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Ex-missionário evangélico deve assumir área de índios isolados na Funai

Trata-se de uma escolha polêmica e que pode comprometer completamente o trabalho de não contato que a Funai mantém em relação aos índios isolados - 	UESLEI MARCELINO/REUTERS
Trata-se de uma escolha polêmica e que pode comprometer completamente o trabalho de não contato que a Funai mantém em relação aos índios isolados Imagem: UESLEI MARCELINO/REUTERS

André Borges

Brasília

31/01/2020 18h15

A coordenação de índios isolados da Funai deverá ser assumida pelo ex-missionário evangélico Ricardo Lopes Dias. Apesar de sua nomeação ainda não ser oficial, seu nome já é dado como certo para o posto.

Trata-se de uma escolha polêmica e que pode comprometer completamente o trabalho de não contato que a Funai mantém em relação aos índios isolados há mais de 30 anos.

Ricardo Lopes Dias já foi ligado à Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB) e atuava como missionário, evangelizando índios na região da terra indígena Vale do Javari, no Amazonas, uma das maiores terras indígenas demarcadas do País, com mais de 8 milhões de hectares e que concentra o maior número de registros de povos indígenas isolados em todo o mundo. A reportagem entrou em contato com Dias, mas não obteve resposta.

O governo Bolsonaro já deu diversas sinalizações de que não concorda com a política de não contato com os povos isolados e que pretende acessar esses povos indígenas. A Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Diretoria de Proteção Territorial da Funai (CGIIRC) é uma das áreas da Funai que mais têm sofrido com a redução de orçamento e trocas de comando pelo governo.

Em outubro do ano passado, o governo retirou do comando da área o agente indigenista da Funai Bruno Pereira, um dos principais especialistas do órgão e que vinha liderando, nos últimos anos, todas as iniciativas de proteção a esses povos. Indigenistas e ex-coordenadores-gerais da divisão divulgaram uma carta aberta para criticar a exoneração do servidor.

No início do governo Bolsonaro, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, chegou a dizer que manteria em funcionamento as atuais políticas públicas de proteção aos índios isolados e de recente contato, sem nenhum tipo de retrocesso. "Esses indígenas continuarão a ter a proteção do Estado nos moldes em que se encontra hoje. O contato com eles pode ser nocivo", declarou, na ocasião.

A Funai reconhece 26 grupos considerados isolados, grupos indígenas com ausências de relações permanentes com as sociedades nacionais ou com pouca frequência de interação, seja com não-índio ou outros povos indígenas.

Há ainda 21 grupos de recente contato, que mantêm relações de contato permanente ou intermitente com segmentos da sociedade nacional e que, independentemente do tempo de contato, apresentam singularidades em sua relação com a sociedade nacional e autonomia.

Hoje, há ao menos 107 registros da presença de índios isolados em toda a Amazônia Legal, área que abrange nove Estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e parte dos Estados de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão.