Maduro descarta negociar com líder opositora após comparecer à suprema corte venezuelana

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, descartou nesta sexta-feira (9) qualquer negociação com a líder opositora María Corina Machado, após comparecer ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), ao qual pediu uma "auditoria" de sua questionada vitória nas eleições para um terceiro mandato de seis anos.

Maduro foi o último candidato a comparecer perante a Sala Eleitoral do TSJ, acusado de servir aos interesses do chavismo. Outros oito candidatos presidenciais de menor expressão também responderam à convocação, enquanto o principal opositor, Edmundo González Urrutia, que reivindica vitória, não compareceu alegando "violação do devido processo".

"O que o Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela decidir será lei da República, será uma sentença sagrada", disse Maduro à imprensa ao sair da audiência.

O presidente chavista foi proclamado reeleito com 52% dos votos, contra 43% de González Urrutia, mas o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) não publicou os detalhes da apuração, alegando um ataque hacker ao sistema de votação. Doze dias depois, continua sem apresentar as atas de urna.

A oposição denuncia fraude e afirmou ter cópias de 80% dessas atas, que, segundo seus líderes, comprovam a vitória de González, um discreto embaixador que representou María Corina nas eleições presidenciais, após a inabilitação da líder opositora para ocupar cargos públicos.

Maduro, em contrapartida, assinalou que "83% dos documentos" da oposição "são falsos".

Em entrevista à AFP, María Corina disse que a oposição propõe uma "negociação para a transição democrática", que "inclui garantias, salvo-condutos e incentivos para as partes envolvidas, neste caso, o regime que foi derrotado nesta eleição presidencial".

"Estamos decididos a avançar em uma negociação", insistiu a dirigente. "Será um processo de transição complexo, delicado, no qual vamos unir toda a nação."

Maduro descartou qualquer contato com a líder opositora. "O único que tem que negociar neste país com [María Corina] Machado é o procurador-geral. Que ela se entregue à Justiça, encare os fatos e responda pelos crimes que cometeu. De verdade, essa é a única negociação que cabe aqui", disse o governante chavista, que chamou a opositora de "foragida da Justiça".

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Protestos eclodiram no país após a divulgação dos resultados eleitorais, com um saldo de pelo menos 24 mortos, de acordo com organizações de direitos humanos, e mais de 2.200 detidos, segundo Maduro.

O presidente disse, no entanto, estar disposto a convocar um "diálogo" com os 38 partidos do país, incluindo a Mesa de Unidade Democrática (MUD), que apoiou González.

Os Estados Unidos, por sua vez, assinalaram nesta sexta-feira que "apenas através do diálogo, e não da repressão, a Venezuela pode voltar à normalidade democrática", segundo uma publicação na rede X da embaixada americana na Venezuela, que funciona na vizinha Colômbia após o rompimento de relações em 2019. Também pediu a libertação dos opositores detidos.

- 'Ataque cibernético brutal' -

O presidente, de 61 anos, compareceu ao TSJ representado pelo procurador (advogado) do Estado, Reinaldo Múñoz, e membros de seu gabinete. Do lado de fora da corte, simpatizantes do chavismo se reuniram em apoio a Maduro.

"Respondi ao interrogatório que legalmente me foi feito. Não evitei nenhuma pergunta dos juízes e juízas", afirmou.

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Observadores internacionais, como o Centro Carter, concordam com as projeções de vitória da oposição, enquanto os Estados Unidos, a União Europeia e países da América Latina, incluindo aliados de Maduro como Brasil, México e Colômbia, exigem a publicação das atas.

"O Centro Carter fez sua despedida pela porta triste da mentira nesta história eleitoral", afirmou Maduro. "O ataque cibernético foi brutal: 30 milhões de ataques por minuto aos sistemas eletrônicos do CNE e da Venezuela."

Mas as dúvidas sobre esse ataque persistem. Enrique Márquez, ex-candidato presidencial e ex-titular do CNE, garantiu que "não é fácil" falsificar as atas e acrescentou que o sistema "nunca" havia sido hackeado porque isso é "muito difícil".

Maduro também afirmou estar "ao telefone 24 horas por dia, todos os dias" para uma chamada com os presidentes Gustavo Petro (Colômbia), Luiz Inácio Lula da Silva e Andrés Manuel López Obrador (México).

Um telefonema entre os presidentes previsto para esses dias foi cancelado, segundo Maduro, por "problemas de agenda".

O presidente do CNE, Elvis Amoroso, compareceu na segunda-feira ao tribunal e disse que entregou todo o material solicitado: atas de apuração das mesas eleitorais, a ata da totalização definitiva e uma cópia da proclamação de Maduro.

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A presidente do TSJ, Caryslia Rodríguez, informou que o material será revisado em um prazo de 15 dias, período que pode ser "prorrogável".

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© Agence France-Presse

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