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'Sou aliado, não sou subserviente', diz senador governista na CPI da Covid

O senador Marcos Rogério (DEM-RO) em pronunciamento no plenário  - Waldemir Barretos/Agência Senado
O senador Marcos Rogério (DEM-RO) em pronunciamento no plenário Imagem: Waldemir Barretos/Agência Senado

Lauriberto Pompeu

Do Estadão Conteúdo

03/05/2021 18h10

Com críticas à articulação política do Palácio do Planalto na CPI da Covid, o senador governista Marcos Rogério (DEM-RO) diz que caberá ao governo subsidiar os parlamentares com informações, mas que a defesa da gestão de Jair Bolsonaro tem limites.

"Sou aliado, não sou subserviente", afirmou ele ao Estadão, ao ser questionado se o depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazzuello preocupa. "Ele vai ter que vir, se houve falhas na gestão dele, vai responder por elas."

Segundo o senador, que é líder do DEM e vice-líder do governo no Senado, os ministros Onyx Lorenzoni (Secretaria-Geral), Flávia Arruda (Secretaria de Governo) e Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil) se colocaram à disposição para auxiliar nos trabalhos da CPI, mas nada de concreto foi feito pelo time do Planalto ainda.

"Tinha que ter atuado no começo para compor a comissão, passada essa fase, na hora que começar a ter necessidade de informações, aí vão auxiliar com informações, isso ele (governo) tem dito que vai estar disponível", disse.

Pazuello vai depor na CPI na próxima quarta-feira, 5 Relator da ação sobre a conduta do Ministério da Saúde durante a crise sanitária, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Benjamin Zymler disse, há duas semanas, que a pasta evitou assumir a liderança do combate ao novo coronavírus no País.

Antes, nesta terça-feira, 4, os senadores vão ter a oportunidade de questionar os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Ambos deixaram a pasta após desavenças com o presidente Jair Bolsonaro, que defende a prescrição de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19 e critica o isolamento social, considerado meio eficaz para evitar a propagação da doença.

Como tem sido a orientação do Planalto nesse início de CPI?

Não recebi nada deles ainda não, se colocaram à disposição, mas não ofereceram nada ainda. Neste momento não tem o que oferecer, não há nada ainda concreto, por enquanto está na fase de instruir os trabalhos. Não vejo necessidade de atuação, tinha que ter atuado no começo para compor a comissão, passada essa fase, na hora que começar a ter necessidade de informações, aí vão auxiliar com informações, isso ele (governo) tem dito que vai estar disponível.

Quem está auxiliando a base do governo na comissão?

Até agora não há necessidade de uma ação mais efetiva porque a CPI está 'startando'. Os ministros têm falado com a gente, não senadores. A ministra Flávia, o ministro Onyx e o ministro Ramos têm se colocando à disposição, mas nada novo. Tem que auxiliar, como governo, com as informações, mas cabe aos senadores o papel da comissão.

O depoimento do ex-ministro Pazuello preocupa o senhor?

Não, quem tem que se preocupar é ele. Eu sou aliado do governo, mas não faço esse tipo de jogo, não. Sou aliado, não sou subserviente. Ele vai ter que vir, se houve falhas na gestão dele, vai responder por elas

A base do governo atuou na semana passada para evitar que o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten fosse convocado. Teme que em algum momento a CPI possa chamá-lo também?

Se for pegar todo mundo que tem opinião contra ou a favor do governo, vai ficar a CPI quanto tempo? Tem que ouvir os ministros da Saúde, quem tinha ligação na área, ouvir por parte dos Estados, governadores, prefeitos, aqueles que tiverem documentos ou alguma coisa que justifique ser ouvido. Querer levar para lá todo mundo que gosta do governo ou não gosta do governo não é o caminho.

O senhor apresentou requerimento para ouvir os governadores Helder Barbalho (MDB-PA), João Doria (PSDB-SP), Rui Costa (PT-BA) e Wilson Lima (PSC-AM). Por que eles e não outros?

Dentro do recorte da CPI, do segundo requerimento, você tem lá os elementos. São Estados que têm não só atuação local, mas que eles têm impacto nacional, as ações, decisões locais tiveram dimensão nacional. Na verdade, se for considerar a linha de todos os requerimentos, vão ter que convidar todos os governadores. A partir do momento que chegarem documentos dos demais Estados, a partir dessas informações, vamos avaliando quem mais convidar, convocar. Engana-se quem pensa que vão ser apenas esses. A partir das informações que pegarem agora, outros serão convidados, convocados.

O grupo de quatro senadores mais alinhados ao governo tem se reunido para combinar uma atuação conjunta?

Não temos nos reunido, não.

Requerimentos dos senadores Ciro Nogueira e Jorginho Mello foram produzidos por uma assessora do Palácio do Planalto. Por quê?

Tem que perguntar para eles, não para mim. Estão fazendo tempestade com uma bobagem. Quando eu vejo os que estão do outro lado fazendo esse tipo de acusação, fico olhando no retrovisor do tempo e fico dando gargalhadas por dentro porque quem mais fez isso a vida toda e foi pelego do governo foram eles. Quando a (ex-presidente) Dilma (Rousseff) estava para ser cassada, quem estava fazendo questão de ordem? Pelotão de choque, tropa de choque da Dilma, quem era? Fazendo questão de ordem para estuprar a Constituição Federal? Foi Renan (Calheiros) e Randolfe (Rodrigues). Quando vejo eles fazendo essa cena, porque é cena, fico olhando para o retrovisor. Se perguntar para mim sobre um documento que vem do outro Poder para cá, é troço tão sem importância, quem subscreveu o documento foi um senador. Agora, querem fazer um cavalo de batalha em cima de algo que não tem importância nenhuma.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.