, fizeram um apelo pela arrecadação de US$ 160 milhões para financiar a ajuda de emergência.

O plano, previsto para os próximos seis meses, proporcionará serviços básicos (saúde, alimentos, água potável e abrigos) para as 5,2 milhões de pessoas mais afetadas.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou na segunda-feira a reativação de um programa de apoio financeiro vital para o Paquistão e a liberação de um pacote de US$ 1,1 bilhão.

Os Estados Unidos anunciaram nesta terça-feira um primeiro envio de ajuda humanitária de US$ 30 milhões. Aviões com assistência começaram a chegar de China, Turquia e Emirados Árabes Unidos.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, viajará ao país na próxima semana para visitar "as áreas mais afetadas por esta catástrofe climática sem precedentes", afirmou seu porta-voz, Stéphane Dujarric.

Os preços de produtos básicos, incluindo cebola, tomate e grão-de-bico, dispararam pela falta de abastecimento nas províncias inundadas de Sindh e Punjab, os celeiros do país.

Por todo o país surgiram campos de deslocados improvisados em escolas, rodovias e bases militares.

No vilarejo de Nowshera, uma escola virou abrigo para 2.500 vítimas, afetadas pelo calor do verão e com pouca água e comida.

"Nunca pensei que um dia teria que viver assim", lamenta Malang Jan, de 60 anos. "Perdemos nosso paraíso e somos forçados a viver uma vida miserável", acrescentou.

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© Agence France-Presse