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Empresário Carlos Wizard vai assumir secretaria do Ministério da Saúde

O empresário escreveu recentemente que algumas regiões do Brasil "vão exigir isolamento total" contra a covid-19, "outras não têm nenhum caso" - Fabiano Accorsi/Divulgação
O empresário escreveu recentemente que algumas regiões do Brasil "vão exigir isolamento total" contra a covid-19, "outras não têm nenhum caso" Imagem: Fabiano Accorsi/Divulgação

Mateus Vargas,

Brasília

02/06/2020 11h35

O empresário Carlos Wizard, fundador da rede Wizard de escolas de inglês, foi convidado pelo ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, para assumir o comando da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE). A equipe da pasta já foi avisada sobre a nomeação do novo chefe. A assessoria de Wizard confirmou o convite à reportagem e disse que ele aceitará.

Wizard atua como conselheiro de Assuntos Estratégicos no ministério. O bilionário e o ministro interino da Saúde trabalharam juntos na "Operação Acolhida", que ajuda venezuelanos que cruzam a fronteira com o Brasil.

Em agosto de 2018, Wizard mudou-se de São Paulo para Boa Vista, capital de Roraima, na fronteira com a Venezuela, para atuar na operação. Ao Estadão, no ano passado, ele relatou que cumpria uma "missão" da igreja mórmon Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que frequenta desde a adolescência em Curitiba, onde nasceu.

A SCTIE é considerada estratégica por coordenar parcerias com a iniciativa privada para fabricação de medicamentos e outros insumos. A pasta também analisa qual produto pode passar a ser ofertado no Sistema Único de Saúde (SUS), um dos maiores mercados de medicamentos do mundo.

A pasta analisa ainda, diariamente, pesquisas sobre medicamentos testados para a covid-19, como a cloroquina.

Defendida pelo presidente Jair Bolsonaro, a droga não é apontada promissora nos documentos da secretaria. A SCTIE elaborou nota técnica, no começo de abril, orientando uso da cloroquina apenas para pacientes moderados, graves e críticos da doença, desde que a aplicação seja feita em ambiente hospitalar.

Sob Pazuello, o ministério mudou radicalmente de discurso, ignorou os informes da SCTIE e passou a recomendar uso da cloroquina desde o primeiro dia de sintomas da covid-19, mesmo para pacientes que ainda aguardam a confirmação laboratorial do diagnóstico.

Nas redes sociais, Wizard escreveu recentemente que algumas regiões do Brasil "vão exigir isolamento total" contra a covid-19. "Outras não têm nenhum caso."

Em vídeo de 16 de março, publicado nas redes sociais, o empresário afirmou que o "brasileiro está sendo enganado" sobre a gravidade da doença. "Alguns dizem que não passa de uma gripe, que logo vai ser curado. Gente, não é uma gripe como outra qualquer".

No mesmo vídeo, o empresário disse que igrejas "responsáveis" já fecharam as portas. "Sabe o que é pior? Se você não se cuidar, não se precaver, se não tomar medidas necessárias, preventivas, somente as portas do céu estarão abertas para te receber", completou ele.

O presidente já chamou a covid-19 de "gripezinha" e, frequentemente, minimiza impactos do vírus sobre a saúde. Bolsonaro também colocou igrejas no rol de atividades essenciais durante a pandemia.

A SCTIE estava sem chefe efetivo desde 22 de maio, quando foi confirmada a exoneração do médico Antonio Carlos Campos de Carvalho, que ocupou o cargo por menos de um mês. Ele pediu para deixar o governo, entre outros motivos, por opor-se à vontade de Bolsonaro de ampliar o orientação sobre uso da cloroquina.