Carla Araújo

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Reportagem

Dólar deu uma escorregada, mas Lula não pressionará Galípolo, diz Haddad

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta sexta-feira (20) que o dólar deu uma "escorregada", por diversos fatores, que não "cometeria o equívoco" de falar sobre as metas do Banco Central e que se engana quem acredita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará pressão ou interfira na atuação do próximo presidente do BC, Gabriel Galípolo.

"Houve um fortalecimento da moeda americana no mundo e aqui", disse. "Temos que corrigir essa escorregada que o dólar deu aqui".

Segundo Haddad, quando há alguma disfuncionalidade no mercado de câmbio e juros o BC deve promover correções. "Não buscando uma meta sobre qual é o valor adequado, mas corrigir as disfuncionalidades".

O ministro falou ainda que o BC é independente e os diretores da instituição têm se pronunciado a respeito da possibilidade e do uso das reservas para realizar essa acomodação. "Não vou cometer o equívoco de dizer qual a meta de câmbio que o BC tem que mirar", disse.

'Lula reclamar é natural'

Haddad descartou qualquer intervenção de Lula no BC com a troca na presidência. O atual mandatário Roberto Campos Neto, que foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, deixa o cargo no dia 31 de dezembro.

Segundo Haddad, a indicação de Gabriel Galípolo para o cargo não significa que Lula fará algum tipo de pressão.

"Uma coisa é um comentário do presidente sobre juros e outra coisa é pressão. Pressão é quando se desrespeita a institucionalidade e isso nunca aconteceu", afirmou, em café com jornalistas. Segundo Haddad, numa "democracia as pessoas falam". "Um pede corte de gastos, de juros, isso é normal", afirmou.

O ministro citou ainda o fato de o presidente Lula estar completando o seu décimo ano como presidente da República e acredita que ele nunca pressionou nenhum presidente do Banco Central. Haddad lembrou de Henrique Meirelles, presidente do BC de 2003 a 2010.

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"O Meirelles lançou um livro que conta que em oito anos recebeu um telefonema do presidente e negou o pedido", disse. "Ele não tinha autonomia no sentido legal, mas tinha autonomia de fato e direito e o presidente Lula sempre respeitou."

Vazamentos e falhas na comunicação

Haddad disse ainda que "houve problema de comunicação no Brasil" que fez com que o dólar tivesse uma valorização maior do que seus pares. Segundo ele, os vazamentos às vésperas do anúncio do pacote produziram "um efeito deletério" e o mercado acabou tendo uma recepção ruim do conjunto de medidas.

O ministro afirmou ainda que o cenário externo continuará desafiador, que os juros nos Estados Unidos, com o Fed dando sinais de que os cortes estão cada vez mais próximos do fim, e as políticas anunciadas pelo presidente eleito Donald Trump exigirão uma recolocação geopolítica. "Temos que prestar atenção na nossa casa", afirmou, destacando que câmbio e juros "andam juntos" e o BC sabe.

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