Conteúdo publicado há 1 mês

Sánchez acusa Milei de não estar 'à altura' e Milei debocha das 'lágrimas socialistas'

O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, acusou o presidente argentino, Javier Milei, na segunda-feira (20) de não estar "à altura" ao acusar a sua esposa de "corrupta", enquanto o presidente argentino ironizava sobre "a onda de lágrimas socialistas". 

"Entre os governos, os afetos são livres, mas o respeito é irrenunciável, por isso pedimos ao atual presidente de Governo da República Argentina uma retificação pública", disse Sánchez em um encontro empresarial em Madri. 

"A resposta do Governo da Espanha será de acordo com a dignidade que representa a democracia espanhola e os laços de irmandade que unem a Espanha e a Argentina", liderada agora "por um presidente que, infelizmente, não esteve à altura", acrescentou, pouco depois de seu governo convocar o embaixador argentino em Madri para expressar seu protesto.

Por sua vez, o porta-voz da presidência argentina, Manuel Adorni, minimizou o episódio ao defini-lo como uma questão "entre pessoas e não entre países".

"Chama a atenção que as relações entre dois países historicamente ligados estejam sob tensão devido a uma decisão mal avaliada e confiamos que, uma vez superados os acontecimentos eleitorais na Europa que motivam estas ações, possamos redirecionar as relações", disse Adorni.

Entretanto, Milei anunciou seu retorno à Argentina após sua polêmica visita de três dias à Espanha, com uma mensagem no X: "voltou o leão, surfando em uma onda de lágrimas socialistas". 

Ao desembarcar em Buenos Aires, o presidente argentino prosseguiu com as críticas a Sánchez, que chamou de "covarde". 

"Não vou pedir desculpas de nenhum ponto de vista", disse em entrevista ao canal TN. "Eu fui agredido", afirmou, ao recordar que autoridades do governo espanhol o chamaram de "xenófobo, racista, ultradireitista (...) negacionista da ciência, misógino".

Também considerou que a "situação é promovida com o kirchnerismo, está coordenada com o kirchnerismo" e "é gravíssima". 

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"Não há dúvidas, (o ex-presidente argentino) Alberto Fernández é assessor de Pedro Sánchez", completou.

- A ruptura é possível -

Madri convocou, na segunda-feira, o embaixador argentino na Espanha e chegou a contemplar o rompimento das relações diplomáticas, em meio a uma crise aberta após semanas de troca de insultos e acusações.

Perguntado explicitamente sobre romper relações diplomáticas, o ministro espanhol de Relações Exteriores, José Manuel Albares, disse na rádio Cadena Ser que tal possibilidade é contemplada. 

"Se não houver um pedido público de desculpas, vamos fazer", declarou o chanceler espanhol.

Este episódio ocorre na primeira viagem de Milei à Espanha desde que assumiu em dezembro, visita em que não se encontrou com o rei Felipe VI nem com Sánchez, que apoiou o seu adversário Sergio Massa nas eleições.

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- "Fora de tom", "chocante" -

O presidente da CEOE (Confederação Espanhola de Organizações Empresariais, que tem grandes interesses na Argentina), Antonio Garamendi, criticou as declarações "fora de tom" de Milei.

"Rejeitamos profundamente" algumas declarações "fora de tom", que constituem um "ataque (...) sem sentido algum", disse Garamendi na Cadena Ser.

A Espanha é o segundo país que mais investe na Argentina, atrás apenas dos Estados Unidos, com um aporte superior a 15 bilhões de euros (83,8 bilhões de reais na cotação atual), segundo o Instituto Espanhol de Comércio Exterior (ICEX). 

Esteban Gonzáles Pons, dirigente do principal partido da oposição, o conservador Partido Popular (PP), alertou que as empresas espanholas "não merecem que sua situação se veja comprometida pelo senso de honra que Pedro Sánchez tem com sua mulher", disse à rádio COPE. 

No entanto, ao mesmo tempo, considerou a declaração de Milei como uma "intromissão" na política nacional e um espetáculo "chocante". 

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- Que Madri se desculpe -

Durante um discurso em uma reunião em Madri de líderes de extrema direita organizada pelo partido espanhol Vox, Milei se referiu a Begoña Gómez como uma "mulher corrupta".

Embora ele não tenha identificado Sánchez ou sua esposa pelo nome, a alusão do líder argentino ao período de reflexão que ele levou para decidir se renunciaria devido aos ataques à sua esposa permitiu que o casal fosse identificado. 

"As elites globais não percebem o quão destrutivo pode ser implementar as ideias do socialismo (...), mesmo que você tenha a esposa corrupta, digamos, suja-se [sic] e tire cinco dias para pensar sobre isso", disse ele. 

O Governo argentino, por outro lado, considerou que era Sánchez quem deveria pedir desculpas. 

"Nenhum pedido de desculpas é necessário. Nenhuma desculpa. Pelo contrário, acredito que deveria haver vários pedidos de desculpas do governo espanhol pelas coisas que disseram sobre o presidente Milei", declarou o ministro do Interior argentino, Guillermo Francos.

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Francos fazia referência a pelo menos dois episódios recentes. Com Milei, já em Madri, na sexta-feira, a número três do Governo de Sánchez, Yolanda Díaz, o acusou de disseminar "ódio", e, antes, o ministro de Transportes espanhol, Oscar Puente, sugeriu que Milei usava drogas antes de discursar. 

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© Agence France-Presse

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