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Estudante de Medicina da USP denuncia racismo em evento esportivo

Entrada do prédio da Fmusp (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) - Rubens Cavallari/Folha Imagem
Entrada do prédio da Fmusp (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) Imagem: Rubens Cavallari/Folha Imagem

Luiz Fernando Toledo

São Paulo

08/09/2017 17h32

Um estudante do 4º ano de Medicina da Fmusp (Universidade de São Paulo), de 24 anos, relatou ter sido vítima de racismo durante a competição esportiva Intermed, entre alunos da medicina, realizada nesta semana.

O aluno afirmou que durante uma das partidas de vôlei feita em Barretos contra os cursos das Pontifícia Universidade Católica de Sorocaba (PUC Sorocaba) e PUC Campinas, na segunda-feira (4) recebeu ofensas sobre sua cor.

"Eu estava no aquecimento e ouvi alguém dizendo 'olha a sua cor, você é negro, com certeza passou por cotas'", contou. Ele não conseguiu identificar quem o ofendeu. Depois do episódio, o estudante publicou um texto em seu perfil no Facebook narrando o episódio.

Na quarta-feira (6) em outro jogo, o aluno relatou novo ataque. Um vídeo que circula nas redes sociais mostra uma menina na torcida com um cacho de banana nas mãos, que, de acordo com a vítima, seria uma referência racista. "Começaram a imitar sons de macaco", relatou.

Em seguida, gritaram "textão de Facebook", em referência ao fato de o estudante ter denunciado o episódio de racismo no início da semana. A publicação dele teve 1,4 mil curtidas e mais de 200 compartilhamentos.

Alunos de ambas as universidades repudiaram o ato. Em nota, os coletivos "emente e Feminista Maria, Maria, de alunos da PUC, lembraram que este tipo de prática já aconteceu em outros anos e cobraram posicionamento da atlética da PUC Campinas, a Associação Acadêmica Atlética Carlos Osvaldo Teixeira.

A reportagem não havia conseguido contato com a entidade até a publicação desta matéria.

Outros casos

Trotes e ações consideradas racistas já foram relatadas por alunos de universidades paulistas em outros anos. Em abril de 2015, por exemplo, a PUC Campinas abriu sindicância para investigar um episódio no curso de Direito.

Em uma discussão na internet, um estudante negro foi alvo de uma montagem com a frase "a tocha da Klu Klux Klan (KKK, a seita racista americana) chega a tremer" depois de sair em defesa de uma colega.

Em outra imagem, uma mulher negra posa para uma foto ao lado de três pessoas vestidas de membros da KKK, com a frase "nego perdeu a noção do perigo. Em março, calouros foram recebidos na Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) com roupas semelhantes à da KKK, embora os responsáveis neguem e digam que a fantasia era de "carrascos".

A reportagem tentou contato na quinta-feira, 7, com as PUCs de São Paulo, Campinas e Sorocaba, mas não obteve retorno.

CPI

Instaurada em 2014, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Trote apurou uma série de violação de direitos humanos em universidades paulistas. A maioria das denúncias vinha de cursos de Medicina.

Além de trotes com ingestão de fezes, castigos físicos e humilhações, o relatório final da CPI apontou que, mesmo depois do período inicial do curso, práticas violentas continuavam a acontecer entre os alunos. A comissão recomendou que alunos com histórico "trotista" não pudessem participar de concursos públicos.