Evo Morales diz ser vítima de 'brutal guerra jurídica' na Bolívia

O ex-presidente boliviano Evo Morales declarou, nesta terça-feira (17), ser "vítima de uma brutal guerra jurídica" orquestrada pelo atual presidente e seu ex-aliado Luis Arce, após o Ministério Público (MP) ordenar sua captura por um caso de suposto abuso de uma menor durante seu mandato.

Morales está protegido com a ajuda de seus apoiadores no Trópico de Cochabamba, seu reduto político, e não se entregará à justiça, confirmou seu advogado Nelson Cox à AFP.

O líder cocalero, de 65 anos, foi acusado pelo crime de "tráfico de pessoas agravado", informou o MP na segunda-feira.

"Denuncio ao mundo que sou vítima de uma brutal Guerra Jurídica (lawfare) executada pelo governo de Luis Arce, que se comprometeu a me entregar como troféu de guerra aos EUA", escreveu Morales na rede social X.

Junto com a acusação, o MP solicitou "a medida excepcional de prisão preventiva por seis meses em uma prisão pública".

Morales sempre descreveu a investigação penal como "mais uma mentira" criada pelo governo de Arce para destruí-lo politicamente.

Embora a justiça o tenha impedido de ser novamente candidato à presidência, o ex-governante insiste em sua intenção de disputar as eleições de 2025.  

- Acusação -

A hipótese da promotoria é que Morales, que governou o país entre 2006 e 2019, teria cometido o crime de "tráfico" de menor após um suposto acordo com os pais de uma adolescente de 15 anos.

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O escândalo remonta a 2015, quando ele ainda era presidente da Bolívia. Segundo o processo, Morales teria tido uma filha com a suposta vítima em 2016.

Embora a investigação inicial também incluísse o crime de "estupro", que implica relações sexuais com uma menor de 14 a 18 anos, o MP não voltou a mencionar essa acusação.

De acordo com os documentos do caso, os pais da menina a inscreveram na "guarda juvenil" de Morales "com o único objetivo de ascender politicamente e obter benefícios [...] em troca de sua filha menor".

O pai está detido preventivamente desde outubro.

Sem mencionar diretamente o caso, Morales também afirmou ser alvo de "um constante bombardeio de difamação e insultos". Em outubro, ele denunciou um suposto atentado contra sua vida pela força pública.

"O governo tem um exército de promotores, juízes, policiais e militares que não só querem me eliminar política e moralmente, mas também fisicamente", declarou.

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A defesa legal do ex-chefe de Estado alega que o caso já foi investigado e arquivado em 2020. "Ninguém pode ser processado pelos mesmos fatos duas vezes", argumentou Marcelo Galván, outro de seus advogados, em coletiva de imprensa.

- "Não tem por que ele se entregar" -

Diante da ausência de Morales após uma convocação judicial, o MP emitiu uma ordem de prisão, em 16 de outubro, que incluía a mãe da suposta vítima.

Dois dias antes, seus apoiadores iniciaram bloqueios de estradas para exigir o "fim da perseguição judicial" contra seu líder, protesto que durou 23 dias.

A existência do mandado de prisão só foi divulgada nesta segunda-feira.

A promotora do caso, Sandra Gutiérrez, explicou que permaneceu em silêncio até agora porque a polícia considerava haver riscos para executar a ordem devido aos protestos.

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"Havia risco para a vida não só dos policiais, mas também de pessoas comuns", disse ela.

De acordo com o advogado Nelson Cox, existe o risco de um conflito caso a polícia tente efetivar o mandado contra Morales.

"É claro que haverá risco. Se tentarem atentar contra a vida do ex-presidente, a população [...], o Trópico de Cochabamba, não permitirá isso", disse Cox.

Além disso, afirmou que seu cliente "continua em Cochabamba, continua na Bolívia, continua publicamente" e que até participaria nesta quarta-feira de uma celebração partidária pelo aniversário de sua primeira vitória eleitoral.

"Não tem por que ele se entregar", garantiu o advogado, que indicou que Morales não foi notificado da acusação de "tráfico de pessoas" e que a defesa apresentou recursos legais para anular "violações ao procedimento".

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© Agence France-Presse

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