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Grupo dos EUA não vê elo entre navio Bouboulina e óleo no litoral brasileiro

André Borges

Brasília

14/11/2019 08h03

Uma organização americana especializada em análises do mar via satélite afastou suspeitas sobre o navio-tanque Bouboulina. A embarcação da empresa grega Delta Tankers é investigada pela Polícia Federal e pela Marinha nas apurações sobre o derramamento de óleo no litoral brasileiro. Segundo a Skytruth, que reúne entre seus fundadores empresas e organizações como Google e Oceana, os dados sobre o percurso do navio não indicam comportamento atípico.

No dia 2, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão em duas empresas no Rio que teriam relação com a empresa grega. A Delta Tankers negou envolvimento e se dispôs a colaborar com as investigações.

Em entrevista exclusiva, o presidente da Skytruth, John Amos, afirmou que, depois de analisar todas as informações divulgadas pelas instituições brasileiras e de confrontar os dados técnicos com as investigações feitas pela instituição, que está baseada em Novo México, nos Estados Unidos, concluiu que não há evidência efetiva de que o óleo teria sido derramado pelo Bouboulina.

"Não vemos por quê o Bouboulina é considerado a provável fonte de óleo que vem lavando as praias do Brasil desde o início de setembro", disse Amos. As análises sobre a embarcação, segundo a Skytruth, mostram que o Bouboulina transmitiu, de forma regular e sem interrupções, todas as informações de sua faixa de AIS (sigla de Automatic Identification System, um sistema de monitoramento de embarcações usado internacionalmente), depois que deixou o Porto de Jose, na Venezuela, onde teria abastecido seu tanque com uma carga de petróleo bruto.

"Alguns desses navios não transmitem consistentemente um sinal de rastreamento público, o que é uma violação do direito marítimo internacional, mas o Bouboulina transmitiu essas informações", afirma Amos.

A investigação da entidade mostra que a trilha percorrida pelo Bouboulina passou pela costa norte do Brasil, permanecendo principalmente em águas internacionais e chegando a menos de 150 milhas náuticas (278 km) da costa. O navio seguiu pelo Atlântico até chegar ao porto na Cidade do Cabo, na África do Sul. O percurso, segundo a Skytruth, foi feito de forma estável e sem alterações de velocidade ou direção que pudessem indicar comportamento suspeito ou um grande problema mecânico.

A Skytruth também questiona imagens de satélite divulgadas pelas investigações brasileiras, que mostrariam grande mancha de óleo na área pela qual o Bouboulina passou ao atravessar a costa. Na avaliação dos especialistas americanos, a imagem não indica óleo. A origem do poluente, para a empresa, segue desconhecida. Não se descarta a possibilidade de um naufrágio, o derramamento de uma embarcação ou o vazamento de um poço, por causa de falha durante a perfuração.

Hipóteses

Na semana passada, uma análise da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) realizada a partir da plataforma Marine Traffic, provedora mundial de trajetórias de navios, também indicou que o vazamento de óleo não teria sido causado pelo petroleiro grego, mas por um navio fantasma, que costuma desligar o sistema de rastreamento por satélite.

A reportagem questionou a Marinha sobre os apontamento da Skytruth e, até as 21 horas de ontem, não houve posicionamento. A empresa de Brasília que apoiou as investigações brasileiras e apontou o Bouboulina como a origem do derramamento, a Hex Tecnologia Geoespacial, também foi procurada, mas não se manifestou. Em nota, a Petrobras informou que "não faz parte da investigação sobre a ocorrência que originou o vazamento de óleo". A empresa reiterou que o óleo encontrado nas praias "não é produzido nem comercializado pela companhia". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.