Chefe de governo espanhol cogita renunciar devido a investigação sobre sua esposa
O presidente do Governo espanhol, o socialista Pedro Sánchez, surpreendeu, nesta quarta-feira (24), ao anunciar que avalia sua renúncia e que informará sua decisão na segunda-feira, devido a uma investigação judicial contra sua esposa por suspeita de "corrupção".
"Preciso parar e refletir" sobre "se devo continuar à frente do governo ou renunciar a esta grande honra", ressaltou Sánchez em carta aberta, publicada na plataforma X.
No poder desde 2018, o premiê informou que se apresentará "perante os meios de comunicação [...] na próxima segunda, 29 de abril" para anunciar sua decisão, e cancelou sua agenda pública até então.
Um tribunal de Madri abriu uma investigação preliminar sobre a esposa do presidente do Governo, Begoña Gómez, por suspeitas de tráfico de influência e corrupção.
Em um breve comunicado, o Tribunal Superior de Justiça de Madri (TSJM) anunciou que uma corte municipal abriu uma "investigação pela suposta prática dos crimes de tráfico de influência e corrupção empresarial contra Begoña Gómez".
O TSJM indicou que a investigação foi aberta em 16 de abril após uma denúncia do coletivo Mãos Limpas, vinculado à extrema direita, e que o processo é "secreto".
Questionado no Congresso dos Deputados sobre a investigação, Sánchez, de 52 anos, respondeu que confia na Justiça.
"Em um dia como hoje, e depois das notícias que tive, apesar de tudo, continuo acreditando na Justiça do meu país", disse o líder socialista.
Reeleito pelo Congresso em novembro, Sánchez defendeu a inocência da esposa e afirmou que a denúncia se insere em uma "estratégia de assédio e demolição" contra ele de "meios de clara orientação direitista e ultradireitista", apoiada por partidos de direita e extrema direita.
"Não sou ingênuo. Sou consciente de que denunciam Begoña não porque tenha feito algo ilegal [...], mas por ser minha esposa", escreveu Sánchez.
- Plano de resgate da Air Europa -
A decisão do tribunal foi anunciada poucas horas depois de o veículo digital "El Confidencial" ter publicado uma notícia afirmando que os investigadores estavam examinando os vínculos de Gómez com diversas empresas privadas que acabaram recebendo fundos e contratos públicos do governo.
Na ocasião, Gómez chefiava o IE Africa Center, uma fundação vinculada com a escola de negócios Instituto de Empresa (IE), cargo que deixou em 2022.
Segundo o veículo "El Confidencial", o IE Africa Center assinou em 2020 um acordo de patrocínio com a Globalia e que a esposa do chefe de Governo "se reuniu em caráter privado com o conselheiro delegado da 'holding' turística, Javier Hidalgo, nos próprios escritórios da companhia".
Em novembro de 2020, o governo Sánchez ofereceu uma linha de crédito de 475 milhões de euros (R$ 2,6 bilhões, na cotação atual) para a Air Europa, surgida de um fundo de 10 bilhões de euros (R$ 55 bilhões), destinados a apoiar empresas estratégicas em dificuldades pela pandemia.
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- 'Práticas trumpistas' -
Após a publicação da carta, o Partido Popular (PP, direita), o principal da oposição, pediu a Sánchez para "aparecer já para dar uma explicação razoável aos escândalos que cercam seu partido, seu Governo e sua companheira", ao invés de "desaparecer" até a segunda-feira.
O dirigente aposta "na vitimização e na pena ao invés da prestação de contas e da clareza", ressaltou o PP em uma mensagem no X, dando a entender que sua ameaça poderia ser uma mera estratégia política.
Pessoas do entorno de Sánchez saíram em sua defesa, como a número três do Governo, Teresa Ribera, que escreveu no X: "Temos um presidente de primeira. Nem ele, nem sua família merecem isso."
Horas antes, a número dois do Governo, María Jesús Montero, havia qualificado a denúncia contra a esposa de Sánchez de "práticas trumpistas".
O PP utiliza "uma denúncia falsa de uma organização ultradireitista para difamar e injuriar a Presidência do Governo", informou.
O Mãos Limpas, fundado em 1995, esteve por trás de várias ações nos últimos anos e atuou como parte civil em muitos casos de corrupção.
É considerado próximo da extrema direita, entre outras coisas pela personalidade de seu fundador, Miguel Bernad, ex-dirigente do partido Frente Nacional, dissolvido em 1993.
Acusado de participar de uma rede de extorsão, Bernad foi condenado a quatro anos de prisão em julho de 2021, mas acabou sendo absolvido em apelação por falta de provas.
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© Agence France-Presse
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