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Nova ação da Lava Jato é a 1ª com base em delação da Odebrecht

Marcos Bezerra/Futura Press/Folhapress
Imagem: Marcos Bezerra/Futura Press/Folhapress

Beatriz Bulla, Fabio Serapião, Julia Affonso, Fábio Fabrini e Fausto Macedo

São Paulo

21/03/2017 10h36

A nova fase da Operação Lava Jato deflagrada na manhã desta terça-feira (21) usa trechos das delações de 78 executivos e ex-executivos da Odebrecht, que foram homologadas em 30 de janeiro. Essa é a primeira operação cumprida a partir de autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) com base no que foi delatado pelos executivos da Odebrecht.

A operação foi autorizada pelo Supremo por envolver alvos ligados a autoridades com foro privilegiado. Os alvos desta etapa não são políticos, mas pessoas ligadas aos senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), Humberto Costa (PT-PE), Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Valdir Raupp (PMDB-RO).

As revelações de ex-executivos da empreiteira podem ser usadas não só para pedir novas investigações ao STF, como a Procuradoria Geral da República fez na semana passada com a chamada "nova lista de Janot", em referência ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot; como também para pedir medidas em inquéritos que já estão em andamento.

Por isso, apesar de o material enviado pela Procuradoria no último dia 17 ainda não ter sido analisado no STF, é possível realizar medidas de busca e apreensão com base na delação da Odebrecht.

Os pedidos para realizar uma operação normalmente fazem parte de um procedimento chamado de "ações cautelares" solicitadas pela Procuradoria  ao STF em separado - para que permaneçam em absoluto sigilo até o dia do seu cumprimento. No caso de novas delações, as cautelares podem ser anexadas em inquéritos que já estavam abertos antes na Corte.

Assim, a operação desta terça pode ter sido autorizada pelo STF em cautelares ligadas a inquéritos já em andamento. Isso porque as revelações da empreiteira não só abrem frentes novas de apuração como reforçam linhas de investigação que já estavam na mira da Procuradoria.

Já os novos pedidos feitos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no dia 17 ainda precisam ser analisados pelo relator da Lava Jato no STF, ministro Luiz Edson Fachin.

O material foi entregue pela Procuradoria há uma semana, mas só deve chegar nesta terça-feira às mãos do ministro devido a trâmites internos no STF. Na última semana, a PGR enviou ao Supremo 320 pedidos com base nas delações da empresa - entre eles 83 solicitações de novos inquéritos.

O que dizem os senadores

A assessoria de Renan Calheiros informou que ninguém que trabalha com o senador em Brasília ou em Alagoas é alvo da operação desta terça.

Em nota divulgada, Eunício Oliveira disse que na campanha de 2014 autorizou que fossem solicitadas doações "na forma da lei" para sua campanha ao governo do Ceará. O texto afirma ainda que os pedidos de abertura de inquéritos ao STF para apurar "versões de delatores cujo conteúdo desconhece" seria o "caminho natural" do processo. "O senador tem a convicção de que a veracidade dos fatos prevalecerá", diz a nota.

Também em nota, Humberto Costa informou que as investigações de hoje vão apontar o "teor infundado da acusação" e que a PF já havia solicitado o arquivamento de um inquérito aberto no STF contra ele. O petista também afirmou estar à disposição das investigações e defendeu a "inexistência de qualquer elemento que desabone a sua vida pública", diz o texto.

Por meio de nota, a defesa de Raupp afirma que senador "desconhece o teor da nova fase da Lava Jato em andamento, mas está sempre à disposição do poder público para esclarecer fatos que digam respeito a si".