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Meirelles diz não ter presenciado nada 'ilícito ou ilegal' durante o governo Lula

Eduardo Rodrigues e Lorenna Rodrigues

Brasília

10/03/2017 12h59Atualizada em 10/03/2017 18h13

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse não ter presenciado nada "ilícito ou ilegal" durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva, quando foi presidente do Banco Central. Meirelles também afirmou que sua relação com parlamentares se restringia a depoimentos em comissões e não teve conhecimento sobre compra de apoio no Congresso Nacional.

As declarações foram dadas em depoimento por videoconferência ao juiz Sérgio Moro, em ação penal no âmbito da Lava Jato, que investiga supostos crimes de lavagem de dinheiro do ex-presidente. O vídeo do depoimento foi divulgado nos autos do processo.

No vídeo, Meirelles é questionado apenas pela defesa do ex-presidente. Moro não fez nenhuma pergunta e chegou a brincar que teria questionamentos econômicos, mas que aquela não era a ocasião apropriada para fazê-los.

A defesa de Lula perguntou se o ministro, enquanto presidente do Banco Central, identificou alguma prática indevida, como, por exemplo, Lula comandar um esquema de corrupção no governo. "Minha relação com o presidente era totalmente focada em assuntos do Banco Central ou de política econômica. Nunca vi ou presenciei nada que pudesse ser identificado como ilícito ou ilegal", afirmou.

Os advogados de Lula também perguntaram a Meirelles se, no contato com parlamentares para cumprir funções do Banco Central, ele teria tomado conhecimento de algum dado que pudesse indicar que o governo estaria promovendo a compra de apoio para expandir sua base no Congresso.

Meirelles respondeu que a relação dele com o Parlamento se restringia a depoimentos em comissões e à prestação de contas do BC ao Senado. Sob seu comando, reforçou, a autoridade monetária não se envolveu em políticas de governo ou na relação com parlamentares.

"Não tive conhecimento (sobre compra de apoio), porque minhas presenças no Congresso diziam respeito exclusivamente a assuntos do BC. Para ser mais preciso, pode ter havido algum parlamentar que pediu audiências ao BC para mencionar situação específica de interesse do Banco Central, mas não tive nenhum tipo de conhecimento ou interação com outros assuntos que não fossem do BC", afirmou Meirelles.

A defesa de Lula insistiu no questionamento sobre se Meirelles teve conhecimento de fato que indicassem a presença de uma estrutura criminosa no governo chefiada diretamente pelo ex-presidente. "Não tive acesso a nenhuma informação sobre isso, me limitava aos assuntos do BC", repetiu o ministro.

Independência

Meirelles confirmou ainda que Lula cumpriu a promessa de dar independência operacional a ele na presidência do Banco Central, cargo em que permaneceu durante todo o período que compreende os dois mandatos do petista (2003-2010). "Independente de desacordos que tive com outros membros do governo e outros ministros, sempre tomei decisões no BC de forma independente e o presidente Lula me manteve no cargo", relatou.

Resultados econômicos

O ministro também foi perguntado sobre os resultados econômicos do governo Lula e avaliou que o grande fator daquele período foi a estabilização da inflação e da economia, com a queda dos custos financeiros e dos juros para as empresas. "Isso levou ao aumento do crédito e do crescimento. Paralelamente, o governo adotou políticas de cunho social para complementar a renda da população mais necessitada", afirmou.

Pergunta impugnada

A defesa de Lula ainda chegou a perguntar se, na avaliação de Meirelles, o governo Lula teria trazido benefício para o País, e não benefícios próprios para pessoas do governo, mas essa pergunta foi impugnada pelo juiz Sérgio Moro, que disse não "ser apropriado fazer propaganda política" no depoimento.

Em nota divulgada à tarde e assinada pelo advogado Cristiano Zanin Martins, a defesa do ex-presidente criticou a decisão de Moro. "Houve claro objetivo de interromper uma arguição pertinente e favorável, num notório desrespeito ao trabalho da defesa. Há uma clara opção de deixar ofuscar os sólidos argumentos que a defesa leva ao processo com incidentes periféricos gerados pelo juiz", diz o texto.

O comunicado diz ainda que os depoimentos de Henrique Meirelles e Luís Fernando Furlan, que foi ministro do Desenvolvimento Indústria e Comércio no governo Lula e também foi ouvido hoje, esvaziaram as acusações contra o ex-presidente.