Dominique Pelicot não recorrerá da sua condenação por estupro na França

O francês Dominique Pelicot, condenado a 20 anos de prisão por drogar a sua então esposa Gisèle durante uma década para estuprá-la juntamente com dezenas de estranhos, não vai recorrer da sentença, anunciou sua advogada nesta segunda-feira (30).

"Dominique Pelicot decidiu não recorrer da sentença", disse à AFP a advogada Béatrice Zavarro. 

Uma apelação "submeteria Gisèle a uma nova provação, a novos confrontos, que Dominique Pelicot recusa", acrescentou, especificando que para o seu cliente de 72 anos, "é hora de pôr fim a isso".

Apesar desta decisão, ainda será realizado um novo julgamento no final de 2025, desta vez perante um tribunal composto por júri popular, já que 17 dos 50 co-réus já interpuseram recursos, segundo a promotoria. 

Dominique Pelicot ficou "surpreso ao ver esses recursos, especialmente [os de] indivíduos que haviam se desculpado com Gisèle Pelicot no banco dos réus", comentou Zavarro.

"Para mim, apresentar um recurso de apelação contradiz essas palavras", acrescentou.

Em 19 de dezembro, um tribunal francês composto por cinco juízes profissionais, considerou culpados os 51 acusados - homens entre 27 e 74 anos - a maioria deles julgados pelo estupro agravado de Gisèle Pelicot entre 2011 e 2020. 

Após quase quatro meses de julgamento, o tribunal proferiu penas que vão desde 20 anos de prisão para Dominique Pelicot até três anos, dois deles com sursis, para um aposentado julgado por agressão sexual.

Dominique Pelicot nunca negou ter drogado secretamente Gisèle com ansiolíticos entre 2011 e 2020 para fazê-la dormir e estuprá-la com estranhos que contatou online. 

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- Gisèle Pelicot "não tem medo" -

Gisèle Pelicot, de 72 anos, tornou-se um ícone global na luta contra a violência sexual contra as mulheres por recusar um julgamento a portas fechadas, ao qual tinha direito como vítima, para que "a vergonha possa mudar de lado". 

Stéphane Babonneau, um dos seus advogados, disse na semana passada que a sua cliente "não tem medo" de um novo julgamento. 

Questionado sobre o estado de espírito de sua cliente após este emblemático julgamento de agressões sexuais contra mulheres, Babonneau declarou que Pelicot "está muito feliz por voltar para casa e muito aliviada". 

"Ela não quer ser vista como um ícone, como alguém extraordinário. Na verdade, é alguém que continua muito simples e que decidiu tentar viver a sua vida da forma mais normal possível", acrescentou. 

"A última coisa que ela quer é que outras vítimas pensem que esta mulher tem uma força extraordinária", insistiu.

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Após o veredicto, toda a classe política francesa e até líderes internacionais, como o chefe de governo alemão, Olaf Scholz, e o seu homólogo espanhol, Pedro Sánchez, elogiaram a sua "coragem". 

"Obrigado, Gisèle Pelicot (...). Pelas mulheres que sempre terão [em você] uma pioneira para falar e lutar", escreveu na sexta-feira na rede social X o presidente francês, Emmanuel Macron, que elogiou a sua "dignidade" e "coragem".

Dominique Pelicot também poderia ser julgado por tentativa de estupro em 1999 na região de Paris, e pelo estupro e subsequente assassinato de uma corretora imobiliária de 23 anos em Paris, em 1991.

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© Agence France-Presse

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