Topo

Brasileiros descobrem substância em frutas que pode ajudar contra picada de jararaca

 Pesquisadores do Instituto Butantan manuseiam um filhote de jararaca - Jayme de Carvalho Jr./Folhapress
Pesquisadores do Instituto Butantan manuseiam um filhote de jararaca Imagem: Jayme de Carvalho Jr./Folhapress

24/12/2018 11h17

Pesquisa feita no Instituto Butantan demonstrou que uma substância encontrada em plantas e frutas tem efeito protetor contra o veneno da cobra jararaca.

O veneno da jararaca responde por cerca de 70% dos acidentes com serpentes peçonhentas no estado paulista.

A pesquisa, que foi realizada em 72 camundongos, mostrou que a rutina, uma molécula comum em plantas e alimentos, foi capaz de protegê-los de problemas de sangramento e de inflamação decorrentes do veneno da serpente. O trabalho é de Marcelo Larami Santoro, Ana Teresa Azevedo Sachetto e Jaqueline Gomes Rosa, produzido pelo Laboratório de Fisiopatologia do Butantan, em São Paulo.

A rutina é um flavonoide que serve de pigmento a diversos vegetais e frutas, tais como cerejas, framboesas e maçãs, dando a eles cores vibrantes, com alto poder antioxidante e anti-inflamatório.

O efeito observado na pesquisa poderá ajudar no tratamento das picadas de serpentes, principalmente nos considerados secundários, tal como a formação de coágulos sanguíneos. "O envenenamento por picadas de jararaca causa problemas de coagulação, que resultam do aumento da atividade do fator tissular. A atividade do fator tissular é controlada pela enzima PDI e sabemos que a rutina tem o poder de inibir a PDI. Pensamos que seria possível usar a rutina para evitar a expressão do fator tissular nos casos de envenenamento, reduzindo assim complicações secundárias como a coagulação sanguínea", explicou Santoro.

O veneno da jararaca responde por cerca de 70% dos acidentes com serpentes peçonhentas no estado paulista. "No envenenamento, aumenta a atividade do fator tissular. No grupo de animais nos quais injetou-se veneno e rutina, verificamos que a rutina reduziu o distúrbio da coagulação, protegendo assim o organismo dos camundongos das ações de coagulação do envenenamento", disse Santoro. "No entanto, não sabemos qual foi o alvo da rutina ou de que forma ela agiu no organismo dos animais para controlar o fator tissular", ressaltou.

De acordo com Santoro, novos estudos serão necessários para compreender melhor a atividade da rutina.  "A pesquisa sugere que a rutina tem um grande potencial como uma droga auxiliar em conjunto com a terapia antiveneno para tratar picada de cobra, particularmente em países onde a disponibilidade de antiveneno é escassa", disse.