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Opas alerta para surtos recorrentes da covid-19 nos próximos anos

Paciente com coronavírus em UTI de hospital em São Paulo (SP); para diretora da OPAS, viveremos os próximos dois anos alternando surtos recorrentes - Amanda Perobelli
Paciente com coronavírus em UTI de hospital em São Paulo (SP); para diretora da OPAS, viveremos os próximos dois anos alternando surtos recorrentes Imagem: Amanda Perobelli

24/06/2020 16h40

A região das Américas registra quase a metade de todos os casos de contaminação pela covid-19 no mundo. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), até ontem haviam sido registrados mais de 4,5 milhões de casos e 226 mil mortes na região, e seguem aumentando. Para Carissa Etienne, diretora do organismo, viveremos os próximos dois anos alternando surtos recorrentes e períodos de transmissão controlada do novo coronavírus.

Etienne lembrou que esta semana o Brasil superou a barreira de um milhão de infectados, ultrapassando, assim como os Estados Unidos, os seis dígitos. "Os Estados Unidos representam 51% de todos os casos e 53% de todas as mortes na região das Américas, e o Brasil representa 25% de todos os casos e 23% de todas as mortes. Combinados, esses dois países representam 76% de todos os casos e de todas as mortes na região", disse.

Nas Américas, nas últimas 24 horas, foram notificados 68.785 novos casos de contaminação e 2.274 óbitos, o que representa um aumento relativo de 2% nos casos e um aumento relativo de 1% nas mortes, em comparação ao dia anterior.

Números preocupantes

Etienne lembrou que, no dia 23 de maio, a região registrava 690 mil casos de contaminação. Em 23 de junho, exatamente um mês depois, o número já extrapolava os 2 milhões de infectados. De acordo com a diretora, apesar dos números muito preocupantes, a região conseguiu impedir uma tragédia maior com medidas preventivas de fortalecimento dos sistemas de saúde pública.

"Manter essas medidas não foi fácil, especialmente devido a sua incidência socioeconômica. E, agora, os governos estão sendo pressionados a flexibilizar restrições por motivos econômicos e políticos, apesar do aumento de contágios", disse Etienne.

Para Etienne, cada país deverá coordenar a sua resposta à covid-19 com uma base de dados cada vez mais detalhada, e os governos deverão tomar decisões levando em conta de maneira simultânea a saúde e os indicadores econômicos e sociais.

A diretora da OPAS a ação permitirá que os funcionários da saúde entendam onde está aumentando o contágio e quais grupos têm mais riscos.

"As medidas de proteção social deverão ser examinadas sistematicamente para reduzir ao máximo a incidência do vírus em nossas sociedades", disse Etienne, reforçando a dificuldade que muitos grupos têm em seguir as recomendações de isolamento. "As famílias informais, que vivem em casas superlotadas, os indígenas, as populações afrodescendentes que vivem em condições precárias, sem acesso à água corrente nem sabão. É por isso que é tão importante ter políticas e programas que combatam os problemas das populações vulneráveis. A pandemia mostrou como os mais vulneráveis são afetados de maneira desproporcional por essa doença".

Testes

O diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis da Opas, Marcos Espinal, disse que o Brasil conseguiu aumentar o número de testes PCR para diagnóstico da covid-19 nas últimas semanas. "Mas o Brasil ainda não chega a 10 mil testes para cada milhão de habitantes. Então é necessário que aumente. O Brasil é muito vasto e com diferentes densidades populacionais", disse o diretor.

Ainda segundo Espinal, São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará são os que realizam o maior número de testes hoje. "São Paulo já fez mais de 350 mil. No entanto, quando vemos a quantidade de testes em relação à densidade populacional, São Paulo e Rio estão muito abaixo de outros, como Roraima, um estado menos povoado, mas que tem uma ampla capacidade de testagem. Ou seja, é importante não generalizar, mas é necessário aumentar [a testagem] porque é o que nos dá a magnitude de como andam os estados. E, assim, os tomadores de decisão possam decidir o que é melhor para a população brasileira".