Conteúdo publicado há 21 dias

Casa à prova de fogo fica intacta em Los Angeles: 'Sempre soubemos que incêndio chegaria'

Em uma rua de Los Angeles, em meio às cinzas, uma casa permanece intacta após o devastador incêndio florestal que consumiu a região. Não foi sorte, explica o proprietário e arquiteto Michael Kovac, foi planejamento.

"Sempre soubemos que um incêndio chegaria", disse Kovac, falando do luxuoso Pacific Palisades, nos arredores de Los Angeles, duramente atingido pelas chamas neste mês.

Kovac e sua esposa Karina Maher, que se descrevem como "ambientalistas fervorosos", construíram sua casa à prova de fogo. O jardim foi projetado como "um espaço defensivo".

Casa de Michael Kovac resistiu ao fogo, mas vizinhança foi destruída
Casa de Michael Kovac resistiu ao fogo, mas vizinhança foi destruída Imagem: FREDERIC J. BROWN/AFP

Seu leito é de rocha vulcânica e nele ele plantou cactos, oliveiras e plantas do deserto.

As paredes são revestidas com fibrocimento, um material reciclado resistente ao fogo, as janelas são isoladas e o telhado é reforçado com materiais orgânicos para fornecer uma camada extra de proteção contra possíveis incêndios.

O terreno é protegido por um sistema de irrigação que pulveriza uma substância para retardar a propagação das chamas.

"Se a maioria das casas tivesse sido construída dessa forma, acho que o fogo poderia ter sido contido", disse Kovac, de 62 anos, que continua em choque com a destruição causada por um dos piores desastres naturais da história da Califórnia.

"Custo-benefício"

O arquiteto vê a eventual reconstrução de Pacific Palisades como um momento oportuno para conscientizar sobre a importância de considerar essas medidas de precaução que, segundo ele, não fazem grande diferença do ponto de vista orçamentário.

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"Usar materiais resistentes a chamas pode ser efetivo na relação custo-benefício", disse Kovac. "Revestir as paredes com cimento em vez de madeira pode não alterar o custo em quase nada".

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Imagem: FREDERIC J. BROWN/AFP

Vídeos de câmeras de segurança registraram o inferno que queimou Pacific Palisades, alimentado por fortes rajadas de vento que ajudaram as brasas a se espalharem.

"Quando se trata de brasas, e você está cercado por chamas (...) tudo se resume à escolha do material e dos sistemas para proteger a casa".

Todas as casas do seu bairro foram queimadas até o chão.

"Este é apenas mais um exemplo do que a mudança climática faz", disse Karina Maher.

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"Conhecemos as soluções para retardar seu avanço, além das soluções para nos adaptarmos, e é isso que temos que fazer".

Os incêndios são "uma grande oportunidade em uma situação horrível para tentar incorporar uma série de boas práticas", disse Yana Valachovic, especialista em construção resistente ao fogo da Universidade da Califórnia.

Valachovic recomenda proteger as saídas de ar da casa para evitar a entrada de brasas, usar janelas de vidro temperado resistentes ao calor e repensar a disposição do jardim.

"A adaptação aos incêndios não exige um grande investimento, basta viver de forma um pouco diferente", disse à AFP.

"Novas realidades"

Para além dos códigos de construção, os incêndios abriram um debate muito mais amplo em Los Angeles.

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"O planejamento urbano, que determina onde as pessoas podem construir, é um problema", disse Kovac.

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Imagem: FREDERIC J. BROWN/AFP

O arquiteto está desconfiado da rapidez com que o governo da Califórnia e a prefeitura de Los Angeles assinaram decretos para a reconstrução de Pacific Palisades, por exemplo.

Kovac é a favor de que autoridades e moradores dediquem um tempo para aprender as lições desta tragédia antes de começar a erguer colunas.

Ele também vê isso como uma oportunidade para considerar a crise habitacional que a região enfrenta no novo desenho urbano.

"Precisamos garantir que seja reconstruído como um bairro seguro", disse Kovac. "E que sejam consideradas as novas realidades sobre habitação".

1 comentário

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Alomir Helio Favero Filho

Perfeitas as considerações do arquiteto. Como relatou, medidas simples e óbvias garantem manter o fogo afastado do imóvel e caso atingido, resista, tudo sem comprometer o custo, o conforto térmico e a solidez necessários na Califórnia. Eu incluiria uma revisão e/ou diminuição de vegetação de grande porte em distância de risco para as casas. Uma coisa é óbvia, terá de haver uma mudança urbana sensível em LA e cidades limítrofes. Cidades são organismos vivos e não são estáticas ou inertes.

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