Por que governo Lula estuda rever estratégia na greve das universidades federais?

Com quase dois meses de greve, a mobilização das universidades e institutos federais tem preocupado o governo federal, que tem sofrido pressões de suas bases. Segundo aliados ouvidos pela reportagem do Estadão, a avaliação é de que o movimento grevista gera desgastes para o Planalto.

Os professores de 54 das 69 universidades federais brasileiras seguem em greve, que teve início há 55 dias. Docentes de cinco IFs (institutos federais) e três CEFETs (Centros Federais de Educação Tecnológica) também se somam à paralisação.

Já foram feitas sete rodadas de negociação especificamente com o setor de educação (que engloba, além dos docentes, os servidores técnico-administrativos), mas não houve consenso entre os docentes e o governo federal.

Nesta segunda-feira, 10, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou recursos para tentar aplacar as reivindicações. Em cerimônia no Planalto, o presidente e o ministro da Educação, Camilo Santana, anunciaram investimentos para as universidades federais no âmbito do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e para o orçamento de custeio das instituições federais.

A recomposição do orçamento é uma das reivindicações grevistas. Em seu discurso, Lula questionou a demora da greve e disse que as propostas feitas pelo governo não são recusáveis.

O governo estuda investir em soluções que não dependam diretamente de recursos financeiros, como a revisão de portarias e a estruturação da carreira, para tentar pôr fim à greve.

A avaliação é de que, nesse momento, é preciso avançar principalmente nas negociações com técnicos-administrativos, o que poderia resolver o impasse e finalizar a greve. O governo tem dito que chegou ao limite financeiro para ceder aos grevistas.

Uma das cartas na manga em análise é a possibilidade de reduzir o tempo para chegar no topo da carreira dos técnicos. Nesse sentido, há uma discussão de baixar de 24 anos para 18.

Outra possibilidade em estudo é propor a revisão da portaria 983, editada durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Desde então, o texto é amplamente criticado pelos docentes por ampliar a carga horária semanal de professores dos institutos federais. Esse tópico é uma das pautas de reivindicação da greve.

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A última proposta do governo não prevê reajuste em 2024, propõe 9% de aumento em janeiro de 2025 e 5,16% em maio de 2026. Os servidores rejeitaram a proposta e pedem recomposição das perdas salariais, com reajuste de 3,69% em agosto de 2024. Na semana passada, os servidores ameaçaram ocupar o prédio do Ministério da Gestão e Inovação, após a reunião de negociação ser encerrada sem nova data.

Após a pressão, o governo agendou uma reunião para terça-feira, 11, sobre a carreira dos técnicos administrativos, e outra para o dia 14 de junho, sobre a carreira docente. Nesta segunda-feira, durante o evento no Palácio do Planalto, servidores em greve protestaram na Praça dos Três Poderes.

"Os R$ 400 milhões o anunciados hoje vieram da mesa de negociação, que se tirou de outras áreas do MEC para o custeio, como uma das demandas atendidas do movimento sindical", afirmou o deputado Pedor Uczai (PT-SC), que tem participado das rodadas de negociação. "É evidente que o governo está preocupado."

O governo chegou a fechar um acordo com um dos sindicatos envolvido na greve, o Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e Tecnológico (Proifes), mas não conseguiu debelar o movimento.

Isso porque a greve tem ainda a participação do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN); o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe); e a Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (Fasubra). Todos esses rejeitaram a proposta governamental.

Após a assinatura do acordo do governo com o Proifes, apenas a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade Federal de Goiás (UFG) finalizaram a greve; esta última, no entanto, permanece com paralisação dos alunos.

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Após a tentativa frustrada de encerrar o movimento, a pasta da Gestão procurou parlamentares do PT para reduzir a tensão a relação com os grevistas e auxiliar nas negociações sindicais.

A orientação do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) foi para que as seções sindicais pedissem a suspensão dos calendários acadêmicos por tempo indeterminado. Algumas universidades atenderam integral ou parcialmente, outras ainda não deram um retorno sobre como ficarão as aulas e atividades acadêmicas.

Onde paralisação continua ocorrendo nas universidades federais*?

  • Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
  • Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB)
  • Universidade Federal do Ceará (UFC)
  • Universidade Federal do Cariri (UFCA)
  • Universidade de Brasília (UnB)
  • Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
  • Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)
  • Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
  • Universidade Federal de Viçosa (UFV)
  • Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
  • Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
  • Universidade Federal do Pará (UFPA)
  • Universidade Federal do Paraná (UFPR)
  • Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB)
  • Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa)
  • Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)
  • Universidade Federal de Rondônia (UNIR)
  • Universidade Federal de Roraima (UFRR)
  • Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ)
  • Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
  • Universidade Federal de Catalão (UFCAT)
  • Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB)
  • Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
  • Universidade Federal de Tocantins (UFT)
  • Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
  • Universidade Federal Fluminense (UFF)
  • Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
  • Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (UFAPE)
  • Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
  • Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
  • Universidade Federal da Bahia (UFBA)
  • Universidade Federal do ABC (UFABC)
  • Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
  • Universidade Federal de Campina Grande - Campus Cajazeiras (UFCG-Cajazeiras)
  • Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
  • Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)
  • Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS)
  • Universidade Federal do Acre (UFAC)
  • Universidade Federal de Lavras (UFLA)
  • Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR)
  • Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
  • Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)
  • Universidade Federal do Sergipe (UFS)
  • Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)
  • Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
  • Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA)
  • Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
  • Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
  • Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
  • Universidade Federal de Rondonópolis (UFR)
  • Universidade Federal do Piauí (UFPI)
  • Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
  • Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM)
  • Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

IFs:

  • Instituto Federal do Sul de Minas Gerais (IFSULDEMINAS) - Campus Pouso Alegre, Campus Poços de Caldas e Campus Passos
  • Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS)
  • Instituto Federal do Piauí (IFPI) SINDIFPI 60 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste-MG (IF Sudeste-MG) - Campus Juiz de Fora, Campus Santos Dumont e Campus Muriaé
  • Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul) - Campus Visconde da Graça
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CEFETs:

  • Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG)
  • Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ)
  • Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG)

'Não há muita razão para durar o que está durando', diz Lula

Nesta segunda-feira, durante o anúncio, o presidente fez um apelo para que os dirigentes sindicais avaliem as concessões já feitas pelo governo.

"O montante de recurso que a companheira Esther colocou à disposição é um montante de recursos não recusável. Quero que leve isso em conta... os alunos estão à espera de voltar à sala de aula", disse.

O presidente criticou ainda o tempo de demora da greve e disse que em sua experiência como dirigente sindical muitas vezes partiu para o "tudo ou nada" e ficou com "nada". Lula disse ainda que não se pode permitir que uma greve termine por "inanição".

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"Eu acho que nesse caso da educação se analisar no conjunto da obra vão perceber se não há muita razão para essa greve estar durando o que está durando, porque quem está perdendo não é o Lula, o reitor, que está perdendo é o Brasil e os estudantes brasileiros", afirmou.

*Segundo o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes).

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