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Novo prefeito de São Paulo, Nunes vira peça-chave para projeto de Doria

A intenção de dirigentes tucanos é que o MDB esteja tanto na aliança nacional quanto na estadual - Divulgação/Governo de São Paulo
A intenção de dirigentes tucanos é que o MDB esteja tanto na aliança nacional quanto na estadual Imagem: Divulgação/Governo de São Paulo

Pedro Venceslau

Em São Paulo

18/05/2021 14h37

Ao assumir a Prefeitura de São Paulo após a morte de Bruno Covas (PSDB) no último domingo (16), o prefeito Ricardo Nunes (MDB) provocou uma mudança na correlação de forças políticas no estado, maior colégio eleitoral do país.

Aliado do PSDB, Nunes é considerado peça-chave na tentativa de levar o MDB a apoiar os projetos eleitorais do governador João Doria para 2022. Caciques emedebistas, porém, resistem ao plano e articulam alianças regionais com o PT de Luiz Inácio Lula da Silva.

A intenção de dirigentes tucanos é que o MDB esteja tanto na aliança nacional, em uma eventual candidatura de Doria ao Palácio do Planalto, quanto na regional, num cenário em que o atual vice-governador, Rodrigo Garcia (PSDB), seria o candidato ao Palácio dos Bandeirantes.

O plano em São Paulo tem o apoio do deputado Baleia Rossi (MDB-SP), presidente da sigla, mas o dirigente evita se comprometer com o projeto nacional de Doria. Isso porque, antes, o governador precisa vencer as prévias do PSDB, inicialmente marcadas para outubro, e se viabilizar como presidenciável.

Levantamento do Estadão com os 27 diretórios do partido nos estados, no entanto, mostrou resistência ao projeto do tucano. Apenas três concordam em realizar a consulta interna neste ano. Uma corrente defende a definição de quem será o candidato da sigla apenas em 2022.

Segundo integrantes do primeiro escalão da prefeitura e do governo, Nunes já tinha afinidade com Doria antes da morte de Covas.

O governador participou ativamente das articulações que escolheram o emedebista como candidato a vice em 2020. Agora efetivado como prefeito da maior cidade do país, a avaliação é de que Nunes ganhou estatura para ter voz nas discussões internas do MDB.

"Minha posição é que o MDB evite os extremos. Para 2022, defendo que o partido busque um nome que represente o centro, seja uma candidatura própria ou de outra sigla", afirmou Nunes ao Estadão.

Um dos possíveis entraves para o acordo com os tucanos, o empresário Paulo Skaf (MDB) ficou isolado na legenda com a ascensão de Nunes.

Candidato derrotado na disputa pelo governo paulista em 2018 e próximo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Skaf recebeu recados de que não terá respaldo da legenda para uma nova tentativa no ano que vem.

Em conversas reservadas, o presidente da Fiesp admite que está afastado da rotina do partido e ainda não definiu seu futuro político.

Na condição de presidente municipal do MDB, Nunes chegou a consultar Skaf na semana passada sobre suas intenções eleitorais, mas saiu da conversa sem uma resposta conclusiva.

Grupo político

No MDB, Nunes é próximo tanto de Baleia Rossi quanto do ex-presidente Michel Temer. Eles pregam a tese de manter a legenda no centro no momento em que o partido está emparedado entre uma ala governista e outra que se aproxima de Lula.

Para amarrar o apoio do MDB paulista ao seu projeto, Doria entregou ao partido nesta semana a Secretaria de Agricultura. O cargo será ocupado pelo deputado estadual Itamar Borges, nome ligado ao agronegócio.

Os tucanos apostam no fortalecimento da relação com os emedebistas em São Paulo como trunfo no intrincado xadrez interno do partido, que é composto por alas regionais.

Integrantes da velha-guarda do MDB nordestino, como o senador Renan Calheiros (AL) e o ex-presidente José Sarney (MA), têm dialogado com Lula e rejeitam a ideia de apoiar Doria em uma campanha presidencial.

Núcleo

Em outra sinalização da aliança com os tucanos, o novo prefeito disse também que pretende preservar integralmente a estrutura da máquina administrativa herdada de Covas, mantendo todos os secretários indicados pelo antecessor.

A exceção é o secretário da Casa Civil, Ricardo Tripoli, que não é considerado do grupo "covista" dentro do PSDB. Vereadores e até secretários avaliam que o ex-deputado não tem conseguido manter um diálogo "fluido" com a Câmara Municipal e por isso pode ser o primeiro substituído da gestão Nunes.

Ontem, em sua primeira agenda após ser efetivado no cargo após a morte de Covas, Nunes repetiu o discurso de que sua gestão é de continuidade.

"Não existe mudança ou alteração. Participei com o Bruno da formação desse governo. Não tem por que mudar", declarou o emedebista.