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Bolsonaro envia secretário especial para tratar de armas no Iraque

O almirante Flavio Rocha, secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República - Divulgação/TCE-MG
O almirante Flavio Rocha, secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República Imagem: Divulgação/TCE-MG

Felipe Frazão

Do Estadão Conteúdo

17/05/2022 14h48Atualizada em 17/05/2022 15h30

O almirante Flávio Rocha, secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, embarca nesta quarta-feira, 18, para uma viagem ao Iraque. Além do petróleo, a visita tem interesse comercial direto da indústria de Defesa nacional, que anseia ampliar a venda de equipamentos bélicos àquele país. O governo de Jair Bolsonaro (PL) também se movimenta para estreitar os laços de empresas de armas leves com os iraquianos.

O governo do Iraque tem procurado novos parceiros para aquisição de armamento. No mercado internacional sabe-se do desejo daquele país de equipar sua força policial com armas leves. Empresas como Taurus e CBC, a primeira fabricante de armas, a segunda, de munições, podem se credenciar para este mercado.

Além do Iraque, a missão chefiada pelo almirante Rocha irá a Marrocos, Egito, Emirados Árabes, Omã, Kuwait, Bahrein, Qatar e Arábia Saudita. A viagem começa nesta quarta-feira e dura até o dia 7 de junho. No final do circuito pelo Oriente Médio, a delegação brasileira vai passar por Hungria e República Tcheca, dois países com quem o governo Bolsonaro mantém boas relações.

Área econômica

A viagem é vista com reservas pela área econômica do governo. A equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, gostaria que o governo desse prioridade neste momento a contatos com países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Mas o Planalto considera que a visita não teria implicações diplomáticas já que boa parte dos países atualmente tem interesse em fazer negócios com o Iraque.

Atualmente, as importações brasileiras do Iraque se restringem ao petróleo. As exportações são concentradas em açúcar e carnes de aves, bovina e de animais vivos. Na década de 1980, o Brasil teve o Iraque como um dos principais compradores de veículos militares fabricados pela Engesa, como o Urutu e o Cascavel. O Brasil também comercializou foguetes Astros e ainda haveria lançadores brasileiros antigos que demandam modernização, assim como os veículos militares.

A possibilidade de o próprio presidente Jair Bolsonaro participar dessa visita chegou a ser discutida no Palácio do Planalto. Nesse caso, a viagem se transformaria em visita de Estado, e certamente haveria uma agenda com o primeiro-ministro iraquiano, Mustafa al Kadhimi.

No fim do ano passado, Bolsonaro planejou a visita a Bagdá, mas a ideia foi abortada, entre outros motivos, por falta de segurança. Às vésperas da missão brasileira, o primeiro-ministro foi alvo de um atentado com drones. Ele escapou do ataque a sua residência.

Na ocasião, Bolsonaro ficou quase uma semana fora do Brasil. Ele passou pelo Oriente Médio em novembro e visitou Bahrein, Qatar e Emirados Árabes Unidos. A promoção de material bélico fabricado no Brasil foi um dos pontos altos do tour pelos países árabes.

No Planalto, o contato mais próximo de Bolsonaro com líderes do Iraque e de países em conflito é considerado valioso diplomaticamente por causa da presença do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Ele já esteve duas vezes em nações árabes do Oriente Médio, e uma em Israel.

Depois de uma aproximação ideológica na campanha de 2018, o presidente buscou equilibrar as relações com os árabes, por receio de retaliações comerciais ao reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel, com a promessa nunca concretizada de transferência da embaixada brasileira, que permanece em Tel Aviv. Bolsonaro também avalia oportunidades de vista a países como o Kuwait, entre outros. Os países da região buscam desenvolvimento agrícola e diversificação das respectivas economias.

Parceiro histórico

O Iraque é considerado parceiro histórico do Brasil e, no ano passado, o premiê Kadhimi acertou com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o fim da participação de tropas americanas em confrontos no país, onde lutam contra o Estado Islâmico. Presentes desde a invasão em 2003, quando derrubaram o ditador Saddam Hussein, os militares americanos, também parceiros das Forças Armadas no Brasil, continuarão prestando auxílio e treinamento ao Exército iraquiano.

A maior parte das agendas tem sugestão da Secretaria de Produtos de Defesa, do Ministério da Defesa, em discussão com a Secretaria de Assuntos Estratégicos. Numa estratégia comercial, o atual secretário de produtos de Defesa, Marcos Degaut, será o próximo embaixador do Brasil em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes.

Questionados sobre a ida ao Iraque, a Secretaria Especial de Comunicação Social disse não ter informações sobre a agenda. A Secretaria de Assuntos Estratégico e o Ministério da Defesa não responderam.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.