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França tem novo dia de protestos contra reforma da Previdência

O movimento de protesto continua, mas perdeu força e a crise chegou a um momento de estagnação. - Francois LO PRESTI / AFP
O movimento de protesto continua, mas perdeu força e a crise chegou a um momento de estagnação. Imagem: Francois LO PRESTI / AFP

06/04/2023 03h50

Os franceses saíram às ruas nesta quinta-feira (6), para a 11ª jornada de protestos contra a reforma da Previdência do presidente Emmanuel Macron, oito dias antes de uma decisão crucial do Conselho Constitucional que pode desbloquear um conflito social.

"Temos a impressão de que estamos diante de um governo surdo (...) que Emmanuel Macron não está nem um pouco interessado no que está acontecendo em seu próprio país", disse à AFP Elise Bouillon, estudante de Arquitetura e Urbanismo, que protestou em Paris contra o que chamou de reforma "injusta e brutal". 

Símbolo do descontentamento, um sinalizador lançado durante um confronto entre um grupo de manifestantes radicais e as forças de segurança incendiou parte do toldo do restaurante La Rotonde, em Paris, um local apreciado pelo presidente Macron, antes da rápida intervenção dos bombeiros.

Para aumentar a pressão sobre os "sábios" constitucionais, os sindicatos convocaram novos protestos para 13 de abril, levando cerca de 570.000 pessoas às ruas nesta quinta, de acordo com o Ministério do Interior, e "quase dois milhões", segundo as centrais sindicais.

Escolas e universidades foram bloqueadas, algumas viagens de trens foram canceladas, fluxo "quase normal" no transporte público de Paris, bloqueios temporários de acesso a cidades como Rennes, breve invasão da sede do gestor de ativos BlackRock... Foram inúmeras as ações de protestos.

Uma reunião na quarta-feira (5) entre a primeira-ministra, Élisabeth Borne, e os líderes sindicais serviu apenas para constatar que os dois lados mantêm suas posições inflexíveis e aguardam a decisão do Conselho Constitucional, marcada para 14 de abril.

"A única solução é a retirada da reforma", reiterou nesta quinta-feira a nova líder do sindicato CGT, Sophie Binet, para quem, diante da "profunda revolta", o governo "atua como se nada estivesse acontecendo" e "vive em uma realidade paralela".

O governo se nega a desistir da reforma, que aumenta idade de aposentadoria de 62 para 64 anos a partir de 2030 e antecipa para 2027 a exigência de contribuição por 43 anos, e não mais 42, para o direito a uma pensão integral. As medidas são rejeitadas por dois terços dos franceses, de acordo com as pesquisas.

- "Momento intermediário" -

A apresentação da reforma em janeiro provocou uma onda de protestos, que ficou ainda mais radical em 16 de março. Nessa data, o presidente Macron decidiu adotar a lei por decreto, devido ao temor de uma derrota no Parlamento, onde o governo não tem maioria absoluta.

As autoridades mobilizaram mais 11.500 guardas nesta quinta-feira. Segundo o Ministério do Interior, houve 111 detidos e 154 membros das forças de segurança feridos nos protestos.

O governo afirma que elevar uma das menores idades de aposentadoria da Europa permitirá evitar um futuro déficit no fundo previdenciário, mas os críticos afirmam que a reforma pune as mulheres com filhos e as pessoas que começaram a trabalhar muito jovens.

Desde 7 de março, quando os sindicatos mobilizaram 1,28 milhão de pessoas, segundo a polícia, e 3,5 milhões, de acordo com o sindicato CGT, as manifestações perderam intensidade. Em 28 de março, entre 740.000 e 2 milhões de pessoas saíram às ruas.

A França vive, de acordo com o cientista político Dominique Andolfatto, um "momento intermediário antes da decisão do Conselho Constitucional".

Os primeiros números indicam uma queda na participação. Sem dados oficiais, a CGT calculou a presença de 400.000 pessoas nas ruas da capital.

- "Crise democrática" -

Todas os olhares estão voltados para o Conselho Constitucional. A decisão sobre a validade, ou não, da reforma marcará a evolução de um conflito social arraigado e que beneficia, segundo analistas e as pesquisas, a líder de extrema direita Marine Le Pen.

O líder do sindicato moderado CFDT, Laurent Berger, culpou Emmanuel Macron pela situação e fez um alerta ao presidente sobre a "crise democrática" e o "risco de ascensão da extrema direita".

A equipe do presidente liberal de 45 anos rejeita a análise e destaca que a reforma estava no programa da campanha, com o qual ele conseguiu a reeleição em 2022 com quase 59% dos votos no segundo turno contra Le Pen.

Para Andolfatto, uma "saída" possível para a continuidade do movimento social, em caso de validação da reforma, é pressionar os integrantes do Conselho Constitucional para que aceitem o referendo sobre a idade de aposentadoria solicitado pela oposição de esquerda, o que bloquearia temporariamente a lei.

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