Altamira vive explosão de assassinatos
Usuário de droga, Lima foi morto em 17 de junho, supostamente por conflito entre facções criminosas em Altamira (PA), um dos municípios mais violentos do País. A crise de segurança na cidade teve seu principal episódio esta semana: o massacre com 58 presos mortos em ataque promovido pelo grupo Comando Classe A (CCA) contra o Comando Vermelho (CV).
No início dos anos 2000, Altamira tinha taxa de 11,3 homicídios por 100 mil habitantes, o equivalente a de cidades com bom patamar de segurança. Mas, nas últimas décadas, viu a taxa saltar para 135,5 em 2017, o que a põe entre as piores do País. "Na mesma semana, tinham morrido duas adolescentes na região", relata Maria Raimunda. Entre 2000 e 2017, a taxa no Brasil foi de 24,8 para 31,6.
O Atlas da Violência, estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), chegou a classificar em 2015 Altamira como a mais violenta do Brasil, posto do qual não se distanciou. Segundo a Polícia Civil do Pará, o conflito entre facções seria o principal motivo dos homicídios.
Embora tenha sido fundada em 2008, a facção local CCA também tem demonstrado mais força recentemente. Conforme investigações, o grupo se aliou à facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) e tenta evitar a interiorização do CV, que comanda Belém.
Lima seria filiado ao CV e a principal suspeita é de que tenha sido morto por rivais do CCA na periferia de Altamira. "Não quero acreditar que meu filho fazia parte de facção", diz a mãe. "O que matou meu filho é a mesma coisa que motivou os assassinos: a ilusão das drogas."
Transformação
Com 159 mil km² - mais do que Portugal -, Altamira é o maior município em extensão territorial do País. Segundo especialistas, o avanço da violência lá também está relacionado à transformação causada pela usina hidrelétrica Belo Monte, na bacia do Rio Xingu. Com isso, a cidade viu a população crescer sem que os serviços públicos, entre eles a segurança, acompanhasse a mudança.
Para a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, "dezenas de milhares de pessoas" foram levadas à região por causa do megaprojeto e depois ficaram abandonadas à própria sorte. "Temos acompanhado casos cada vez mais graves de violência, assaltos, estupros e chacinas, sem nenhuma medida preventiva eficaz por parte do poder público." Dados do Ministério da Saúde mostram que a taxa de homicídios na cidade já crescia antes de 2011, quando começou a construção da usina. O pico, entretanto, foi ainda mais significativo após aquele ano.
"Antes, a gente colocava cadeiras na rua e ficava a noite inteira conversando. As crianças podiam brincar. Isso acabou: vive todo mundo com medo", diz a dona de um restaurante, que não quis se identificar. Semana passada, o estabelecimento foi invadido e furtado, segundo conta.
O pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz, autor do Mapa da Violência, vê elo entre a deterioração da segurança em Altamira e o aumento da criminalidade em outros pontos do País. Na virada do século, os índices de homicídio, historicamente mais altos nas capitais, subiram nas regiões metropolitanas e em cidades médias. Isso, diz, tem a ver com o desenvolvimento econômico dessas regiões não ter sido acompanhado pelo aparato de segurança. "Muita circulação de dinheiro e pouca polícia é o que busca a criminalidade."
Superintendente da Regional do Xingu, o delegado Walison Magno contesta a metodologia e diz que a cidade tem reduzido casos. "Se alguém for baleado na cidade vizinha e morrer em um hospital de Altamira, a estatística vem para cá", afirma.
Procurado para comentar os dados, o governo do Pará não se manifestou. Já a Norte Energia disse refutar o que chamou de ilações de "explosão de criminalidade depois da construção do empreendimento". "Altamira é um município historicamente considerado violento." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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