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Jovens se juntam aos protestos contra reforma da Previdência na França

28/03/2023 13h47

"Pela honra dos trabalhadores e por um mundo melhor, mesmo com Macron não querendo, aqui estamos", cantam dezenas de estudantes nesta terça-feira (28) em Paris, em um dos bloqueios a colégios e universidade que se espalham pela França. 

Os jovens estão desde janeiro como coadjuvantes nas manifestações contra a impopular reforma da Previdência do presidente liberal Emmanuel Macron, mas sua crescente presença nas últimas semanas preocupa as autoridades. 

Em 2006, sua mobilização junto aos sindicatos conseguiu que o então presidente conservador Jaques Chirac recuasse em seu polêmico Contrato do Primeiro Emprego. Agora, buscam outra vitória.

No Liceu Montaigne, um dos centros de educação mais antigos de Paris situado no 6º distrito de Paris, nos arredores do bairro nobre de Jardim de Luxemburgo, 50 jovens bloquearam a entrada esta manhã, com latões de lixo e cercas de segurança.

Os cartazes "Montaigne Bloqueado" e "Macron Explosão" decoram a porta, em imagens que se repetem em colégios e universidades de toda a França ? de Avignon (sul) a Le Havre (nordeste), passando por Lille (norte) e Marselha (sudeste).

"A reforma afeta nosso futuro, e nós seremos os adultos de amanhã. Temos que agir agora", diz Alice, uma estudante de 16 anos, à AFP. "Já que não podemos votar, é nossa forma de nos expressar", acrescenta sua amiga Ariane. 

O fim das provas para quem já está concluindo o ensino médio favorece a participação. No Liceu Turgot, no centro de Paris, os jovens permitem a entrada apenas dos colegas que ainda estão fazendo as avaliações. 

- "Nosso futuro em jogo" -

Na última paralisação, na quinta-feira (23) passada, quase 150 escolas registraram bloqueios e tentativas de bloqueio em toda a França, segundo o Ministério da Educação, que inicialmente mencionou 53 colégios. Nesta terça, até agora, eram 27.

O governo está "muito atento", de acordo com o porta-voz Olivier Véran, à presença dos jovens nas manifestações. Segundo as autoridades, o número pode "duplicar, ou triplicar", em relação às anteriores. 

Centenas de jovens estiveram presentes na marcha que percorre Paris entre as simbólicas Places de la République e De la Nation. 

"Vamos bloquear tudo, nada poderá nos deter", cantam os estudantes das universidades parisienses ao ritmo de percussões.

Nicolas, um estudante de 22 anos, diz que o "detonador" que o levou às ruas foi a decisão de Macron em 16 de março de adotar sua reforma por decreto. A medida radicalizou os protestos, cada vez mais violentos desde então. 

A entrevista do presidente dada dias após a aprovação da reforma, que altera de 62 para 64 anos a idade da aposentadoria, não ajudou acalmar os ânimos. 

"Foi muito arrogante", acrescenta esse jovem. 

As críticas nas primeiras manifestações contra o aumento da idade para se aposentar, entre advertências sobre a situação climática e mudança de atitude em relação ao trabalho após a pandemia, deram lugar à desaprovação de um presidente considerado autoritário e de seu governo. 

O objetivo é conseguir a retirada da reforma, como aconteceu em 2006? 

"Não nos resta outra coisa a não ser continuar, senão seria como reconhecer um fracasso", afirma Victoria, uma estudante de Ciências de 22 anos, em conversa com a AFP. 

"É nosso futuro que está em jogo", acrescenta. 

tjc/mb/dd

© Agence France-Presse