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Em Israel, vacina traz sensação de normalidade

Profissional de saúde vacina mulher em Israel com dose da Pfizer/BioNtech contra a covid-19 em janeiro de 2021 - Emmanuel Dunand/AFP
Profissional de saúde vacina mulher em Israel com dose da Pfizer/BioNtech contra a covid-19 em janeiro de 2021 Imagem: Emmanuel Dunand/AFP

Paulo Beraldo, com colaboração de Evandro Almeida Jr., especial para o Estadão

07/03/2021 08h00

São Paulo - Por meses, a brasileira Hanna Rosenbaum abria a porta de casa, em Jerusalém, e via as luzes dos hotéis da região onde mora apagadas. A cena se repetia desde março do ano passado. Nos últimos dias, o cenário mudou: com o avanço da vacinação em Israel, a cidade voltou à vida.

Os parques ganharam visitantes, as escolas receberam alunos e os bares têm clientes novamente. "Fazia muito tempo que eu não entrava em um shopping", disse a jovem, de 25 anos, vacinada há duas semanas. "Sentei na mesinha de um restaurante com meu namorado e pensei: 'Há quanto tempo não fazíamos isso?'. Foi bem nostálgico."

Hanna fez na última semana algo que havia muito desejava - e é uma realidade distante na maioria dos países: uma viagem. Saiu de Jerusalém para o norte de Israel passar uns dias em algum hotel, serviço que ainda funciona com restrições.

À medida que a vacinação acelera, Israel planeja dar o maior passo de sua reabertura hoje. As restrições começaram em dezembro e, desde então, o país já vacinou 4,8 milhões de um total de 9 milhões de habitantes. A maior dificuldade é a resistência de judeus ultraortodoxos, que recusam a vacina.

Comer em um restaurante - para quem tem o "passaporte verde" da imunização - poderá ser de novo uma realidade. Reuniões de mais de 20 pessoas em locais fechados e de até 50 em áreas abertas voltam a ser permitidas. Comícios políticos para as eleições de 23 de março poderão ter até 500 pessoas.

Surpresa

A médica brasileira Adriana Giglio já sabe qual a primeira coisa que fará quando o aeroporto de Tel-Aviv reabrir: comprar uma passagem para visitar a família no Brasil, que não vê há um ano e meio. "Quero ver meu pai, meu cachorro, meus amigos. Essa questão de não saber quando vamos nos ver é bem complicada."

Nesta semana, ao voltar do hospital onde trabalha, ela viu pela primeira vez um bar aberto e várias pessoas sem máscara na parte externa. "Não acontecia havia muito tempo."

Ir para o escritório da startup onde trabalha em Tel-Aviv foi a maior mudança na rotina da brasileira Elisa Bloch, arquiteta de 27 anos. Ela trabalhou de casa por um ano. Elisa também planeja encontrar mais amigos e tem o mesmo desejo de Adriana: "Só penso em visitar a família no Brasil, mas tenho medo de ir e ficar presa. Alguns países podem fechar as fronteiras com o Brasil." Agora, ela retorna aos poucos à normalidade. Recentemente, foi pela primeira vez a um restaurante. "É uma sensação de mais normalidade", conta.

Professor de relações internacionais da USP, especializado em Israel, Samuel Feldberg afirma que a rapidez da vacinação no país é fruto da logística, do sistema de saúde digitalizado e do esforço do governo. "É uma preocupação que começou lá atrás com as providências para obter vacinas", afirmou.

A dimensão de Israel - menor que Sergipe -, testagens em massa e gratuitas e uma população de 9 milhões de habitantes também são fatores-chave. Todos os ouvidas pela reportagem destacaram o papel do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, que participou da campanha de vacinação.

A brasileira Hanna Rosenbaum diz que Netanyahu teve perspicácia e inteligência, um papel crucial de dar o exemplo. "É um líder muito forte." Para Adriana Giglio, o primeiro-ministro teve o papel de "desmistificar" a vacina ao se voluntariar. "É claro que tem um componente político, mas ele levantou a bandeira, se ofereceu e sempre foi a favor da vacina."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.