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'Infelizmente algumas mortes terão. Paciência', diz Bolsonaro

Julia Lindner e Camila Turtelli

Brasília

27/03/2020 18h43

O presidente Jair Bolsonaro voltou a pedir nesta sexta-feira, 27, o fim do isolamento social como método para conter o avanço do novo coronavírus e afirmou que "infelizmente" alguns brasileiros irão morrer ao contrair a doença.

"Infelizmente algumas mortes terão, paciência, acontece, e vamos tocar o barco. As consequências, depois dessas medidas equivocadas, vão ser muito mais danosas do que o próprio vírus", disse o presidente em entrevista ao apresentador José Luiz Datena durante programa Brasil Urgente, da Band. Bolsonaro afirmou ainda que a população tem de retomar o trabalho.

"O brasileiro quer trabalhar, esse negócio de confinamento aí tem que acabar, temos que voltar às nossas rotinas. Deixem os pais, os velhinhos, os avós em casa e vamos trabalhar. Algumas mortes terão, mas acontece, paciência".

Na terça-feira, 24, Bolsonaro fazer um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV pregando a reabertura de escolas e do comércio. Na quinta, 26, o Planalto lançou campanha publicitária chamada "O Brasil não pode parar" para defender a flexibilização do isolamento social.

A estratégia do Planalto vai na contramão do esforço mundial para o combate à propagação da doença e levou o governo federal a um embate com governadores dos Estados. O presidente afirmou que as pessoas correm o risco de perder o emprego se o período de isolamento social for prolongado, porque a economia já está parando. "O que vai acontecer com o Brasil? Vão quebrar o Brasil por causa do vírus", disse ele.

Na entrevista a Datena, Bolsonaro afirmou, ainda, que está havendo um "verdadeiro alarmismo" por parte de autoridades que incentivam o isolamento social sem prazo para terminar. "Não podemos agir irresponsavelmente", insistiu ele, ao afirmar que há pessoas que querem se "esconder" atrás do vírus.

"Tá errado esse método do confinamento, mas os governadores têm liberdade para fazer isso aí. Tá faltando bom senso por parte de algumas autoridades do Executivo estaduais e municipais", afirmou. "A gente estava decolando na economia, criamos mais de um milhão de empregos ano passado. Perdemos já tudo isso aí. Por quê? Alguns agindo de forma assodada. Fazendo concorrência: eu fechei tudo no meu município. Não deu certo."

Para o presidente, o coronavírus é como uma chuva, na qual é impossível não se molhar. "Não podemos agir dessa maneira irresponsável. O vírus, mais forte ou mais fraco vem. É igual uma chuva, vai aparecer, você vai se molhar e toca o barco e não pode simplesmente se esconder, se enclausurar", disse ele.

Defendendo incisivamente que as pessoas voltem ao trabalho, Bolsonaro lembrou que não pode fazer tudo que quer, já que precisa ouvir seus ministros, mas disse que aos poucos está conseguindo convencer seu primeiro escalão. "Estou conseguindo cada vez mais convencer nossos ministros, então, estamos tomando providências para que quem tem emprego vá trabalhar. Depois que perder, vai levar anos para conseguir novamente de volta", afirmou.

Para ele, a aceitação popular em relação às mudanças propostas tem sido "excelente". "O Brasil tem que trabalhar. Quem tem condição fica em casa. Agora, a massa do povo não tem como se sustentar", afirmou. São os mais pobres que querem voltar a trabalhar", disse. Bolsonaro citou os caminhoneiros e disse que o ministro da Infraestrutura Tarcísio Freitas tem se reunido com secretários de transporte dos Estados para tratar disso. "Então, estamos fazendo nossa parte", disse.

Pesquisa da universidade de Oxford é chute, diz Bolsonaro

Na entrevista, Bolsonaro disse ainda que o governador de São Paulo, João Doria, precisa tomar um "comprimido de humildade" e pôs em dúvida o número de casos do novo coronavírus em São Paulo. Dados oficiais do governo paulista indicam que o Estado tem 1223 casos casos confirmados da doença. O número de mortes subiu para 68. Para Bolsonaro, Doria virou um "papagaio de auditório", que só quer aparecer na crise do coronavírus.

O presidente chamou de "chute" o resultado da pesquisa feita pela universidade de Oxford que projetou 478 mil mortes pelo novo coronavírus no Brasil. "No mundo todo tem umas 20 e poucas mil pessoas (mortas por covid-19). Então porque 400 mil no Brasil? Não, eu não acredito. Isso é chute, deve ter algum interesse econômico em jogo para desestimular qualquer pessoa de investir no Brasil, tentar quebrar nosso negócio que temos em alguns países", opinou Bolsonaro.