Assessoras de Anielle ironizam CBF em avião da FAB e provocam torcida do SP
O Ministério da Igualdade Racial anunciou nesta segunda-feira, 25, que vai abrir investigação para apurar a conduta de assessoras da ministra Anielle Franco a partir de publicações nas redes sociais de fotos dentro de um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) e imagens no estádio durante jogo do Flamengo contra o São Paulo pela Copa do Brasil, no último domingo
Em postagens no Instagram, às quais o Estadão teve acesso, as servidoras debocham da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), provocam a torcida do São Paulo, abrem uma camisa do Flamengo no meio da torcida adversária e ironizam a derrota do time carioca segurando uma pasta com protocolo do governo federal.
"O Ministério da Igualdade Racial declara que recebeu a informação a respeito da postagem das servidoras em perfil privado de rede social e que, ainda que as postagens tenham sido feitas em momento de descontração, fora dos ritos institucionais e de tom informal, o caso será submetido às instâncias internas de investigação para apuração da conduta das servidoras", informou a pasta em nota enviada ao Estadão.
Nesta segunda-feira, a ministra Anielle Franco, que é flamenguista, foi alvo de críticas por ter utilizado avião da FAB para viajar de Brasília a São Paulo para acompanhar a final da Copa do Brasil. A ida ao estádio ocorreu devido à assinatura de um protocolo do governo federal em parceria com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para combater o racismo no esporte. Anielle também participou da entrega das medalhas aos jogadores de São Paulo e Flamengo após o jogo.
O Estadão apurou que funcionários do Ministério da Igualdade Racial já tinham alertado outras vezes o alto escalão da pasta a respeito da necessidade de manter a formalidade em agendas relacionadas ao órgão, por temer inclusive incertas da Controladoria-Geral da União (CGU) .
Em seus stories do Instagram, a chefe da Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos da pasta, Marcelle Decothé, fez diversas publicações sobre o jogo. Em uma delas, Marcelle aparece ao lado de outra pessoa enquanto faz um gesto obsceno no meio da torcida do São Paulo, com a legenda "Disfarçadas". Depois, em outra publicação segurando a camisa do Flamengo, Marcelle critica a diretoria do clube:
"Independente da diretoria fascista, dos pau no koo que acha que merece vestir a camisa desse clube, pra sempre Flamengo. Não importa onde esteja, sempre estarei contigo!", escreveu.
A mesma foto de Marcelle com a camisa do Flamengo foi publicada pela assessora especial de comunicação estratégica da pasta, Luna Costa. Na publicação, Luna debocha do fato de Marcelle ter exposto a camisa do Flamengo na torcida do clube adversário.
"Marcelle brincando com o perigo abrindo a camisa do Flamengo no meio da torcida do São Paulo", diz a publicação.
Luna também publicou outra imagem na qual Marcelle aparece carregando uma pasta do governo federal na qual estaria o protocolo assinado pela ministra Anielle Franco para combater o racismo no esporte.
"Realidade - derrota do flamengo + saindo andando com o protocolo de intenções do Gov Federal na mão + tentando achar transporte + gás lacrimogêneo + olho e boca ardendo", escreveu na legenda.
Em outras publicações, as assessoras também brincam dentro do avião da Força Aérea Brasileira. Marcelle Decothe ironiza o fato de suas colegas vestirem camisas da seleção brasileira.
"30 segundos de diálogo com a CBF, já viraram patriotas. Prontas pro cancelamento", afirma na publicação na qual aparecem Rithyele Dantas, chefe da assessoria de comunicação de Anielle, e Luna Costa.
Newsletter
PRA COMEÇAR O DIA
Comece o dia bem informado sobre os fatos mais importantes do momento. Edição diária de segunda a sexta.
Quero receberEm mais um post de Marcelle, Luna aparece com os braços para cima com a legenda "Depois da quinta final perdida pelo Flamengo, meu time agora é o Brasil".
O Estadão questionou a pasta sobre o comportamento das assessoras, mas não obteve resposta até o momento.
'Violência política de gênero'
Embora tenha viajado para cumprir agenda oficial, a ida da ministra Anielle Franco para a final da Copa do Brasil tem gerado críticas nas redes sociais. O ministro dos Esportes, André Fufuca, também viajou para o jogo em um avião da FAB. Como a Coluna do Estadão revelou, o ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, compareceu ao mesmo evento, mas foi até São Paulo em um voo comercial.
"É inacreditável que uma ministra seja questionada por ir fazer o seu trabalho de combate ao racismo e cumprir o seu dever. Vemos que as noções estão invertidas quando avançamos em um acordo histórico de enfrentamento ao racismo e somos criticados por isso. O que de fato incomoda?", questionou Anielle em uma publicação no "X", antigo Twitter.
Segundo a ministra, as ações de combate ao racismo no esporte estão sendo desenhadas desde fevereiro e classificou o caso como um episódio de desinformação e violência de gênero:
"Importante reconhecer que práticas de desinformação, manipulação da verdade e a divulgação de noticias falsas configuraram violência política de Gênero e Raça, na tentativa de impedir o nosso trabalho. Não são ataques à este ministério ou a mim, mas ao povo brasileiro", escreveu.
Plano contra racismo no esporte
No Morumbi, Anielle assinou um protocolo em parceria com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para colocar em prática ações contra o racismo no futebol. Em agosto, o governo lançou o primeiro relatório feito por um grupo técnico para desenhar o plano de ação do Governo Federal de combate ao racismo nas áreas de esporte e lazer.
O relatório de 22 páginas prevê, entre outras medidas, que seja feita formação com atletas, árbitros e familiares a respeito do tema. Também inclui a realização de seminários e publicações de cartilhas com abordagem sobre o racismo no esporte.
O plano do governo federal prevê ainda a realização de campanhas em eventos esportivos. Na final da Copa do Brasil neste domingo, 24, por exemplo, foram exibidos dizeres como "Com racismo não tem jogo". O governo também promoveu divulgação do Disque 100, que recebe denúncias de violações de direitos humanos.
O projeto é organizado em eixos: Dados e estudos para diagnósticos; Entidades esportivas; Atletas; Torcida; Acesso à Justiça; Lei de Incentivo ao Esporte; Comunicação; Esporte educacional, esporte amador e lazer.
As medidas incluem oferta de tratamento psicológico para atletas, editais para fomentar a produção de mosaicos antirracistas, parceria com torcidas organizadas para ações de combate ao racismo. Outro ponto abordado é a criação de um selo e um prêmio para entidades esportivas com práticas antirracistas.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.