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Depois dos choques de 2022, economia mundial pagará as contas

07/12/2022 08h24

A economia mundial esperava uma normalização pós-pandemia em 2022, mas foi atingida por uma enxurrada de crises, incluindo a guerra na Ucrânia, inflação crescente e aquecimento global, pressagiando um 2023 sombrio.

O ano de 2022 será lembrado como o das "policrises", expressão popularizada pelo historiador Adam Tooze, que implica uma sucessão de choques heterogêneos que provocam um panorama avassalador. 

Esses choques "aumentaram desde o início do século" com a crise financeira de 2008, a crise da dívida soberana, a pandemia de covid-19 e a crise energética, destacou à AFP Roel Beetsma, professor de Economia da Universidade de Amsterdã. 

Para o acadêmico, o mundo "não vivia uma situação tão complicada desde a Segunda Guerra Mundial".

- Inflação persistente -

Os especialistas diziam inicialmente que, após anos de inflação lenta, uma alta de preços seria transitória e concomitante à recuperação pós-pandemia. 

A invasão russa da Ucrânia e a escalada dos preços da energia mudaram, porém, essas projeções e explicações.

O atual nível de inflação é o mais elevado desde os anos 1970-80 e deixou milhões de famílias em países desenvolvidos em situação de precariedade, além de colocar os países pobres em risco de miséria ainda maior. 

No entanto, começa a mostrar sinais de desaceleração. Na zona do euro, a inflação caiu para 10,0% em novembro e nos Estados Unidos a 5,5%. 

A OCDE espera que a alta dos preços chegue a 8% no quarto trimestre nos grandes países desenvolvidos e emergentes do G20, caindo para 5,5% em 2023 e 2024.

A agência recomenda aos países auxílios seletivos. Por exemplo, França e Alemanha, como outras economias, começaram a prestar assistência a famílias e empresas. Somente na União Europeia, os Estados prometeram 674 bilhões de euros em ajudas, de acordo com o instituto de pesquisa Bruegel. 

Do total, 264 bilhões correspondem à Alemanha, país onde uma em cada duas pessoas afirma comprar apenas o estritamente necessário, segundo levantamento da consultoria EY. 

"Tudo ficou mais caro: vinho, eletricidade", diz Nicole Eisermann, que tem uma barraca na feira de Natal em Frankfurt.

"Vou ter cuidado, mas tenho muitos filhos e netos" que querem presentes, comenta um dos clientes, Günther Blum.

- Bancos centrais mais rigorosos - 

Os grandes bancos centrais, cuja principal missão é garantir a estabilidade dos preços, iniciaram um ciclo de aumento de suas taxas de juros. 

Essa estratégia, porém, pesa um pouco mais na economia, pois complica as condições de crédito para famílias e empresas. 

O mesmo ocorre com os Estados, que estão mais endividados desde a crise financeira e a pandemia, e alguns enfrentam o risco de instabilidade que pode levá-los à inadimplência. 

Em dezembro, o Fed o Banco Central Europeu aumentaram as taxas de juro a um ritmo mais modesto. Mas as duas instituições afirmarma que estão determinadas a combater a inflação de forma duradoura.

- Recessões e crise climática -

O mundo ainda está longe de uma recessão geral. O FMI e a OCDE projetam crescimento de 2,7% e 2,2%, respectivamente, para 2023. 

Mas o Reino Unido já está "em recessão" e muitos economistas acreditam que Alemanha e Itália serão os próximos. 

Para a zona do euro como um todo, a agência de rating S&P Global espera um primeiro trimestre particularmente difícil e estagnação ao longo do ano. 

E a Europa está mergulhada numa "reconfiguração energética" que pode "levar anos", acelerada pela guerra na Ucrânia, segundo a S&P Global. 

De modo paralelo, a economia chinesa continua em desaceleração e é "muito provável" uma queda das perspectivas de crescimento em 2022 e 2023, afirmou a directora-geral do FMI, Kristalina Georvieva, que prevê "algumas dificuldades" com a mudança na política de Pequim contra a covid.

O fim da política de "covid zero" implicará necessariamente "um aumento do número de infecções, com consequências para o bom funcionamento da economia", destacou Georgieva.

E outra grandes crises a climática, ocorre "em câmera lenta", diz Beetsma.

Apesar da multiplicação dos desastres naturais, os compromissos assumidos pelos Estados permanecem muito tímidos. 

Isso ficou evidente no fracasso da COP27 no Egito em estabelecer novas metas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. 

A dificuldade dos países em administrar a escalada dos preços da energia também se reflete na lentidão da transição. 

"Se não fizermos o suficiente, isso nos atingirá em uma escala jamais vista", alerta Beetsma.

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© Agence France-Presse