Ex-presidentes da América e Europa farão vigília por democracia brasileira
Uma vigília virtual em defesa da democracia brasileira deve reunir, no próximo fim de semana, cinco ex-presidentes e ex-primeiros-ministros da América Latina e da Europa ligados à esquerda, intelectuais e artistas. O ato é convocado pela frente suprapartidária Direitos Já, fórum que reúne líderes de 14 siglas brasileiras, com a intenção de servir como plataforma para novos atos pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro nos próximos meses.
A vigília tem presença confirmada dos ex-presidentes Julio Maria Sanguinetti (Uruguai, de 1985 a 1990 e 1995 a 2000), Ricardo Lagos (Chile, 2000-2006), Ernesto Samper (Colômbia, 1991-1998), José Luis Zapatero (Espanha, 2004-2011) e o ex-primeiro-ministro Massimo D'Alemo (Itália, 1998-2000), além de parlamentares e ativistas de países como Estados Unidos, Chile e Argentina.
O ato terá sua abertura com um painel de duas horas nesta quarta-feira (15) - Dia Internacional da Democracia no calendário oficial das Nações Unidas -, mas, nos dias 18 e 19, fará uma virada com 30 horas de apresentações. Há desde intelectuais como o linguista e sociólogo Noam Chomsky e o cientista político Steven Levitsky, professor da Universidade de Harvard, até atletas e artistas brasileiros como Marisa Orth, Chico Cesar e Titãs.
Segundo a organização da vigília, além de atrair atenção internacional para a oposição ao governo Bolsonaro, a intenção do ato é aumentar a articulação com movimentos e líderes partidários nas campanhas pelo impeachment. A maior parte da programação foi transferida para o fim de semana para garantir mais audiência à maratona.
No dia 15, após a abertura, líderes de ao menos dez partidos farão uma reunião para debater os rumos da mobilização que pede a saída do presidente. Após os atos do último dia 12, há mais duas manifestações contra Bolsonaro agendadas, nos dias 2 de outubro e 15 de novembro.
O coordenador do Direitos Já, Fernando Guimarães, deve usar a abertura do evento para fazer uma convocação para uma reunião na próxima sexta-feira (17) com o maior número de entidades possível. Ele e outras lideranças tentam viabilizar, para novembro, um protesto com presença de todos os movimentos e partidos que pedem a saída de Bolsonaro, da esquerda à direita. Para alguns setores, uma aliança entre grupos que estiveram em lados opostos na campanha pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), há cinco anos, ainda é um tabu.
"É hora de todos aqueles que têm responsabilidade democrática estejam unidos, sem disputa de protagonismo", disse Guimarães. "O ato dos dias 18 e 19 é uma sinalização de que essa construção de frente ampla já existe: temos 14 partidos representados, inúmeros movimentos da sociedade civil, que dialogam com todos os campos da sociedade brasileira. E é preciso também uma articulação internacional, para que o Brasil esteja sob olhar atento de lideranças políticas e organizações que zelam pela democracia no planeta."
Os desafios para a formação da frente ainda são grandes. Pesquisa realizada domingo, na Avenida Paulista, durante o protesto convocado pelo Movimento Brasil Livre (MBL), Vem Pra Rua e Livres, mostra que 38% dos ativistas presentes não aceitariam participar de uma manifestação ao lado do PT. Levantamento do Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Escola de Comunicações e Artes da USP, mostra forte apoio (85%) à ideia de uma frente ampla contra Bolsonaro, mas também a resistência de parcela significativa (38%) que se recusa a participar de atos com o PT.
O movimento Direitos Já! foi lançado há dois anos e, desde então, tem realizado eventos sob o tema da defesa da democracia. Em junho do ano passado, um ato do grupo chegou a reunir, também num evento virtual, figuras como Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Marina Silva (Rede), Fernando Haddad (PT), Luciano Huck e Guilherme Boulos (PSOL) na mesma bandeira de defesa da democracia.
A reunião desta quarta-feira (14) terá representantes de PSB, PDT, PSD, PSOL, PT, Rede Sustentabilidade, Podemos, PSDB, PV, DEM, PL, Cidadania, MDB e PSL. Será o primeiro ato presencial do movimento após o início da pandemia, em 2020, e deve adotar protocolos sanitários contra a covid-19.
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