Defesa confirma R$ 34,2 milhões na conta de João de Deus e nega saque
A defesa do médium goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus, voltou a negar, hoje (19), que o cliente tenha sacado cerca de R$ 35 milhões de suas contas bancárias e aplicações financeiras antes de se entregar à Justiça. Em nota divulgada esta tarde, o advogado Alberto Toron informou que o cliente possui R$ 34,281 milhões investidos em um banco privado.
"A defesa obteve a informação de que não houve nenhuma movimentação ou resgate da conta bancária de João de Deus, conforme alardeado pelo Ministério Público em seu pedido de prisão", disse o advogado em nota.
Toron disse ter obtido a informação da gerente da agência em que o médium tem conta, em Anápolis (GO), a cerca de 40 quilômetros da cidade de Abadiânia, onde João de Deus fundou, em 1976, o centro espírita Casa Dom Inácio de Loyola. Até ser acusado por centenas de mulheres por crimes sexuais, o médium atendia entre 3 mil e 5 mil pessoas por semana no local, oferecendo consultas, aconselhamento e cirurgias espirituais, além de vender produtos que ele próprio prescreve a seus seguidores.
A Agência Brasil conversou, por telefone, com a gerente citada pela defesa de João de Deus. Antes de saber que estava falando com o jornalista, a funcionária comentou que o banco está tratando do assunto internamente e que ela não tinha autorização para falar a respeito, principalmente por se tratar de questões que envolve a privacidade de clientes.
Ontem (18), policiais civis de Goiás apreenderam pouco mais de R$ 400 mil em dinheiro e cinco armas de fogo em uma das residências que o médium mantém em Abadiânia. Parte do dinheiro e o armamento estavam guardados no fundo falso de um guarda-roupa. Segundo o delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes, um dos revólveres tinha a numeração raspada. Além das cinco armas, havia também uma pistola de brinquedo.
Os mandados judiciais de busca e apreensão foram cumpridos em três dos vários endereços ligados ao médium, cujo patrimônio inclui várias casas, fazendas, investimentos financeiros e pelo menos um avião modelo Sêneca, da Embraer, fabricado em 1989.
Acusações
As acusações contra João de Deus começaram a vir a público no último dia 7, quando o programa Conversa com Bial, da TV Globo, divulgou as primeiras entrevistas com mulheres que afirmam ser vítimas de crimes sexuais praticados pelo médium ao longo de décadas. A partir daí, outras mulheres começaram a procurar as autoridades e a imprensa, relatando fatos semelhantes. Até a noite da última segunda-feira (17), a força-tarefa criada pelo MP-GO para apurar o assunto já tinha feito 506 atendimentos a pessoas que entraram em contato com o órgão por meio do endereço eletrônico denuncias@mpgo.mp.br, pelos telefones 62 3243-8051 e 8052 ou presencialmente.
O MP-GO, no entanto, destaca que ainda não é possível afirmar se todos os contatos serão convertidos em denúncias. Isso porque, ainda que a consistência dos relatos seja avaliada desde o primeiro momento, os promotores têm que verificar quais caracterizam potenciais casos de abuso sexual e descartar aqueles contatos que não passam de desabafos ou de denúncias em duplicidade.
No dia 14, o Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) acatou pedido do Ministério Público de Goiás e da Polícia Civil do estado e determinou a prisão preventiva do médium goiano. O mandado de prisão, no entanto, só foi executado no último domingo (16), quando João de Deus se entregou às autoridades policiais goianas. Antes disso, o Ministério Público anunciou que, antes de ser considerado foragido, o médium retirou R$ 35 milhões de contas e aplicações financeiras logo após as primeiras denúncias de abuso sexual se tornarem públicas (fato hoje negado pela defesa). A informação acelerou a decretação da prisão preventiva.
No último dia 12, dois dias antes que sua prisão preventiva fosse decretada, João de Deus compareceu à Casa Dom Inácio, onde permaneceu por menos de dez minutos. "Quero cumprir a lei brasileira. Estou nas mãos da Justiça. O João de Deus ainda está vivo", declarou o médium antes de deixar o local, alegando estar passando mal, e só reaparecer cinco dias depois, para ser preso e conduzido para o Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia (GO), onde está detido temporariamente em uma cela de cerca de 16 metros quadrados.
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