Topo

ONG leva oxímetros para favelas do Rio e SP no combate ao novo coronavírus

03/06/2020 12h15

Rio - Levar para comunidades carentes aparelhos que medem a taxa de oxigenação e, dessa forma, evitar mortes por covid-19 dentro das casas é uma das principais propostas do Instituto Estáter, que envolve especialistas de todo o País e lideranças comunitárias de pelo menos seis favelas brasileiras.

A premissa do grupo é que muitas pessoas estão morrendo sem sequer chegar ao hospital por conta da chamada hipóxia silenciosa - a baixa oxigenação do organismo provocada pela covid-19 que, muitas vezes, passa despercebida até ser tarde demais. O uso correto do oxímetro pode ajudar a identificar a necessidade de hospitalização mais precoce.

O problema começou a chamar a atenção dos especialistas quando constatou-se que a grande maioria das mortes registradas na pandemia ocorre dentro das casas, mesmo em países onde não havia sobrecarga no sistema de saúde, com leitos de UTIs e respiradores disponíveis para os pacientes.

"Diferentemente das outras infecções causadas por coronavírus, como a Sars e a Mers, a covid-19 tem essa característica única. Ela leva a uma hipoxemia grave sem repercussão clinica significativa", explicou o infectologista Victor Cravo, coordenador das unidades de terapia intensiva do America's Medical Group. "Isso acaba fazendo com que pacientes graves, com níveis de oxigênio muito abaixo do aceitável, mas sem sintomas, acabem ficando em casa."

O grupo "O Dia Seguinte" é formado por grandes especialistas do País, como o oncologista Drauzio Varella, o especialista em transplante de fígado do Oswaldo Cruz Ben-Hur Ferraz Neto, o infectologista do Hospital das Clínicas (HC) Esper Kallas, o ex-presidente da Fiocruz Paulo Gadelha e o economista Pérsio Arida, entre outros. Eles foram reunidos pelo empresário Pércio de Souza, presidente do Instituto Estáter, para propor estratégias de minimizar o impacto do coronavírus, sobretudo nas classes mais vulneráveis.

O grupo está recomendando às autoridades a adoção em larga escala dos oxímetros com o apoio de teleconsultas médicas, principalmente para pacientes do grupo de risco em comunidades carentes. Paralelamente, Pércio de Souza começou a mobilizar lideranças comunitárias de algumas favelas para oferecer aos moradores orientações sobre a covid e medição de oximetria.

"A recomendação no mundo todo é que você vá para o hospital quando começar a sentir falta de ar", disse Souza. "Mas muitas vezes, o idoso já está com uma saturação baixa, mas não percebe. Talvez se fizesse um esforço maior, subisse uma escada, percebesse; mas às vezes está acamado, não se dá conta. E quando vai perceber já está quase morrendo."

Ciente desse problema, a SAS Brasil, que desde 2013 leva o teleatendimento médico a cidades vulneráveis do Nordeste, está trabalhando em comunidades carentes de São Paulo e Rio de Janeiro, os dois Estados com o maior número de casos de covid-19.

Segundo a médica Adriana Mallet, fundadora da SAS, desde o início de abril, quando começou o projeto, já foram 2.697 atendimentos. Pelo menos 39 pessoas foram encaminhadas para hospitais, a grande maioria delas com covid-19

"Começamos a deixar o oxímetro com os pacientes de maior risco e entramos em contato uma vez por dia para fazer o acompanhamento", contou Mallet. "Na primeira visita, explicamos como se usa o aparelho e depois, a cada leitura, o paciente nos manda a foto para que nós possamos analisar os dados."

Na análise de Percio de Souza, a iniciativa pode ajudar a desafogar as unidades de terapia intensiva (UTI) que já estão operando no limite da capacidade.

"Se o paciente for levado ao hospital mais precocemente, talvez não precise ir para uma UTI", afirmou Souza. "Ele pode ir para uma enfermaria e receber suportes não invasivos de oxigênio." A iniciativa está sendo adotada desde o mês passado nos Estados Unidos e no Reino Unido, onde já há uma orientação formal para que idosos em casas de repouso, por exemplo, sejam monitorados com oxímetros.

Roberta Jansen