'Eu não descarto me licenciar por um período', afirma Kassab
Escolhido pelo governador eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), para chefiar a Casa Civil de sua futura gestão no Palácio dos Bandeirantes, o ministro Gilberto Kassab, principal líder do PSD, disse em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" que está "avaliando" se licenciar do cargo para cuidar de sua defesa.
Alvo de uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal decorrente de uma delação da J&F, Kassab disse que não teme ser preso e se defende das acusações.
O apartamento do sr. foi alvo de uma ação da Polícia Federal. Seu sigilo bancário foi quebrado e o sr. foi acusado de receber vantagens indevidas das empresas de Joesley Batista. Como explica essa situação?
Estou na vida pública há muito tempo. Em todos os cargos que ocupei, eu manifestei o meu profundo respeito pelo Poder Judiciário, pela imprensa e pelo Ministério Público. Não está sendo diferente agora. O papel deles é apurar denúncias. Temos de ter humildade para entender que eles exercem o seu papel numa conjuntura de tanta descrença e tantos absurdos no campo da corrupção.
Então, o sr. não faz coro aos que criticam supostos abusos da Lava Jato?
Abuso não pode acontecer. No meu caso, é um inquérito que está acontecendo. Tenho a humildade para entender que tenho de estar sujeito a essa operação. Por outro lado, tenho plena convicção que esse inquérito em breve vai chegar à conclusão da absoluta seriedade das minhas ações.
Isso causa constrangimento ao governador eleito, João Doria? Ele chegou a cogitar que o sr. não assumisse a Casa Civil do Palácio dos Bandeirantes?
Estou convidado. Ele fez uma manifestação pública de solidariedade. Estou muito tranquilo. Tomo posse agora e essa secretaria que eu vou assumir, a Casa Civil, é eminentemente política. Eu disse ao Doria que a política é muito lenta. Tem recesso (parlamentar) e a relação com deputados. Não pude me afastar do governo federal.
A partir de janeiro, não descarto me licenciar por um período para me dedicar... estudar melhor o tema
Comentei com o governador eleito. Doria disse para eu fazer o que fosse da minha conveniência. Foi muito correto. Estarei na posse.
Mas a denúncia contra o sr. não é um constrangimento para ele?
Esse incômodo maior será para mim. Estou com os bens bloqueados há um tempo bastante grande, o que me obriga a ter dinheiro em casa, porque não posso movimentar a minha conta bancária.
Por isso que o sr. tinha R$ 300 mil em casa?
Sim, é por isso. O primeiro pedido de bloqueio de bens foi no final do ano passado. Eu tinha de me preparar. Tenho os meus gastos, de uma maneira legal. Essa é a razão. Tudo isso traz um incômodo. Estou na vida pública há muito tempo.
Quem não tiver humildade para conviver com isso, é melhor não estar na vida pública. Confio no Judiciário
Como e quando será esse licenciamento do cargo?
Como minha atuação é política, tanto faz se estou dentro ou fora do governo.
Então, pode continuar ajudando Doria mesmo fora do governo?
Se eu me licenciar, é muito mais uma ação de respeito ao eleitor para ter liberdade e tempo. Como minha atuação é política, tanto faz se estou dentro ou fora do governo. Estou avaliando. Ainda estou vivendo o governo Temer. Essa é a minha prioridade. Até terça ou quarta encerro minhas atividades. Aí eu volto para pensar como conduzir isso.
Não está preocupado com o foro privilegiado?
Não tenho nenhuma preocupação com o foro. Jamais tive. O foro praticamente acabou. Minha consciência está tranquila.
Doria inicia o mandato em São Paulo com um discurso muito nacional. Ele já é um nome para o Palácio do Planalto em 2022? E como fica a sucessão no Estado?
O Bolsonaro tem duas opções: reeleição ou não ser (candidato em nova eleição). Ele tem dito que não será candidato outra vez. Mas a gente que tem um pouco de experiência sabe que, se ele fizer uma boa gestão, vai ser legitimamente pressionado por seus eleitores a continuar. Essa é uma decisão dele. Até agora, ele tem acertado mais do que errado na montagem do governo. E o Doria? O Doria tem quatro opções. Pode ser candidato à Presidência da República, a vice, reeleição (ao governo paulista) ou ir para casa. Ele tem sido um leal companheiro do Bolsonaro. Ele pode ser vice do Bolsonaro, pode ir para casa, pode ser candidato à Presidência. É sincera a disposição dele de não ser candidato à reeleição. Ele vai fazer um bom governo. As circunstâncias apontam que a candidatura do Rodrigo (Garcia, vice-governador eleito) será natural em 2022.
Sobre a suposta mesada da J&F, que serviços o sr. prestou para a empresa?
Empresas da minha família já prestavam serviço antes mesmo dos atuais controladores. Eram três contratos, de aluguel de caminhões. Estou muito tranquilo sobre essa questão.
O sr. concorda com a tese de que deve existir limites nas delações premiadas?
Temos de reconhecer que a delação premiada funciona. Está funcionando. Felizmente, veio para ficar. Não posso deixar de enaltecer algo que tornou mais transparente a vida pública. Me alinho àqueles que defendem as delações. Defendo as delações.
O sr. teme ser preso?
Não. Só teme ser preso quem acha que cometeu um ilícito. Eu não cometi.
O sr. foi ministro da Dilma, do Temer e agora será secretário do Doria. Isso se enquadra na categoria do fisiologismo?
Vamos ser claros aqui. O PSDB acabou tendo um enfrentamento conosco na nossa fundação. Nesse enfrentamento, o PSD acabou se consolidando. Uma parte expressiva do partido veio de Estados que tinham apoiado o PT. Foi o caso da Bahia. O (Otto) Alencar era vice do então governador Jaques Wagner. Em 2014, na nossa aproximação tática para fazer o enfrentamento com o PSDB, nós acabamos fazendo uma aliança com o PT. Teve zero de fisiologismo. Fomos o primeiro partido a dar apoio ao PT. Não havia identificação ideológica nenhuma com o PT. O PSD é um partido de centro.
Antes não era centro, direita nem esquerda...
Todo mundo fala isso hoje. Essa pergunta foi antes de nascer o partido juridicamente. O que eu disse naquela época é que íamos definir o posicionamento ideológico. Se íamos ser mais à direita, esquerda ou ao centro. Depois, com o passar do governo (Dilma), começaram a vir as denúncias. Fizemos uma reunião da direção do partido e o PSD definiu por liberar a bancada, que estava dividida sobre o impeachment. A bancada acabou tendo um posicionamento majoritário pelo impeachment. Mais de 80%.
Para os petistas, isso foi uma traição...
Não foi traição. Foi sempre muito claro. Mais de 80% da bancada votaram a favor do impeachment.
Que marca o sr. deixa de sua gestão à frente do ministério?
Temos duas instituições que estavam em sérias dificuldades. Os Correios estavam literalmente quebrados. Oito mil funcionários foram desligados pelo PDV (Programa de Demissão Voluntária). Em 2018, a empresa começou a fazer lucro operacional. Recuperou patrimônio líquido. Hoje, temos em caixa R$ 1,2 bilhão nos Correios. Isso significa algo muito expressivo. O Internet para Todos recebeu um investimento expressivo e vai mandar banda larga para todos os cantos do País. O CNPQ, nós encontramos endividado. Recuperamos a credibilidade do CNPQ. Pagamos antecipadamente os bolsistas do exterior.
As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".
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