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TCU quer apurar se grupo utilizou recursos públicos

"Gabinete do ódio" está instalado dentro da estrutura do gabinete do presidente Jair Bolsonaro - Adriano Machado - Arquivo/Reuters
"Gabinete do ódio" está instalado dentro da estrutura do gabinete do presidente Jair Bolsonaro Imagem: Adriano Machado - Arquivo/Reuters

Patrik Camporez

Em Brasília

30/05/2020 12h15

O "gabinete do ódio", estrutura do Palácio do Planalto responsável por fazer ataques nas redes sociais e em grupos de WhatsApp a críticos do presidente Jair Bolsonaro, entrou na mira do Tribunal de contas da União (TCU). O subprocurador Lucas Furtado ingressou com uma representação para que a corte de Contas analise se a ação do grupo de servidores é financiada por recursos públicos. Na representação, o procurador classificou o "gabinete do ódio" como uma Parceria Público-Privada (PPP), que funciona com o aporte de recursos públicos e de empresas.

Como revelou o Estadão, o "gabinete do ódio" está instalado dentro da estrutura do gabinete do presidente Jair Bolsonaro. Seriam 23 servidores nessa função. A atuação do grupo é investigada também pelo inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que apura a disseminação de fake news.

No despacho em que pediu busca e apreensão em endereços de blogueiros e youtubers nesta semana, o ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito, classificou o "gabinete do ódio" como uma "associação criminosa", que receberia dinheiro de empresários. Nenhum servidor do Planalto, contudo, foi alvo. O grupo também é investigado pela Comissão Parlamentar dos Inquérito (CPI) das Fake News do Congresso.

Na representação ao TCU, Furtado pede que sejam identificados os integrantes do governo que compõem o "gabinete do ódio" e, comprovadas as ilegalidades, sejam punidos administrativamente e devolvam aos cofres públicos recursos usados para disseminar notícias falsas.

Outro objetivo da representação é investigar o possível uso de recursos públicos para financiar ataques de fake news na campanha eleitoral de 2018. Furtado destaca que a decisão de Moraes, de determinar a quebra do sigilo fiscal e bancário de empresários no inquérito das fake news, abrange o período eleitoral daquele ano.

Por isso, pede que seja avaliada a possibilidade da criação de uma força-tarefa para o compartilhamento de informações ou, pelo menos, a atuação conjunta do Ministério Público Eleitoral, Tribunal Superior Eleitoral e TCU para apurar possíveis crimes cometidos pela chapa vitoriosa, para a Presidência da República, nas eleições de 2018.

Para o integrante do MP de Contas, a estrutura pública do Palácio do Planalto, onde despacha o presidente Jair Bolsonaro, estaria sendo utilizada para fins caluniosos, ameaças e infrações com o objetivo de atingir a "honorabilidade de diversas autoridades" dos poderes Judiciário e Legislativo do País.

Estrutura 'anômala'

No documento encaminhado à Corte, Furtado classifica as fake news como um fenômeno que ameaça o regime democrático, os princípios da República e a convivência pacífica da sociedade brasileira. Diz ainda que o "gabinete do ódio" é uma estrutura "anômala" que funciona dentro do próprio Estado.

Dessa forma, caberia ao TCU apurar eventual emprego irregular dos recursos públicos dentro dessa estrutura de divulgação de desinformações.

Furtado ressalta que não só o uso de dinheiro, mas a utilização de materiais, infraestrutura e mão de obra custeados pelos cofres públicos devem ser levados em consideração no cálculo de gastos indevidos. Segundo o subprocurador, a "irrigação de dinheiro" público para o esquema supostamente criminoso poderia estar acontecendo também por meio da utilização de verbas publicitárias de empresas públicas e sociedades de economia mista, com a finalidade de monetizar sites e blogs que veiculam notícias falsas.

Recentemente, o TCU barrou a veiculação, por parte do Banco do Brasil, de publicidade oficial em site que seria propagador de notícias falsas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.