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Quarto ato do Passe Livre contra aumento das tarifas é marcado por confusão

Polícia dispersou os manifestantes com bombas e balas de borracha; três pessoas foram detidas na rua Xavier de Toledo - Taba Benedicto/Estadão Conteúdo
Polícia dispersou os manifestantes com bombas e balas de borracha; três pessoas foram detidas na rua Xavier de Toledo Imagem: Taba Benedicto/Estadão Conteúdo

Marco Antônio Carvalho

23/01/2020 21h03

O quarto ato do Movimento Passe Livre (MPL) contra o aumento das tarifas em São Paulo foi marcado por confronto. No final do protesto, do lado de fora da estação Liberdade do Metrô, uma confusão se formou e a polícia dispersou os manifestantes com bombas e balas de borracha. Três pessoas foram detidas na rua Xavier de Toledo, no centro.

O protesto já se aproximava do seu final quando os integrantes decidiram queimar uma catraca, ato simbólico que se repete nos protestos contra o reajuste das tarifas. Agentes do Batalhão de Ações Especiais (Baep) dispersaram o grupo com bombas. Mascarados correram pela Avenida da Liberdade, espalhando lixo pela via e queimando os sacos. Vias da Liberdade até as imediações da Praça da Sé tiveram os lixos revirados.

Na Avenida da Liberdade, uma agência da Caixa Econômica foi depredada e uma agência do Itaú foi alvo de tinta jogada por integrantes do ato. A PM ainda não informou se suspeitos foram detidos. Outra agência, do Bradesco, também foi alvo de tinta jogada pelos manifestantes.

A concentração da manifestação começou às 17h no Terminal Parque Dom Pedro II e depois o grupo fez uma passeata pelas ruas da região. Os manifestantes deixaram o terminal por volta das 18h em direção à estação Liberdade do Metrô, também na região central.

Desde o dia 1º de janeiro, a passagem em ônibus da capital e nas linhas de metrô e da CPTM passou de R$ 4,30 para R$ 4,40. O grupo critica a alta no preço e a qualidade do serviço prestado pelo poder público.

No ato da semana passada, o trajeto do ato foi vetado pela Polícia Militar, que alegou a situação do trânsito e dos alagamentos na cidade. Integrantes do movimento driblaram a barreira de policiais, mas tiveram o trajeto bloqueado 750 metros depois, na Praça da República.

A repressão da PM, que resultou na detenção de dez pessoas, foi criticada por entidades de direitos humanos diante da violência desproporcional. O jornal O Estado de S. Paulo mostrou que um agente puxou uma manifestante pelos cabelos. A corporação usou bombas de efeito moral e balas de borracha para dispersar o grupo, causando correria pelas ruas da região. A PM disse ter agido para garantir a segurança de todos e que apura denúncias de excesso. A Ouvidoria também pediu investigação.

Em comunicado público de convocação para o ato desta quinta, o MPL disse no Facebook que a mediação promovida pela PM é "fake news". Para eles, o aparato policial é usado para "causar terror psicológico, deixando as pessoas com medo de se juntarem à manifestação" e para "colocar a culpa nos manifestantes, dizendo que eles/as 'entraram em confronto', numa tentativa de jogar a população contra os atos e desmobilizar".

"Mas se querem mesmo garantir nosso direito de ir e vir, por que aumentam a tarifa? Por que o transporte é tão precário? Por que querem cortar centenas de linhas de ônibus?", questiona o grupo.

Mandato coletivo denuncia violência nos atos

Ato do Passe Livre - Isabela Naiara/Photopress/Estadão Conteúdo - Isabela Naiara/Photopress/Estadão Conteúdo
Imagem: Isabela Naiara/Photopress/Estadão Conteúdo

A Bancada Ativista, mandato coletivo da Assembleia Legislativa paulista formado por nove ativistas políticos de diversas áreas, denunciou à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) o que chamaram de "prisões arbitrárias e uso desproporcional da força" por parte da Polícia Militar contra manifestantes do MPL.

"Não obstante a evidente excessividade no uso da força e da dispersão ilegal das três manifestações do Movimento Passe Livre ocorridas este ano, o Governo mantém uma postura preocupante de ignorar a repressão às manifestações e manter um discurso público de respeito às normas e garantia da liberdade de expressão", escreveram no documento.

O grupo critica o decreto 64.074, de 2019, que dispõe entre outros tópicos sobre a necessidade de "comunicação prévia, necessária sempre que a reunião objetivar a participação de mais de 300 pessoas". A Bancada diz que o decreto "tem sido utilizado como argumento pelas forças policiais para impedir o deslocamento das manifestações e dispersá-las por meio do uso da força".

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública do Estado disse que a Polícia Militar "trabalha para garantir o direito à livre expressão e a segurança de todos que desejem participar de manifestações no Estado, assim como daqueles que não participam".

"O diálogo começa antes mesmo dos atos, quando os organizadores são convidados para reuniões com representantes de órgãos responsáveis pela segurança das pessoas e entorno, como a PM e a CET, por exemplo. A ação da polícia segue rigorosos procedimentos na busca da proteção de pessoas e patrimônio, treinados à exaustão por todos os seus membros", disse a pasta.

A secretaria reforçou que a PM também mantém um grupo de "mediadores especializados para dialogar permanentemente com os participantes". "Denúncias sobre eventuais desvios na atuação da corporação podem ser encaminhadas à Corregedoria. Todas elas são rigorosamente apuradas pelo órgão e pelo Comando da área. Desvios de conduta não são tolerados."