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Estudo aponta que milícias dominam 57% da área do Rio

Bairro carioca Rio das Pedras localizado na zona oeste da cidade, é dominado predominantemente por milicias que lucram cobrando protecao da populaçao local dentre outras atividades. - Ricardo Borges/UOL
Bairro carioca Rio das Pedras localizado na zona oeste da cidade, é dominado predominantemente por milicias que lucram cobrando protecao da populaçao local dentre outras atividades. Imagem: Ricardo Borges/UOL

Caio Sartori

Rio

19/10/2020 07h38

Os grupos milicianos já controlam 57% do território da capital fluminense. Enquanto isso, as três facções do tráfico têm, somadas, o domínio de 15%. E um a cada três moradores, ou 2,2 milhões de pessoas, vivem em áreas controladas por milícias.

Os dados estão no estudo Mapa dos Grupos Armados do Rio de Janeiro, feito em parceria entre o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da UFF, o Núcleo de Estudos da Violência da USP, o Disque-Denúncia e as plataformas Fogo Cruzado e Pista News. O poderio mensurado pela pesquisa joga luz sobre a rápida expansão dos milicianos, que não se limita à capital. Eles se espalham cada vez mais pela região metropolitana, especialmente Baixada. Foi contra eles que a Polícia Civil fez duas operações na semana passada, com a morte de 17 suspeitos.

No Mapa dos Grupos Armados também chama a atenção o porcentual superlativo de territórios em disputa: 25% da capital. Apenas 2% da área do Rio não estaria passando por nenhum domínio criminoso ou conflito entre grupos. Os pesquisadores observaram uma nítida mudança no cenário do crime. Se antes o tráfico disputava entre si os territórios, hoje a milícia é quem desponta como principal adversária do Comando Vermelho, enquanto as demais facções têm poderio reduzido. Isso desconstrói a ideia de paz que a milícia historicamente tenta vender ao ocupar locais antes pertencentes ao tráfico.

"Segundo o mapa, as milícias entram em disputas territoriais violentas e atuam em territórios cada vez mais extensos, onde controlam esses bairros ilegalmente, cobrando taxas extorsivas sobre os mercados de serviços essenciais como água, luz, gás, TV a cabo, transporte e segurança, além do mercado imobiliário", aponta o pesquisador Daniel Hirata, da UFF.

Considerada atualmente "empreendedora", a milícia já não se limita a atividades como a venda ilegal de gás e o chamado "gatonet", por exemplo. Os grupos realizam atividades como grilagem e construção de prédios em áreas irregulares. Foi o que ocorreu na Muzema, zona oeste da cidade, em abril do ano passado, quando 24 pessoas morreram após uma dessas construções desabar.

Cores

As cores designadas para cada facção pintam o mapa da seguinte forma: o azul da milícia é predominante em quase toda a zona oeste e no oeste metropolitano, enquanto a Baixada vivencia forte divisão com o Comando Vermelho - que, por sua vez, ainda tem controle da maior parte da zona norte e do leste metropolitano. O grupo mais conhecido do tráfico ainda tem algumas fortalezas na área de maior domínio da milícia, principalmente a Cidade de Deus, cercada por comunidades dominadas por milicianos em Jacarepaguá. O trabalho cartográfico também mostra alguns focos da milícia indo além da região metropolitana. Há registros na Região dos Lagos e na Região Serrana.

Ao apresentar o estudo, os pesquisadores ressaltaram a velocidade com que a milícia conseguiu chegar ao que é hoje. Enquanto esses grupos - formados, na maior parte, por policiais - cresceram nos anos 2000, o tráfico tem um histórico de atuação que remete ao fim dos anos 1970, quando surgiu o Comando Vermelho. "As disputas entre esses quatro principais grupos não impediram o avanço das milícias, o que nos permite afirmar que essa expansão é o fenômeno mais notável dos últimos anos", apontam.