Topo

"Irmã Dulce não fazia o bem pela metade", diz maestro que convivia com cegueira

José Maurício Moreira voltou a enxergar depois de anos; cura é atribuída à milagre de Irmã Dulce - Sara Gomes/Arquidiocese de Salvador
José Maurício Moreira voltou a enxergar depois de anos; cura é atribuída à milagre de Irmã Dulce Imagem: Sara Gomes/Arquidiocese de Salvador

Renata Farias, especial para o Estado

Salvador

11/10/2019 12h00

Em comum, a fé na santa e a incredulidade dos médicos. A religiosa baiana Maria Rita Lopes Pontes, mais conhecida como Irmã Dulce, será elevada aos altares, ou seja, canonizada, no próximo domingo, dia 12, graças a milagres concedidos a uma grávida e a um cego. Será a primeira santa católica nascida no Brasil, destaca o jornal O Estado de S. Paulo.

Necessário para a canonização, o segundo milagre reconhecido pelo Vaticano foi a cura instantânea da cegueira do maestro José Maurício Moreira, atualmente com 51 anos, que convivia com a cegueira havia 14 quando ocorreu o que era considerado impossível. "Eu descobri que tinha glaucoma em 1992, com 23 anos. Tratei essa doença durante quase dez anos, mas não foi o suficiente porque, quando eu descobri, já tinha perdido muito do nervo óptico", conta Moreira. Apesar de passar por alguns tratamentos, em 2000 estava completamente cego.

Foi em 2014, ao contrair uma conjuntivite com sintomas muito intensos, que o maestro fez um pedido a Irmã Dulce e recebeu muito mais do que esperava. "Em uma noite de muita dor e sofrimento, eu peguei uma imagem de Irmã Dulce, coloquei sobre os olhos e, com toda a fé que sempre tive, pedi que ela curasse minha conjuntivite. Não pedi para voltar a enxergar, os médicos já tinham dito que eu praticamente não tinha mais nervo óptico." Algumas horas depois, ele foi capaz de ver as próprias mãos, e a "nuvem de fumaça" que bloqueava seus olhos começou a se dissipar gradativamente.

Houve ainda uma segunda surpresa, após a alegria de recobrar a visão. Ao se consultar com o médico que já cuidava da conjuntivite, o maestro foi informado de que nada havia mudado fisicamente.

De acordo com os exames clínicos, ele continuava cego, já que o nervo óptico estava muito danificado. "Irmã Dulce era assim: se alguém pedisse a ela para subir dois degraus, ela já colocava a pessoa lá em cima na escada. Ela não fazia o bem pela metade, ia até o final", acrescenta.

A imagem da freira utilizada naquele momento pertencia anteriormente à mãe. José Maurício Moreira cresceu assistindo às contribuições de sua família às ações de Irmã Dulce e chegou a conhecê-la. Em entrevista ao Estado, ressaltou que, para os baianos, o "Anjo Bom" sempre foi santa.

O parto

Já o primeiro milagre atribuído à Irmã Dulce, que levou à beatificação (estágio anterior à canonização) em 22 de maio de 2011, agraciou uma mulher que não a conhecia antes do episódio. Claudia Santos, hoje com 50 anos, recuperou-se de uma grave hemorragia pós-parto, cujo sangramento foi subitamente interrompido.

Moradora do município de Malhador, no interior de Sergipe, deu à luz o segundo filho em 2001. Após o parto normal, ela apresentou uma hemorragia incontrolável, que a levou à UTI. Os médicos realizaram todos os procedimentos possíveis, mas já havia poucas esperanças de salvar a vida da paciente. "Chegou um momento em que o médico falou para minha família que não tinha mais o que fazer, só aguardar o falecimento", afirma.

A paciente foi então transferida para a capital do Estado, Aracaju, onde recebeu a visita de um religioso de sua cidade. "Padre Almir foi me visitar e levou uma santinha, Irmã Dulce. Ele rezou e me entregou a santinha. Depois disso, foi cada dia uma melhora", acrescenta Claudia. Segundo ela, nem o médico que realizou o parto acreditou quando a viu chegar ao hospital para uma revisão. Hoje, Claudia Santos é devota de Irmã Dulce e agradece sua vida à intercessão naquele momento.

Processo

Iniciado em janeiro de 2000, o processo de canonização da Santa Rita dos Pobres foi o terceiro mais rápido da história contemporânea da Igreja Católica, atrás de João Paulo II (nove anos após sua morte) e Madre Tereza de Calcutá (19 anos depois). "Foi um dos processos mais rápidos da atualidade", comenta o Frei Giovanni Messias, reitor do Santuário de Irmã Dulce.

Ele explica que, "para acontecer tanto o processo de beatificação quanto de canonização, é preciso uma análise minuciosa da vida do candidato, até mesmo para comprovar as virtudes de santidade, fé, caridade, amor, esperança". Para finalizar o processo de canonização, excluindo o caso de mártires, cobra-se a comprovação de dois milagres. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.