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Eleição para governador na Bahia vira laboratório da disputa nacional

21.set.2021 - O ministro da Cidadania, João Roma - Reila Maria/Câmara dos Deputados
21.set.2021 - O ministro da Cidadania, João Roma Imagem: Reila Maria/Câmara dos Deputados

Vera Rosa

Em Brasília

11/03/2022 07h46Atualizada em 11/03/2022 08h45

A disputa pelo governo da Bahia se transformou em laboratório do que pode ocorrer no cenário nacional, com um jogo de traições entre partidos do Centrão, além de divórcios na seara do PT. O vice-governador da Bahia, João Leão (Progressistas), está disposto a romper com o PT de Luiz Inácio Lula da Silva e se aliar ao ex-prefeito de Salvador ACM Neto, candidato ao Palácio de Ondina pelo União Brasil e favorito nas pesquisas.

Apesar dos apelos do senador Jaques Wagner (PT-BA), que chegou a pedir desculpas a Leão por ter anunciado uma composição na Bahia sem levar em conta o interesse do antigo aliado de ficar os últimos nove meses do ano à frente do governo, não houve acordo. "Leãozinho, me desculpe. Estou aqui para conversar", disse Wagner.

Foram várias as negociações a portas fechadas, no Palácio do Planalto e no Congresso, mas não houve sinal de fumaça para o PT de Lula. Pela estratégia definida no gabinete do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira - coordenador da campanha do presidente Jair Bolsonaro à reeleição -, Leão deve ser candidato ao Senado pelo Progressistas, na chapa de ACM Neto.

Lula e o governador da Bahia, Rui Costa (PT), ainda vão tentar demovê-lo da ideia, nos próximos dias. No Planalto, porém, a separação é tratada como favas contadas. Se assim se confirmar, o partido de Ciro Nogueira e do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), ficará com Bolsonaro - e não com Lula - na Bahia. Trata-se do quarto maior colégio eleitoral do Brasil, só perdendo para São Paulo, Minas e Rio.

O movimento não para aí. Pré-candidato ao governo baiano, o ministro da Cidadania, João Roma, está a um passo de se desfiliar do Republicanos, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, para ingressar no PL de Bolsonaro. A estratégia foi discutida em gabinetes do Planalto, na esteira de uma articulação política que prevê a construção de palanque para o presidente enfrentar Lula na Bahia.

Apoio

Mesmo com importante ala do Centrão indo na sua direção, ACM Neto se recusa a dar apoio explícito a Bolsonaro, uma vez que Lula lidera todos os levantamentos de intenção de voto e tem seu melhor desempenho no Nordeste. "Nós teremos um palanque aberto na Bahia porque contamos com o apoio de vários partidos", desconversou o deputado Elmar Nascimento (BA), líder do União Brasil na Câmara e aliado de Neto.

Na outra ponta, o problema para Roma e para Bolsonaro é que o Republicanos não pretende apoiar oficialmente nenhum candidato à Presidência. Até agora, tudo caminha para que o partido libere diretórios regionais na campanha e invista na eleição dos deputados federais. Não sem motivo: a divisão do dinheiro dos fundos Partidário e de financiamento eleitoral leva em conta o tamanho das bancadas na Câmara.

Diante desse cenário, a alternativa para o impasse é a filiação de Roma ao PL, comandado por Valdemar Costa Neto. As tratativas já provocaram divergências entre aliados do governo porque a cúpula do Republicanos se sente desprestigiada na Esplanada e avalia que sofre ataque especulativo, por parte do PL, sob orientação do presidente.

Como efeito colateral dessas idas e vindas, o presidente do PL na Bahia, José Carlos Araújo, não só renunciou ao cargo como entregou sua carta de desfiliação. Argumentou que o partido havia garantido a aliança com ACM Neto e descartou a possibilidade de trair o compromisso para apoiar Roma no PL e dar palanque a Bolsonaro.

Roma foi chefe de gabinete de ACM Neto na prefeitura de Salvador, entre 2013 e 2018. Elegeu-se deputado com o aval de Neto, mas se distanciou do padrinho político após ser nomeado ministro da Cidadania, há um ano.

Imbróglio

No Palácio de Ondina, a ira de João Leão chegou às redes sociais, provocou impacto na chapa do PT e pode ter reflexos na campanha de Lula. O imbróglio ocorreu porque Jaques Wagner desistiu da candidatura ao governo e fez um arranjo pelo qual Rui Costa não sairá para concorrer ao Senado, como previsto, ficando no cargo até o fim da gestão. Com isso, o vice Leão - que já estava até convidando amigos para a posse - não assumirá a cadeira de governador, como gostaria.

A confusão teve início após Otto Alencar (PSD) se recusar a ser candidato ao governo da Bahia, com respaldo do PT, no rastro da desistência de Wagner. Otto é desafeto de Leão e vai disputar novo mandato no Senado. "Se eu fosse candidato a governador, havia risco de ganhar", ironizou o senador.

A equação para a montagem das alianças na Bahia ainda pode causar estragos ao PT, que planeja lançar o secretário da Educação, Jerônimo Rodrigues, ao Palácio de Ondina. "Quando o Lula desembarcar na Bahia, acaba essa falsa novela", amenizou Wagner. "É por isso que o ACM Neto quer que o Lula mande um beijinho para ele."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.