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Lojas restringem acesso e usam grades após saques na região da Cracolândia

Gonçalo Júnior, Ítalo Lo Re e Davi Medeiros

São Paulo

11/04/2023 07h03

A poucos metros da esquina das Avenidas Ipiranga e São João, a mais famosa da cidade, na região central, funcionários do minimercado Extra instalaram uma grade de contenção na entrada principal. Isso só permite a entrada de um cliente por vez. Essa é a medida de segurança mais visível depois que o estabelecimento foi saqueado por grupos de dependentes químicos da Cracolândia, agora localizada na região da Santa Ifigênia, na sexta, 7.

A unidade da Drogaria SP localizada na esquina da Avenida São João com a Rua Vitória, também alvo de um "arrastão", abriu apenas parcialmente na manhã desta segunda-feira, 10. Das três portas do estabelecimento, apenas uma estava aberta. Tanto na farmácia como no minimercado, os funcionários mantêm o silêncio como forma de precaução e evitam relatar quais produtos foram roubados.

Após os episódios do fim de semana, cada estabelecimento busca a própria solução de segurança, com medo de novos saques. Os arrastões ocorreram depois de uma ação de zeladoria da Prefeitura de São Paulo para remover lixo e desmontar as tendas usadas para o tráfico de drogas, de acordo com a polícia, na área conhecida como "fluxo", que reúne grande número de usuários e atualmente se localiza entre as Ruas Conselheiro Nébias e dos Gusmões.

Medo

Imagens de câmeras de segurança mostram o momento do saque. Uma grande quantidade de pessoas entra de forma desorganizada, levando tudo o que consegue. Neste domingo, 9, usuários de drogas invadem uma lanchonete na altura do 450 da Avenida Rio Branco e tentam furtar uma televisão, uma chapa de lanche e um computador. Policiais afirmaram que os objetos permaneciam no local.

Até os estabelecimentos que escaparam do vandalismo também estão precavidos. No Bar e Lanches Pombalense, os funcionários são orientados a baixar as portas ao primeiro sinal de aglomeração, como conta o gerente Eduilson Dantas, que trabalha no local há seis anos. O toldo, normalmente usado para os dias de chuvas, é usado permanentemente para proteger os clientes que preferem as mesas nas calçadas. O local estava fechado no feriado.

Moradores da região central afirmam que estão mudando seus hábitos pessoais e profissionais e evitam sair de casa nos horários da ação da Prefeitura no fluxo, por volta das 8h (manhã) e 15h (tarde). Eles contam que essa dinâmica costuma espalhar os usuários. Além disso, relatam a atuação dos assaltantes de bicicleta, a chamada "gangue das bikes", durante a dispersão do fluxo. "Eu evito sair de casa nesses horários e, quando saio, coloco o celular dentro da meia e dentro do top", conta uma moradora. Iézio Silva, presidente da Associação de Moradores e Comerciantes de Campos Elísios, chama a atenção para os receptadores. "Temos dezenas de depósitos de ferro-velho que compram qualquer coisa, inclusive de madrugada. Isso também precisa ser fiscalizado", afirma.

Roubo

Na manhã desta segunda-feira, o Estadão chegou poucos minutos depois de uma viatura da PM a uma loja da Oxxo, no Largo do Arouche, que havia acabado de sofrer uma tentativa de assalto. Não foi um arrastão. De acordo com o gerente Madson Wilker, um casal tentou roubar quatro barras de chocolate ao leite Nestlé. Ele e o segurança conseguiram impedir o assalto. Madson ainda estava ofegante quando relatou o episódio que, segundo ele, é frequente na região central. "A gente sabe quando sai de casa, mas não sabe se vai voltar", afirmou.

As gestões do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do prefeito Ricardo Nunes (MDB) anunciaram planos para resolver o problema da Cracolândia.

Estratégia é 'caminho certo' e saques são reação do tráfico, diz secretário

As invasões e saques em uma drogaria e um mercado na Avenida São João, no centro de São Paulo, na sexta-feira, são a reação do tráfico de drogas à estratégia da Prefeitura na região da Cracolândia. Além disso, apontam que o poder municipal está no "caminho certo" na forma de atuar na maior concentração de dependentes químicos da região central da cidade.

A avaliação é feita por Alexis Vargas, secretário executivo de Projetos Estratégicos da Prefeitura de São Paulo. "Os saques mostram que estamos mexendo com a economia da Cracolândia e que a estratégia está no caminho certo", afirmou o secretário. "Esses saques são a resposta do crime organizado às iniciativas do poder público, que tem conseguido reduzir o comércio de drogas na região", disse Vargas.

Para minimizar os transtornos causados, ele também prometeu uma "presença forte e robusta" do policiamento. A Secretaria Municipal de Segurança Urbana informou que intensificou o patrulhamento comunitário e preventivo, ampliando o número de viaturas e motos em pontos estratégicos, sendo 90 agentes a mais nas ruas, além dos 80 guardas e 20 viaturas da Inspetoria de Operações Especiais (IOPE) que já atuam no território. De acordo com Prefeitura, a região conta com mais de 500 agentes da GCM.

A polícia ainda investiga o que levou aos saques nos estabelecimentos no centro, mas algumas hipóteses já são descartadas. Na avaliação de investigadores do Denarc, setor focado em reprimir o narcotráfico, os episódios não têm relação com o avanço da maconha sintética nas ruas. A polícia aguarda as imagens internas dos estabelecimentos para a identificação de mais envolvidos. "Por essas imagens, vamos tentar localizar e identificar os autores do crime", disse o delegado Alexandre Dias, titular do 3.º Distrito Policial.

Estado

O governo de São Paulo inaugura nesta terça-feira, 11, o Hub de Cuidados com Crack e Outras Drogas, nova medida para tentar conter a Cracolândia no centro da capital paulista. Trata-se de uma "repaginação" do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), localizado próximo a um fluxo de dependentes químicos no Bom Retiro. O local foi ampliado e terá capacidade de realizar 700 atendimentos clínicos e 6 mil atendimentos por mês.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.