Carla Araújo

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Reportagem

Nova cirurgia fragiliza Lula para 2026 e evidencia falta de sucessor

A tensão inicial que envolveu a cirurgia de emergência do presidente Lula na madrugada de ontem foi substituída nas primeiras horas após a internação pela tentativa de ministros e assessores de passar a imagem de que "o presidente está ótimo".

Nos bastidores, porém, houve quem admitisse que é inevitável pensar que Lula —hoje com 79 anos— precisa planejar melhor a sua sucessão.

Auxiliares de Lula dizem que o senso de finitude já está na cabeça do presidente, mesmo que em público Lula prefira reforçar sua virilidade e vigor para comandar o país. Pessoas próximas garantem que a cabeça do presidente segue a mil, mas o corpo muitas vezes não aguenta, o que é natural para a idade, mesmo com os exercícios diários que ele pratica no Alvorada pela manhã.

O posicionamento de passar a imagem de vitalidade é visto como estratégico. Depois de eleito, Lula passou a repetir que concorrerá à reeleição se estiver bem de saúde. O atual cenário político —com a direita e o centrão em alta—, porém, fragilizam o atual presidente para 2026.

Com o PT no divã, aliados do presidente admitem que será preciso colocar o debate da sucessão —ao menos internamente— o quanto antes na mesa.

Se chegar no momento, sabe, e estiver uma situação delicada e eu estiver com saúde... porque também só posso ser candidato se eu estiver com saúde perfeita, sabe? Mas saúde perfeita com oitenta e pouco, 81 de idade, energia de 40 e tesão de 30. Pronto, aí eu posso [ser candidato].
Lula, em março de 2023, com três meses no cargo

Alianças em jogo e a força da direita

Se, mesmo inelegível, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem dito que será candidato à Presidência em 2026 e evita que seu partido e aliados alimentem outros nomes, como o do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o mesmo acontece no entorno de Lula.

As especulações passam, a princípio, pela escolha de um vice para a chapa de 2026. Aliados dizem não querer "nem pensar" em não ter o presidente na disputa, por entenderem que ele é o único nome forte, no momento, a derrotar um possível candidato da centro-direita.

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Há diversas ideias na mesa: a manutenção do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB); o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), pupilo de Lula e candidato derrotado por Jair Bolsonaro (PL) em 2018; ou um nome do MDB, como os ministros Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) e Renan Filho (Transportes) ou o governador do Pará, Helder Barbalho.

Entre os que dizem que o PT não pode abrir mão de manter a sucessão de Lula dentro do partido, citam ainda o ministro da Educação, Camilo Santana, e até a atual presidente petista, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), apontada por alguns como uma "nova Dilma".

Haddad segue como preferido, embora argumentem que lhe faltaria carisma e força nacionalmente. O presidente teria, então, alguns anos para prepará-lo melhor. Toda sua popularidade seria fiada, ainda, nos resultados econômicos do governo (e, por que não, de um certo aval do chamado mercado, que não gosta de Lula).

Muitos falam já em João Campos (PSB), prefeito do Recife, como possível herdeiro. Aos 31 anos, no entanto, ele é um nome que só começaria a esquentar a partir de 2034, depois de já ter passado pelo governo de Pernambuco.

Se episódios de saúde antecipam os debates nos corredores, evidenciam também esta falta de nome à altura que petistas admitem sem reserva nos corredores. Mais uma vez, tanto o partido quanto a ala de esquerda e centro-esquerda não têm um nome forte nacionalmente sem o atual presidente.

Janja ao lado o tempo todo

A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, acompanhou o presidente Lula desde os primeiros momentos de sua internação e da sua transferência para São Paulo.

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Janja, que é bastante ativa nas redes sociais, fez uma postagem na tarde de ontem para tentar fazer coro a intenção de acalmar rumores sobre a saúde de Lula e disse que a "angústia deu espaço para a tranquilidade".

Em julho, numa agenda em Osasco (SP), Lula comentou sobre as comparações que estavam sendo feitas entre ele e o presidente norte-americano, Joe Biden, que desistiu de concorrer à reeleição em razão de sua idade e lapsos em debates.

Ao afirmar que está bem de saúde e com disposição, o presidente tentou reforçar o discurso de virilidade.

Quem acha que o Lulinha está cansado, pergunta pra Janja. Ela é testemunha ocular.
Presidente Lula em evento em SP, em julho

No evento, Lula estava ao lado de Camilo Santana e de Fernando Haddad, dois correligionários e cotados para virem a ocupar a vaga de sucessor do fundador do PT e três vezes presidente da República.

Lula quer despachar 'normalmente'

Nas primeiras horas após a cirurgia, assim que acordou, Lula afirmou que queria "despachar normalmente" assim que possível.

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Em entrevista na manhã de ontem, porém, o médico Roberto Kalil afirmou que o presidente estava "tranquilo" e "nada de trabalho por enquanto".

Segundo os médicos, a previsão é que ele retorne a Brasília no começo da semana que vem. "Tudo depende dessa evolução, um dia a mais ou um dia a menos, mas a previsão é que o presidente esteja em Brasília na semana que vem", afirmou Kalil.

O vice-presidente Geraldo Alckmin substituiu Lula em parte dos compromissos de ontem, mas a aposta inicial no Palácio do Planalto é que Lula não pedirá uma licença enquanto estiver internado em São Paulo e apenas solicitará ao seu vice que compareça aos compromissos presenciais que julgar necessário.

A lei brasileira prevê a substituição do presidente da República "no caso de impedimento ou vaga". Se Lula estivesse inconsciente, por exemplo, a avaliação de fontes da área jurídica é que aí, sim, ele teria que ser oficialmente substituído.

"O vice-presidente da República, além de outras atribuições que lhe forem conferidas por lei complementar, auxiliará o presidente, sempre que por ele convocado para missões especiais", diz o parágrafo único do artigo 79 da Constituição, que trata sobre o tema.

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