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Mesmo adiantados na vacinação, americanos e britânicos estão longe do normal

Vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris recebe segunda dose da vacina contra a covid-19 da Moderna nos Institutos Nacionais da Saúde em Bethesda, no estado de Maryland  - Leah Millis/Reuters
Vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris recebe segunda dose da vacina contra a covid-19 da Moderna nos Institutos Nacionais da Saúde em Bethesda, no estado de Maryland Imagem: Leah Millis/Reuters

Paulo Beraldo

07/03/2021 08h30

São Paulo - Se em Israel cresce a sensação de normalidade, o mesmo não é visto em outras nações em que a imunização está avançada, caso de Reino Unido (32%) e EUA (25%), segundo levantamento do Our World in Data, da Universidade Oxford.

Nos EUA, cerca de 75 milhões foram vacinados, mas os efeitos práticos disso em um país de 330 milhões de habitantes não estão visíveis para todos. Para o virologista Anderson Brito, que vive em Connecticut, a única coisa que mudou foi a sensação de estar protegido e saber que não sofrerá tanto com a doença se for exposto ao vírus. "Mas o receio de poder transmitir o vírus ainda existe. Então, o uso de máscara e evitar locais fechados continua como norma."

Sua rotina segue igual, já que as restrições ao número de pessoas trabalhando fisicamente continuam. Brito é taxativo ao dizer que a vacinação só trará reflexos quando houver 60% ou mais de pessoas imunizadas - a quantidade depende de quão transmissível o vírus está na comunidade. "O Brasil tem menos de 4%, e os EUA, 25%. Em nível pessoal é um alívio se vacinar, mas em nível social, o problema persiste. Como virologista, frequentar estabelecimentos sem as precauções usuais passaria uma mensagem errada."

A brasileira Pilar Laitano, que estuda Direito em Nova York, tem 22 anos e tomou apenas a primeira dose. A outra será daqui a um mês. Na prática, diz que nada mudou e vê poucas alterações na cidade - grande parte das empresas continua em home office, o que faz com que o fluxo de pessoas seja menor no transporte público.

Na maior cidade dos EUA, a maioria dos vacinados integra grupos de idosos, profissionais da saúde e pessoas que atendem a alguns critérios estabelecidos, como professores universitários ou trabalhadores de serviços essenciais. "Está tudo ainda bem vazio e a orientação é não mudar o comportamento até realmente ter muita gente vacinada. Vai demorar para voltar ao normal."

A terceira maior cidade do país, Chicago, abriu as escolas públicas pela primeira vez em um ano. Restaurantes em Massachusetts voltaram a operar com capacidade total e, na Carolina do Sul, os limites para reuniões de pessoas foram flexibilizados.

No Reino Unido, que também tem um programa de vacinação avançado, pouco mudou. O cronograma para reabertura começa na segunda-feira, com escolas e a permissão para duas pessoas de casas diferentes socializarem a céu aberto. A abertura do comércio não essencial - como lojas e centros de lazer - ficou para o dia 12.

"Mesmo com o retorno às atividades do dia a dia ainda em suspenso, e as muitas dúvidas em torno da efetividade das vacinas, é importante mantermos uma visão positiva sobre o desenrolar de 2021", diz Ana Luíza Gibertoni Cruz, infectologista e pesquisadora em Oxford. "Pode ser que doses adicionais de vacinas sejam necessárias por conta das variantes virais novas, mas a produção será mais rápida, o acesso mais organizado e tudo indica que continuaremos protegidos de doença grave e morte."

Enquanto isso, ela avalia que é preciso ter conhecimento das dinâmicas de transmissão do vírus em tempo real, tanto em grandes centros urbanos como em localidades mais isoladas. Para isso, Ana Luíza diz ser preciso haver um sistema forte de vigilância com testagem ampla, sequenciamento genômico para monitorar o surgimento de novas variantes e isolamento de casos para quebrar cadeias de transmissão. "E, em paralelo a esta estrutura, uma campanha de vacinação."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.