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Um mês após tremor, há sinais de vida nas ruínas de Amatrice

23/09/2016 17h56

AMATRICE, 23 SET (ANSA) - Todas as manhãs, Vinicio Bizzoni atravessa uma pilha de escombros encharcados de água e abre sua oficina na piazza Sagnotti, em Amatrice, onde fabrica esquadrias. Mas, infelizmente não há mais edifícios onde colocá-las.   

"Sinceramente, eu não sei como será meu futuro, tudo mudou. O afeto, as relações entre as pessoas, o trabalho. É muito difícil, mas eu tenho fé. Vou continuar trabalhando, senão o que eu vou comer?", diz.   

30 quilômetros vale abaixo, Grisciano, Giampiero e Chiara reabriram o restaurante "Velha Roda": há diversos rostos cansados de trabalhadores que estão de pé desde as 5h da manhã e de voluntários e caminhoneiros de passagem pela antiga estrada Salaria. Um prato e um acompanhamento por 10 euros; com dois, por 13. "Os preços eram estes e assim permanecem. Recomeçamos, mas se não tivessem nos dado um contêiner teríamos sido forçados a fechar novamente", afirmam os sócios.   

Um mês depois do terremoto, caminhar pelas ruas de Amatrice, Accumoli e Arquata del Tronto causa sempre a mesma sensação.   

Sinais de vida brotam aqui e ali, entre as barras de ferros enferrujados e as memórias submersas nos escombros, pelo menos até quando a chuva não parar.   

Os problemas são muitos, e manter as comunidades unidas é uma tarefa difícil. A noite cai, e com ela chega o duro frio nas tendas, o tráfego é bastante complexo, os escombros ainda estão nos mesmos lugares onde ficaram após o tremor. Um imenso monumento ao horror, que força os vivos a enxergarem mortos a cada instante.   

E o turismo, responsável por boa parte da economia das áreas atingidas, é uma memória distante, na qual hoje poucas pessoas querem pensar. No entanto, toda a área está repleta de fazendas, hotéis, pontos turísticos, locais para caminhadas e passeios a cavalo, o que é mais um desafio. Além de reconstruir as cidades, será necessário atrair de volta os turistas.   

No entanto, há quem tente recomeçar. Embora seja difícil.   

Diversos comitês espontâneos surgem entre os cidadãos, porque unidos todos são mais fortes. Artesãos pedem a reconstrução das áreas atingidas para que eles consigam reabrir lojas e oficinas, enquanto os agricultores se organizam. Alguns campos de acolhimento começam a ser fechados no fim deste mês, mas ainda há muitos desalojados.   

Sergio Pirozzi, prefeito de Amatrice, diz que "não é mais uma situação controlável". Mas não é tão simples assim enviar as pessoas a hotéis ou residências secundárias. Porque muitos têm medo de nunca mais voltar. E acima de tudo, que a política não esqueça as promessas feitas, deixando a sobrevivência se transformar em uma longa agonia.   

Emidio Chiappini é proprietário do supermercado "Tigre", em Amatrice. "Eu não quero sair, somos cinco sócios, oito famílias, 15 pessoas com filhos entre três e 30 anos. Vamos reconstruir e continuar a trabalhar aqui, este lugar tem um potencial enorme, que a política nunca entendeu. Mas eles vão nos ajudar", diz.   

Já Simona Paoletti tem uma loja de roupas. "Eu sou comerciante há 20 anos, se a economia se recupera, todo o território recomeça. É preciso ter um modo de manter as famílias aqui, mas é duro. Os dias passam, e você percebe que perderam tudo, os sacrifícios de uma vida desapareceram em apenas um instante.   

Precisamos de uma mão".   

Pescara del Tronto, distrito de Arquata del Tronto, é ainda uma enorme pilha de escombros. Os sobreviventes escoltados pelos bombeiros tentam recuperar o que restou. Uma procissão triste e quase sempre sem sucesso. O silêncio entre as casas é impressionante. Quatro pombos vagam em busca de comida, como se fossem urubus. 100 metros mais abaixo, na estrada Salaria, o campo criado para os desalojados fechará até o fim da semana.   

Elisa Filipponi olha para o memorial criado pela polícia, um suporte de árvores sustentado por escombros, coberto com a bandeira da Itália. "Este monumento nos dá esperança para um novo começo. Tudo o que fazemos é para aqueles que ficaram, e esperamos que nossos esforços não sejam em vão." O entulho é um problema sério porque estamos falando de cerca de 700 mil metros cúbicos de ruínas. E mesmo neste caso, não é coisa simples, graças à costumeira e obtusa burocracia. Amatrice e Accumoli têm alguns locais escolhidos para receber os escombros (duas pedreiras abandonadas), mas ainda não se sabe quem irá gerenciar a "limpeza".   

Os governos regionais de Marcas e Úmbria, no entanto, estão mais atrasados, ainda na fase de inspeções para a escolha dos locais.   

Assim, os escombros continuam no mesmo lugar.   

Em frente à igreja de Sant'Agostino, em Amatrice, as câmeras filmam sem parar. "Sabe o que é a coisa mais absurda?", pergunta Laura, enxugando uma lágrima. "Antes do terremoto, daqui, a torre [da igreja] não podia ser vista, havia os edifícios que a cobriam. Mas vocês não sabiam como era antes. É por isso que não choram". (ANSA)
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