Topo

Esse conteúdo é antigo

Ruas ficam desertas em Araraquara nas primeiras 24h de 'lockdown total'

Lockdown na cidade de Araraquara devido ao colapso do sistema de saúde em decorrência da pandemia da covid 19 - SERGIO PIERRI/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Lockdown na cidade de Araraquara devido ao colapso do sistema de saúde em decorrência da pandemia da covid 19 Imagem: SERGIO PIERRI/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

22/02/2021 13h40Atualizada em 22/02/2021 14h01

Araraquara - O "lockdown total" deixou as ruas desertas em Araraquara (SP) nesta segunda-feira, 22. Bancos estão fechados, supermercados só atendem por delivery e blitze na cidade abordam os poucos carros em circulação para cobrar documento justificando por que as pessoas saíram de casa.

As restrições mais rígidas, em vigor desde o meio-dia de domingo, 21, vão durar 60 horas e foram impostas pela prefeitura diante da escolada de casos de covid-19. Em Araraquara, 98% dos leitos hospitalares estão ocupados. Já a média de mortes pela doença ficou em 14,5 a cada 100 mil habitantes nas duas últimas semanas - o dobro do índice do Estado, de 7,2.

Nas primeiras 12 horas de "lockdown total", 195 veículos foram abordados em blitze da fiscalização. Dezenove pessoas foram autuadas e têm dez dias para justificar a saída de casa ou podem ser multadas. As multas previstas no decreto são de R$ 120 para pessoa física e de R$ 6 mil para empresas que descumprirem as regras.

Um número reduzido de carros era visto cruzando pelas ruas pela manhã e os poucos postos de gasolina abertos só podem abastecem veículos oficiais. A reportagem também encontrou três ciclistas pedalando em diferentes pontos, alguns moradores caminhando e uma jovem andando sem máscara. Sem o movimento, alarmes, sirenes e o som do trem pareciam soar mais altos do que o habitual.

No centro da cidade do interior paulista, o entregador Bruno Rodrigues, de 34 anos, e um colega aguardavam na frente de um mercado em que se inscreveram por aplicativo para fazer entregas, mas receberam a informação de que o quadro estava completo. "Os hospitais estão cheios. A medida foi necessária", comentou. Segundo relata, três pessoas conhecidas morreram de covid recentemente, todas de idades semelhantes a dele.

Motorista de aplicativo, Keith Andressa da Costa, de 31 anos, já havia feito seis corridas pela manhã e aguardava novos passageiros. "Fiz um texto reforçando que precisa de comprovante. Envio e a maioria já cancela", contou. Ela foi parada em blitze no domingo e na segunda.

Já o porteiro Matuzalem de Oliveira, de 50 anos, vai passar o dia com o pão que levou para o trabalho, pois delivery de restaurantes está suspenso. "Está morrendo muita gente. Então tem mesmo que fazer isso", disse.

De acordo com a farmacêutica Renata Camargo, de 37 anos, as entregas na farmácia dobraram com o lockdown. "Neste sábado, o movimento presencial foi maior do que em outros sábados", afirmou. "Fui parada hoje e não tive problemas. Pediram meu crachá e eu estava com uniforme."

Na Rodovia Antonio Machado Sant'anna, que liga a cidade a Ribeirão Preto, o trânsito é pequeno, com predominância de caminhões e algumas ambulâncias.

Em 2020, Araraquara chegou a ser reconhecida por ter a taxa mais baixa de letalidade do Estado entre os municípios com mais de 100 mil habitantes. Foram 92 mortes no ano passado. Só nos últimos sete dias, no entanto, a cidade registrou 24 óbitos. O Instituto de Medicina Tropical (IMT) da USP confirmou, ainda, 12 amostras da cepa brasileira da covid-19, inicialmente identificada em Manaus, no município paulista.

Everton Sylvestre, especial para o Estadão